Capítulo 8

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Esse moleque tá estranho.

Mitsuki percebeu faz alguns dias, mas nessa manhã, tá particularmente mais fácil de apontar que tem alguma coisa de diferente na bombinha gritadeira que é seu filho.

Pra começar que ele levantou mais tarde. Quando Katsuki vem passar as férias ou qualquer recesso escolar, é sempre 8 ou 80, ele passa os primeiros dias dormindo até meio dia se deixar — o que ela normalmente não deixa — e do nada passa a acordar super cedo pra treinar e correr atrás das coisas da cabeça bitolada dele que sabe Deus de quem esse menino puxou.

Ela poderia falar pra ele pegar leve, mas a peste nem ia escutá-la, ele se acha tão espertão, então deixa ele. Além disso, Mitsuki aprecia a diligência do filho, muitos de seus colegas de trabalho no passado reclamavam de filhos que não levavam os estudos tão a sério nem ajudavam tanto em casa quanto poderiam, mas ela nunca pôde reclamar nesse aspecto. As notas do garoto são perfeitas, e suas habilidades domésticas talvez sejam melhores que as dela própria, então realmente não dá pra dar bronca nele por esse tipo de coisa.

O grande problema é a falta de modos mesmo, moleque boca suja do caralho, parece que nada nunca adiantou nem adianta pra colocá-lo nos trilhos. Tá bem melhor do que costumava ser, é verdade, pelo menos ele conversa com um pouco mais de decência do que há uns dois anos, mas ainda podia ser melhor.

Deve ser por causa da U.A. e a educação que dão lá, não só os professores, que são bastante casca grossa, mas os colegas também.

Essa história de dormitório ajudou o menino a se aprumar bastante, conviver com um monte de gente diferente da mesma idade que quase nunca vai fazer o que ele quer do jeito exato que ele quer o fez crescer como gente, e Mitsuki deve muito à U.A. no fim, por isso que achou por bem contratar um ajudante esse ano ao invés de pedir pro Katsuki ajudá-la como sempre faz. Falta pouco pra ele se formar, e é melhor que esteja na melhor das condições quando voltar das férias.

Além disso, ele merece um descansinho. Mitsuki sabe o que acontece quando se extrapola o limite do que o corpo e a cabeça podem aguentar e não quer isso pra ele. Katsuki tem só 18 anos, já passou por muita coisa pra alguém tão novo e, escolhendo a profissão que escolheu, a tendência é piorar. Ele já é mais cismado que a maioria dos jovens nessa idade, então a função dela como mãe é aliviar o máximo que pode para seu filho.

A ajuda dele faz falta. Não que a Ochako não seja ótima, mas tem coisas que só Katsuki sabia fazer no tempo que ela precisava, fora que a obstinação dos dois jovens se apresenta de maneiras diferentes. Na garota é atrelada mais ao trabalho em si, ela quer fazer tudo certo porque é o certo como funcionária. Katsuki fazia tudo certo pra jogar na cara da mãe que ela jamais poderia reclamar dele. A energia da Ochako, nesse caso, é infinitamente melhor, mas Mitsuki entende o filho e aprecia esse jeito dele também, tê-lo como ajudante era... divertido, estressante de uma maneira mais saudável que a qual ela normalmente lida nessa indústria da moda.

De toda forma, acordando muito tarde ou muito cedo, Katsuki faz do ato sempre um evento, escovando os dentes como quem quer demolir os germes. É impossível não saber quando ele está acordado.

Ou era, porque quando Mitsuki surge na cozinha depois de acordar e terminar de lavar o rosto, ela quase se assusta em encontrar o filho já preparando o café. São 8 e meia, nem muito cedo, nem muito tarde, uma hora improvável pra esse garoto estar na cozinha.

— Que susto, Katsuki. Tá fazendo o quê?

— Café. — ele responde exatamente o que ela esperava, claro.

— Isso tô vendo, mas por que agora? Você não comeu antes de sair pra correr?

— Não fui ainda.

Quase um mêsOnde histórias criam vida. Descubra agora