O meu ex é um sequestrador de felinos

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10h34:
"Sasuke. Aparece."

10:35
"Sasuke, me atende agora. Eu sei que foi você."

10:40
"Eu juro que vou chamar a polícia. Me devolve o gato."

10:45
"Você vai preso, vai pagar pelos seus crimes e ir pra cadeira elétrica."

11h:
"EU NÃO TÔ BRINCANDO, ME ATENDE."

Foram inúmeras, infinitas mensagens iguais a essas nessa manhã, todas enviadas por uma pobre mãe de pet que só quer seu bicho de volta, só isso.

Eu estava com tanto ódio, tanto ódio, que fiquei enrolando até agora deitada na cama, só olhando para aqueles dois malditos pontinhos cinzas de visualização que pareciam jamais virar azuis. O resultado disso? Estou 100% atrasada para o trabalho e tentando contato há milhões de horas, mas só consigo pensar no Francisco, meu felino de três quilos. Coisa linda.

Que saudades dele, meu deus. - Do bicho, é claro.

Quando terminei com o Sasuke, não imaginei que ele iria de tornar o ser mais deplorável do universo e simplesmente roubar o meu gato, sem mais nem menos pra me fazer sofrer. Eu tenho provas de que foi ele? Não, mas conheço bem aquele homem pra saber que ele é vingativo.

Ele queria me deixar arrancando os cabelos e, bom, CONSEGUIU.

De repente, os dois pontinhos cinzas finalmente viraram da cor azul, constatando que a minha mensagem foi muito bem visualizada.

"Digitando..."

Comecei a roer as unhas em nervosismo e expectativa, simplesmente morrendo de medo de que ele negue o sequestro e fuja pra algum lugar com o meu gato. Eu não me surpreenderia nem um pouco se ele aparecesse amanhã do outro lado do mundo, em alguma lugar bem aleatório - tipo a Amazônia, talvez? - segurando o Francisco.

A possibilidade me faz querer chorar.

Meu deus, como o Francisco vai sobreviver no meio de bichos perigosos que nem aquele tal peixe candiru?

Não que a Amazônia seja só isso, que não tenha nada de bom, inclusive gosto muito de lá, assisto muito largado e pelados e... olha, não tô conseguindo me defender. Desculpa, realmente não sei nada sobre a Amazônia.

MAS isso não importa agora. Tudo que importa é essa mensagem absolutamente angustiante que não aparece nunca. Mordo meu dedo com força, aguardando inquietamente a resposta. Já são cinco minutos nessa idiotice.

"Digitando..."

"Não."

O quê? Não? O que isso significa?

Joguei meu rosto contra o travesseiro e soltei um baita grito abafado, contendo toda a minha frustração com aquela baixaria. Minha única chance seria aproveitar que Sasuke estava on-line para tentar ligar pra ele, e foi exatamente isso, meus amigos, que fiz.

Um toque, dois toques, cinco trilhões de toques e nada, até que enfim ele atendeu em um deles.

- Alô? - A voz tranquila e inconveniente finalmente soou.

- Me devolve o gato. - Falei séria.

- Que gato?

- O MEU GATO. - Gritei no telefone, com o total de zero paciência para aquilo. - Eu sei que está com ele Sasuke!

- Eu não tenho nada aqui comigo. - Ele disse com um tom bem cínico, bem canalha mesmo, principalmente porque um "miau" característico pôde ser ouvido em alto e bom som no fundo da ligação.

Entre amor e gatosOnde histórias criam vida. Descubra agora