69| Mudanças

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Fiquei sabendo do enterro de Tales dias depois do seu assassinato. O motivo da morte? Fofocas diziam que havia sido um assalto, outras que tinha sido planejado por pessoas rivais, outra que havia sido o marido da sua amante.

Sim, havia saido inúmeros boatos das suas traições, denúncias de assédio, de mulheres que trabalhavam na sua empresa. Levando em conta que ele era um empresário renomado, isso se espalhou rápido. Mas o caso foi abafado de alguma forma pela família, mesmo eu sabendo que isso tinha dedo de Dennis.

De alguma forma, ele sabia se desvencilhar. Fazer crimes sem deixar rastros, ou ser culpado... Aliás, fazia parte do seu trabalho.

Três meses depois e nada do que eu sentia havia mudado. Eu estava em casa, sozinha, e me sentindo a pessoa mais amargurada do ano.

Tinha vezes que eu só queria ligar pra ele, e fingir que nada havia acontecido. Tinha outras que eu só queria ficar quieta; outras que eu queria morrer, como forma de conversar com meu pai.

Depois da verdade, minha visão sobre tudo havia mudado.

O pior de tudo, era que algo ruim havia se instalado em meu peito, crescendo cada dia mais. Se tornava até insuportável.

Mas tinha um lado bom em passar tanto tempo sozinha: eu estava tentando focar em mim mesma, apesar do desânimo. Havia criado uma rotina saudável, na tentativa de me tirar do fundo do poço.

Na maior parte do tempo, eu procurava me ocupar com a academia, os estudos, e até tinha adotado um pet, Laika, uma cadela que havia sido resgatada por maus-tratos. Passei semanas gastando em tratamentos pra ela, mas no final, Laika ficou bem e saudável! Além de linda!

Tudo isso, porque na minha mente, se eu não tivesse tempo pra me autodepreciar, eu não o faria.

Laika era a minha companheira. Meu dia melhorava quando eu chegava em casa e ela pulava como se eu fosse a sua coisa favorita.

Ela era uma das minhas.

Abri a porta de casa, após chegar da academia, e me assustei ao não ver Laika por ali. Olhei ao redor do apartamento, e fechei a porta, observando o chão sujo de farinha de trigo.

Fechei os olhos, e ao invés de chorar, acabei rindo e ao mesmo tempo gemendo, já pensando no trabalho que seria para limpar.

ㅡ Laika?ㅡ a chamei, deixando as coisas no balcão.

Ela logo apareceu abanando o rabinho como se soubesse que havia feito algo de errado. Laika, que tinha uma pelagem marrom clara - puxada para o caramelo - estava completamente branca.

ㅡ Você não tem jeito, né? ㅡ me agachei, passando a mão por seu pelo.ㅡ Vamos limpar isso.

~~

Foi um trabalho e tanto.

Limpar a casa, dar banho e secar Laika, e depois ter tempo para me banhar também.

Agora, estávamos deitadas no sofá, enquanto eu comia e ela espiava.

ㅡ Você não pode comer isso, bonitinha.ㅡ fiz biquinho.ㅡ Mas eu vou te dar outra coisa.

Levantei, colocando a tigela no balcão e andando até o armário da cozinha, onde peguei o pote de petisco. Retirei uns e lhe dei. Depois coloquei sua ração, e voltei para sala, enquanto ela comia lá mesmo.

Me deitei no sofá, suspirando enquanto passava os canais.

Infelizmente, eu não podia ocupar minha mente cem por cento do dia. Enquanto eu ficava no tédio, recebi uma mensagem.

Um Acordo ( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora