eu percebi que desde que te conheci, peguei de você seus piores hábitos
e eu noto o quão natural é a gente se espelhar nas pessoas que convivemos, até nas piores características. há algo de bom a se aprender? eu aprendi algo de bom? sinto que tudo que me ensinam eu já sei, mas eu não ponho nada em prática, porque tudo é bom demais, e eu gosto de me afundar na ruindade. daí me parte o pensamento de que eu me levo a todas as situações miseráveis que me acontecem, que poderiam muito bem ser facilmente contornadas se eu não fosse eu, se eu fosse um rapaz diferente, mais por si mesmo. mas eu já sou tão por mim mesmo, eu sou tudo o que eu penso, e ainda sim, nada do que considero. tanto faz tudo, porque eu importo, mas tudo importa e eu quero agradar todo mundo. quero ser tão querido quanto sou, melhor do que sou, quero ser o mais bonito de mim mesmo.
eu fumo e bebo e me machuco, me descuido, mas só eu me cuido. vejo as coisas do meu passado e noto como já tenho dezoito anos e o tempo voa, não sou mais menino, mas nunca parece que vou ser mais que isso. eu sou menino ainda, mas não tenho direito de existir como, porque tenho idade o suficiente pra ser responsabilizado e não precisar de ajuda. e eu preciso tanto dessa ajuda que queria ser menino de novo pra poder ver os outros me ensinarem a viver. chamar ela de mamãe e ele de papai, ser zoado pelos amigos do meu irmão do meio e ter o mais velho me levando pra comer lanche com a namorada cheirosa dele. não tem mais nada disso.
sinto muita falta de muita gente, e de muita coisa, muita vivência. mas eu estive sofrendo esse tempo todo, até quando tinha os momentos infantis. é que quando a gente é juvenil, as coisas parecem que tem conserto, e conforme você vai envelhecendo, você percebe mais e mais que essa merda aqui não vai melhorar pra você. nada vai vir ao seu favor além de você mesmo, e se você não tá ao seu favor, então…
mas pensando bem, acho que nunca chamei ela de mamãe ou ele de papai. ela me chamou de bebê, mas de que adianta carinho acompanhado de mau trato? amei muito meu pai, aliás. foi um ótimo pai. péssimo marido e um homem ruim, mas um pai minimamente bom. ela foi uma mãe e mulher e esposa ruim.
amo e odeio todo mundo, e odeio a mim mesmo, mas será que me amo tanto quanto amo essas pessoas ruins e terríveis e bizarras?
gosto muito daquela música do chico buarque com milton nascimento. quero cheirar fumaça de óleo diesel. não uma citação, mas quero cheirar fumaça de óleo diesel, me embriagar até que alguém me esqueça. falei muito dos "velhos tempos", mas eu sou um juvenil ainda. um jovenzão, um besteróide ambulante. sei de porra nenhuma. e quando eu tiver uns quarenta anos e ler isso, vou pensar em como tudo passa.
como se eu fosse ler isso com quarenta anos. se estiver vivo não vou lembrar nunca.
amo muito certas pessoas. mais do que odeio elas, e isso me satisfaz um pouquinho. amo você tanto que queria que a gente pegasse fogo junto até que um derreta em cima do outro e a nossa individualidade derretida se misture numa mistura grotesca de pele e sangue e carne e a gente fique unido da forma mais degradante pra sempre. mas isso seria um pesadelo, odeio estar junto. mas adoro você, te mando vários beijos sempre pra nunca esgotar.
isso aqui não tem rumo algum. nunca vai ter. nunca vai ter?
sinto sua falta. e a sua e a dela. mas me faz tão mal. mas a falta me faz mal também, daí, o que eu faço?
você apreciou meus toques mas não quis meus momentos feios. eu podia ser tão feliz com você, mas pra isso precisava nunca estar triste. agradeço a ti pelos bons momentos e me sinto enraivecido por todos os atos repugnantes que você já decidiu tomar. as pessoas pensam muito pouco em como cada coisa que elas fazem afeta muito, e eu acho que posso estar incluso aí também. afinal, é isso que eu sou e nada mais que isso, uma pessoa.
uma consciência por aí que pensa tanto em desgraça que chega a ser irritante pra qualquer um passar uns dez minutos preso nessa mente ouvindo a voz ecoar. eu passo dez, quinze, vinte minutos, horas, dias, meses, anos aqui. e a voz ecoa contando os minutos e as horas dias meses e anos. não se cansa de falar sobre como é infeliz.
não tem mais nada sobre você além disso?
eu me achava muito mais especial do que sou, mas eu não sou nada novo. já existiram, existem e vão existir milhares de eu pelo mundo. precisamente diferentes, mas iguais em essência. talvez você seja um eu ou conheça a mim. mas não porque eu sou o exemplo, e sim porque eu existo que nem todos os outros eus.
antes de morrer,
gostaria de conhecer uma moça bonita que me fizesse chorar.
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coletânea de problema mental
Randomé só isso. não é necessariamente poesia. é só texto, escrito por gente com doença na cabeça.