Drunk Jenga

Capítulo Único

O reflexo no distante espelho era deplorável, olhos inchados e vermelhos, pele pálida com trilhas de lágrimas e olheiras de alguém que claramente estava com o sono pendente, nariz ranhento e uma constante "boca de choro" como diria o seu colega de apartamento.

Ela já estava assim há um mês.

Tudo porque seu "school sweetheart" tinha terminado seu relacionamento de 10 anos. DEZ ANOS! Tudo por conta de uma estagiária loira que tinha acabado de entrar no laboratório de pesquisas médicas em que ele trabalhava, quero dizer, ele só a conhecia há quatro meses! Valia mesmo jogar dez anos de relacionamento no lixo por causa dela? E, céus, mesmo que ele repetisse que Melissa não tinha nada a ver com isso, ela sabia que a vontade de separação era, simplesmente, súbita demais.

As dúvidas inundaram sua mente: o que a senhorita Shield tinha que faltava nela? Seria o interesse pela ciência? Era a vontade de viajar pelo mundo ao invés da costumeira viagem para o interior para visitar seus pais? E se eles tivessem uma química sexual melhor que a deles? E se ela fosse apenas mais bonita? Mais atraente? Mais rica...

"Não, não, não! Izuku não era assim", tentou se acalmar, balançando a cabeça negativamente, ela o conhecia bem o suficiente para saber que dinheiro não seria um atrativo extra. "Ou talvez você não o conhecesse tão bem", uma vozinha murmurou rente a sua orelha.

– Oh, Ocha'! Não chore! – A voz de estridente de Ashido Mina soou ao mesmo tempo que sua porta era aberta de forma abrupta e batia contra a parede – Vai ficar tudo bem, eu estou aqui, estamos todas aqui! – A mulher de cabelos rosas choramingou, se jogando ao seu lado na cama, enquanto Ochako ainda tentava entender como suas amigas tinham invadido seu apartamento.

– Como vocês entraram? – Foi a única coisa que seu choque permitiu murmurar, num tom sussurrado e choroso.

– Seu colega de apartamento, gero. – Tsuyu respondeu, se jogando ao lado das amigas na cama.

– O Bakugou? Mas como-

– Ele me mandou uma mensagem. Disse que dava para ouvir seu choro do lado de fora do apartamento – Jirou disse, calmamente, causando um rubor na Uraraka – Ele disse que você estaria precisando da gente. – Finalizou, sentando-se na cadeira giratória que ficava colada à escrivaninha.

– O senhor Bakugou é um completo mal encarado, um brutamontes, certamente, um ser quase vil, mas devo dar o braço a torcer e admitir que ele até que se preocupa com você – Yaoyorozu murmurou, cruzando os braços e se sentando, toda educada, numa pontinha da cama.

– Eu já tinha dito um milhão de vezes que vocês não deveriam se preocupar com ele! – Forçou um sorriso que acabou por sair meio desengonçado.

– Mas fala sério, o jeito que vocês se conheceram foi esquisito. – Foi a vez da Hagakure resmungar, jogando-se no tapete no chão.

– Mas-

– Epa, epa, epa, cartão vermelho na parada! – Mina repreendeu, agitando os braços animadamente – Por mais que falar do gostosão do quarto ao lado seja bom demais, nós estamos aqui para outra coisa!

– Sim, e qual seria essa coisa? – Questionou, com a sobrancelha arqueada.

Apesar de ser um dos momentos mais dolorosos da sua vida, ela estava tão feliz por ter suas amigas num momento em que se sentia tão vulnerável. "Tenho que agradecer ao Bakugou-kun, talvez fazer o jantar no fim de semana", pensou, sentindo seu coração se aquecer lentamente com a ideia do seu colega de apartamento se preocupando tanto consigo.

– Te levar pra sair e esquecer o pé na bunda monumental que tu levou. – A rosada disse sorridente, causando um encolher de ombros na morena, um tremor, como se a frase da amiga causasse dor física.