Já na enfermaria após a enfermeira passar alguma pomada milagrosa para dor, esperava ela voltar para me entregar uma pomada extra enquanto Dominic me fazia companhia.
- Sua fama está começando a me atrapalhar.
Murmurei colocando meu blusão preto por cima do top da educação física.
- Não vejo como isso pode ser culpa minha.
Revirei os olhos pois claramente ele sabia do que eu estava falando. Dominic abriu sua mochila tirando novamente o moletom azul.
- Use isso, eu vi você tremendo de frio antes da aula.
Ofereceu ele mais uma vez, sem expressão alguma na fala, mas ele tinha razão, eu estava mesmo com frio. Estendi o braço para pegar e acho que por alguns instantes, Dominic pensou que eu fosse recusar novamente.
- Obrigada.
Agradeci e logo a enfermeira voltou com uma pomada extra na mão.
- Hope, passe isso uma vez de manhã e outra antes de dormir, vai ficar bem logo.
Peguei a pomada enfiando no meu bolso da mochila e sai dali com a sombra de Dominic Chaos me seguindo, essa semana tem que acabar o mais rápido possível, não quero que as meninas continuem me vendo como saco de pancadas gratuito, especialmente Olivia.
Já na saida do colégio, Jason corria em nossa direção com uma expressão de satisfação e também de que algo não havia dado certo, o que me deixou curiosa.
- A Olivia pegou suspensão até o final da semana.
Fiquei aliviada em saber disso, teria um pouco de paz até não precisar mais ficar de babá de Dominic.
- Mas eu peguei detenção hoje e vou me atrasar para a cafeteria.
Ele coçou o topo da cabeça forçando um sorriso.
- Não entendi.
Dominic pareceu confuso e eu também.
- Eu cheguei a entrar na sala do diretor com o professor e a Olivia e quando eu comecei a falar umas boas verdades sobre ela, o diretor me mandou sair e me deu uma detenção por desacato.
- Essa não Jason, de novo?
Sempre que ele iria para a direção, acabava se exaltando um pouco e fazendo alguma bobagem, no mês passado ele pegou detenção por três dias por discutir com o professor de literatura sobre um livro que ele nem mesmo leu.
- Bom, vou indo para a detenção agora, encontro você mais tarde?
Ele me perguntou já subindo a escadaria.
- Claro.
Jason subiu e eu me virei para Dominic.
- Então, até mais.
- Espere, posso te levar até em casa?
Confesso que essa pergunta me pegou de surpresa, eu não via problema em aceitar a carona, mas as meninas da educação física passaram logo atrás dele e senti aquela angústia no peito.
- Não precisa se incomodar eu estou bem, até amanhã.
Me virei e entrei no ônibus as pressas, pela janela via Dominic não tirar os olhos de onde eu estava, ele olhou em volta procurando algo mas parece não ter encontrado, alguns instantes depois o ônibus partiu e eu me vi encostada na janela cansada. Ao chegar em casa jogando minha mochila na cadeira ao lado da porta, corri para meu quarto e me joguei de barriga na cama macia abraçando meu travesseiro, o moletom de Dominic era macio e o cheiro dele estava por toda parte, era como um cheiro de chuva em um campo aberto, fresco e suave. Em meio aos meus pensamentos acabei dormindo e acabei tendo um dos piores pesadelos que alguém poderia ter, um buraco enorme no chão se abria cuspindo fogo e alguma coisa lá de dentro puxava meus pés com força, um uma voz alta e estrondosa rugia "você não tem escapatória" .
Acordei assustada me sentando na cama.
Algumas horas depois, já de banho tomado e terminando um dos quadros encomendados, a maçaneta da porta girou e Jason entrava com uma sacola da cafeteria nas mãos.
- O que você tem aí?
Perguntei me levantando e indo de encontro a ele.
- A senhora Lewis pediu para te entregar, ela fez biscoitos e desejou melhoras.
Senhora Lewis, sempre um doce de pessoa.
Aquele restante da semana foi um tanto estranho as meninas que antes me fuzilavam com os olhos e alma agora pareciam nem notar minha presença, viva me envolvendo em quase acidentes por toda parte e Dominic não largava do meu pé, tinha momentos em que até para ir ao banheiro ele me esperava do lado de fora, nem o Jason faz isso, ele mandava mensagem sempre perguntando se eu já estava em casa depois do horário de aula e aquilo já estava me perturbando mesmo eu nem respondendo direito, em poucos dias ele passou de alguém legal e misterioso para um chiclete humano e nada simpático. Finalmente era sexta e o sinal da última aula tocava, era música para meus ouvidos, na próxima semana era nada de Dominic, nada de mensagens, apenas paz e silêncio no meu canto, bom ao menos era isso que eu imaginava.
- Amanhã começam os preparativos para a feira anual.
Comentou Jason fechando sua mochila.
- Sim! Logo de manhã vou para a cafeteria ajudar a senhora Lewis.
Dominic estava próximo e é claro que ele se entrometeu na conversa.
- Posso ir com vocês?
Eu estava pronta para dizer um grande "não" mas Jason foi mais rápido.
- É claro! Você pode me ajudar a montar a barraquinha da cafeteria e pode ser o nosso segurança particular - Brincou.
Que maravilha, já não basta aqui na escola, agora vou ter que aturar ele na feira também!? Por que comigo? O que eu fiz para receber esse castigo? Na saida, Dominic Chaos pela primeira vez durante aquela semana não se ofereceu para me deixar em casa, o que me deu certo alívio, ele foi embora em sua moto barulhenta e eu voltei com Jason no ônibus.
- Jason será que dá para não ficar convidando o Dominic para tudo? Ele colou na gente essa semana, queria um pouco de paz, além disso ele foi muito rude algumas vezes.
O ruivo apenas me olhou e deu de ombros.
- Deixa o cara, vai ver ele só quer fazer amigos novos e por ter esse temperamento ruim, deve ser mais complicado conseguir.
Já vi que seria difícil ter essa conversa com ele.
No dia seguinte pela manhã, cheguei a cafeteria e a senhora Lewis veio me abraçar, ela usava um conjunto de moletom amarelo claro e um avental, estava radiante e mais animada que todos.
- Venha Hope, me ajude a colocar alguns bolinhos nas caixas.
Quando passei pelo balcão, vi Jason, Dominic e Sarah puxando caixas e arrastando até porta de entrada, cumprimentei todos bem rápido, não queria Dominic atrás de em mim o tempo inteiro afinal não estávamos na escola.
- Você e Antony vão lidar com os bolinhos, preciso pegar alguns panfletos que deixei em casa.
A doce senhora saiu me deixando ali com o novato.
- Então vamos lá.
Ficar fazendo isso ao lado de Antony até que era legal, ele não falava nada nem fazia piadinhas ou gracinhas, mas algo nele estava diferente do que eu me lembrava da última vez, não sei o que era exatamente mas estava meio certinho demais.
Fechei umas três caixas e as empilhei uma em cima da outra equilibrando em meus braços e levando para a van da cafeteria, ao tentar colocar a pilha em cima de outra, tropecei no meio fio e se não fosse por Antony segurando a caixa logo atrás de mim, uma verdadeira bagunça de bolinhos teria acontecido ali.
- Cuidado.
Ele era mais alto que eu então seus braços passavam ao lado de minha cabeça, arrumamos as caixas no lugar e o restante do pessoal terminou de puxar as outras caixas para a van. Não demorou muito e a senhora Lewis apareceu com uma mão cheia de panfletos dos quitutes da cafeteria, ela, Antony e eu entramos na Van, Antony que estava dirigindo baixou o vidro e a senhora Lewis se aproximou da janela para falar com o pessoal.
- Eu chamei um táxi para vocês, não se preocupem.
Antony levantou o vidro, ligou a van e deu partida, pelo retrovisor vi a imagem de Dominic ficar cada vez mais distante e mesmo assim ele ficou ali parado olhando até a van virar a esquina. Hoje ele nem se quer veio puxar assunto, ou pedir algo emprestado aleatoriamente, nada. Durante a montagem da barraca, enquanto Jason lia as instruções com Sarah, Dominic já tinha fincado barras de metal no chão e estava abrindo a lona vermelha que iria cobrir a barraca, sua força era algo inacreditável. Eu e Antony dividimos os panfletos e fomos entregar para algumas pessoas que passavam ali por perto, outras bacarracas estavam sendo montadas então aproveitamos para dar uma volta e ver como o pessoal estava se saindo.
- Caramba, vai ter muita gente aparentemente.
Disse despretensiosa.
- Quanto mais pessoas melhor, não é?
Comentou Antony olhando para os lados analisando o movimento, depois de entregarmos quase todos os panfletos, retornamos a nossa bacarraca já pronta, Sarah e senhora Lewis arrumavam a mesa com tortas, bolinhos, doces e cafés de diversos tipos, pareciam deliciosos.
Durante a tarde eu ajudava a vender algumas coisas com a Sarah e aproveitava para comer um ou dois bolinhos de gengibre escondida.
- Eu preciso ir ao banheiro, segura as pontas aqui Hope?
Pediu Sarah tirando o avental.
- Claro.
Assim que ela saiu mais pessoas começaram a chegar e quando estava quase sendo engolida pela multidão, Antony apareceu para me ajudar.
- Obrigada Antony, segunda vez no dia que me salva.
Agradeci sorridente.
- Tudo bem, só estou fazendo meu trabalho, aliás não está na hora de você fazer uma pausa?
Fiz um sim com a cabeça e logo Sarah já estava de volta.
- Pode ir Hope, Jason fica comigo aqui.
Concordei e sai com Antony até um banco próximo de madeira onde sentei exausta.
- Espere aqui, vou buscar uma bebida.
Ele saiu me deixando ali olhando as mensagens no celular, Dominic se aproximou repentinamente e se sentou ao meu lado.
- Eu quero me desculpar com você.
Olhei para ele tentando entender, seu tom não era suave nem de alguém verdadeiramente arrependido, estava parecendo como se alguém tivesse pedido para ele dizer aquilo.
- Sei que estou invadindo muito o seu espaço ultimamente mas tenho uma boa razão para isso.
- E qual seria?
- No momento certo eu te conto até lá tenha o mínimo de cuidado se for possível.
Ele se levantou e voltou para a barraca, o que ele quis dizer com isso? Aquelas últimas palavras soaram tão ásperas, "o mínimo de cuidado possível" Quem ele pensa que é? Dominic definitivamente era estranho e grosseiro. Antony voltou com um copo grande de chá se sentando ao meu lado.
- Pega.
Ele me entregou e ficamos ali jogando conversa fora por alguns minutos até voltarmos para a barraca onde metade dos doces e bolinhos já haviam sido vendidos.
- A competição de tortas já vai começar!
Anunciou a senhora Lewis batendo palmas, olhei para as horas no meu celular, marcava 17:25 da tarde, passou tão rápido que nem vimos o tempo correr, Sarah levou a torta para a mesa da competição enquanto a senhora Lewis se posicionava atrás dela arrumando os cabelos, o festival estava lotado, a noite teria queima de fogos e alguns brinquedos funcionando mas estava tão esgotada que não sei se conseguiria ficar por muito mais tempo, a avaliação começou e por pouco a cafeteria não pegou o primeiro lugar, a torta que a senhora Lewis preparou ficou em segundo, ela não parecia estar triste com o resultado mas assim que saiu de trás da bancada, eu, Jason, Sarah e Antony a abraçamos, Dominic estava mais afastado, olhando para os lados, Jason o chamou para o abraço coletivo e ele veio desajeitado meio forçado sem sorrir nem nada muito afetuoso. Quando todos já estavam indo embora, Jason me convenceu a ficar com muita insistência até a queima de fogos com o pessoal e depois ele me acompanharia até em casa, a noite chegava e o frio aumentava, felizmente meu casaco dava conta do recado de me manter aquecida, andamos um pouco pelo festival jogando em algumas barraquinhas de tiro ao alvo, pescaria, acerte o balão e em todas essas o senhor perfeito sempre ganhava, Dominic além de atrair olhares de todas ainda não tinha um ponto fraco se quer, sempre tão perfeitinho e mesmo assim antipático. Nem acredito que quando o conheci parecia tão patética, nosso grupo se reuniu para ver a queima dos fogos e enquanto eles estouravam no céu em diversas cores, Dominic parecia estar encantado, deslumbrado. O que me chamou atenção foram seus olhos que agora mais do que nunca brilhavam em um vermelho vivo intenso, abri a boca fascinada com o que estava diante de mim, ele bruscamente voltou seus olhos para os meus que perderam a coloração magnífica cintilante e foi embora desaparecendo na multidão como fumaça.
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Destinada Ao Inferno
RomansEm Port Angeles mora Hope, uma jovem de 17 anos que perdeu os pais muito cedo e vive uma vida simples sem extravagâncias até conhecer um cara estranho de sobretudo preto, depois disso nada na vida da garota voltaria a ser o que era. Quando menos esp...