A revolta de Atlas

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A vingança não vai reduzir ou prevenir o mal, porquê ele já aconteceu.
- Dalai Lama.

Somos movidos por vingança, em nome da justiça. Em um ciclo de ódio que nunca termina. O ódio irá se repetir de novo, e de novo, e de novo e mais vezes até que cada um daqueles com a capacidade de ter sentimentos se reduzam a pó. Eu sempre soube disso, eu sempre tive ciência do quão destrutiva o ódio e o amor poderiam ser e durante um bom tempo isso me assustava.

Meus nervos ficavam a flor da pele toda vez que eu pensava no quanto de mal eu poderia causar á alguem por vingança. Não, nunca temi que isso me alcançasse.

Eu não sei explicar este fenômeno. Ser relevante, humano, ameno com os outros porém intransigente, duro e imperdoável comigo mesmo.

Eu sempre fui alguém "politicamente correto". Preso dentro de mim mesmo, moralmente servil. Sempre fui aquele que passa reto sobre todas as questões mais delicadas.

Quantas vezes concordei com a maioria das pessoas somente para me livrar de problemas?

Se a vida fosse um jogo, eu com certeza seria um NPC. Um figurante na minha própria história e isso iria permanecer assim até os meus 23 anos.

Tudo acabou naquele dia. No dia em que eu decidi dar um basta em tudo!

Acontece que eu sempre fui uma pessoa submissa. Dos meus três irmãos, eu era o do meio e até em ser o filho do meio eu era perfeito.

Eu não era socialmente problemático como o meu irmão mais velho e nem carinhosamente amorosa demais como minha irmã mais nova. Eu era apenas o do meio.

Nunca dei muitos problemas aos meus pais, nada sério. Nunca questionei nenhum deles e acredite: NUNCA mesmo.

Eu sempre fui o mais quieto, mais contido, mais neutro em todos os problemas em casa. Meus passatempos favoritos eram ler livros sonhando em estar na pele dos meus heróis favoritos da literatura como Robert Langdon, Don Quixote ou John Galt. Aqueles personagens que em tese fazem o que bem entendem sem precisar se preocuparem com o que os outros irão pensar. Eles fazem o que acreditam ser o certo por mais que os outros ao redor pensem o contrário.

Posso dizer que encontrei minha liberdade em imaginar e admirar a deles.

Graças á essa imersão no mundo irreal eu me vi alguém livre, alguém corajoso e fiel somente á si mesmo. Embora fora dos livros eu sempre fui aquele cativo, escravo das circunstâncias.

Na escola sempre fui o mais focado, no colégio o mais quieto, na faculdade de contabilidade o mais antisocial.

Aos 19 anos meu melhor amigo, Daniel Cabrini - ou somente "Dan" como todos chamavam, me chamou para uma festa de aniversário de uma conhecida dele.

Estávamos em um período de provas e eu estava consumindo livros e vídeo aulas como se fosse água no deserto. Normalmente eu negaria mas naquele dia ele foi tão insistente que eu me senti obrigado á aceitar.

- Cara, você tem que vir! Pensa em quanta gente Interessante vai ter lá. Vários gatinhos, várias gatinhas, gente de todo tipo, espécie e gosto - ele me dizia tão alegre na chamada telefônica que eu pude imaginar com exatidão de detalhes as caras e bocas que ele fazia do outro lado da linha - você já é um dos melhores da sala, tem que parar de estudar um pouco!

- Estamos numa semana de provas importantes, Dan! Não dá para facilitar agora. É nosso futuro que está em jogo - eu tentei contra argumentar.

- Blá blá blá - ele fazia chacota - a escola espera. Passo pra te pegar às dez e por tudo que você acredita, é melhor você não estar vestindo a droga do pijama de bananas quando eu chegar aí! - e desligou a chamada não me deixando espaço para respostas.

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