VII - Leviatã

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        𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐈𝐈: 𝐎 𝐋𝐎𝐔𝐂𝐎

Era como se os mares fora de Arwend fossem uma coisa totalmente diferente de qualquer coisa que pudesse esperar. As águas não eram mais cinzentas, eram azuis como os olhos dela. As ondas se erguiam tão altas que respingavam no costado do barco.

Era o "majestoso" Rei Bacalhau, uma nau mercante com uma pequena caminhada de comprimento entre a proa e a popa. O navio era feio, fedido e vacilante. Sua tripulação era mal encarada e tão feia quanto seu navio. Só duas pessoas ali eram minimamente gostáveis e nessa viagem estava as conhecendo melhor.

- Vai falar com o prisioneiro de novo, pirralho?- Aerin Drauss perguntou. O Guardião era ranzinza, mas era quase uma pessoa boa. Era a sua escolta, um homem sisudo e castigado pela vida, mas pelo menos se compadecia da situação do menino.

- Algum problema com isso?- Grimm desafiou, sorrindo. Tinha uma maçã na mão direita e a adaga solta no cinto.

- Só se ele tentar te matar.- Aerin respondeu de braços cruzados.

- É um homem com os pés e os pulsos amarrados. O que ele pode fazer? Me morder? Se ele for capaz de se soltar daquilo, nem você venceria aquele cara.- Grimm deixou o guarda com seus pensamentos e desceu até os porões mais profundos do navio.

O Rei Bacalhau podia estar carregando secretamente um servo do fogo até o Continente Verde, mas esse não era seu único segredo. Em seu porão levava um contrabandista e assassino de aluguel perigosíssimo, perseguido por um dos mestres mercadores das Cidades Mercantes. Essas cidades(Messaria, Essain e Fedria) formavam uma união chamada Arcontado.

- Veio me ver de novo? Sentiu saudades?- A voz arrastada de Florian o recepcionou naquele porão escuro, fedendo a salmoura.

- Você tem histórias interessantes e ficar vendo o balanço do mar cansa. Me pergunto quando vamos chegar em Messaria.- Grimm se sentou em um barril e cruzou os braços atrás da cabeça.

- Espero que nunca cheguemos.- O prisioneiro deu uma risada roufenha. Forçou um pouco as correntes. - Detestaria pisar em terra firme, ainda mais tendo uma sentença de morte pairando sobre a minha cabeça.-

- Sobre sua cabeça apenas pairam moscas, amigo imundo.- Grimm brincou, mas se aproximou do encarcerado e lhe deu de comer a maçã e de beber a água. - Sem vinho hoje.-

- Então eu preferia ter bebido meu mijo. Pelo menos ele sim deve ter algo de álcool.- Florian reclamou, o garoto lhe deu um golpe na nuca com o cantil para que parasse de resmungar.

Florian era um homem moreno de alta estatura e forte constituição, a barba por fazer indicava a falta de cuidado durante a prisão. Sua pele cor de oliva tinha algumas cicatrizes, mas mesmo maltratado ainda tinha um humor afiado. As correntes que o prendiam de braços estendidos para os lados e com os joelhos curvados não conseguiam prender sua acidez.

Foi esse humor que aproximou Grimm e Florian. O rapaz se interessou pela ideia de um proscrito e quis pelo menos ouvir sua história, mas acabou por voltar dia após dia. Sabia que Florian tinha matado um dos arcontes de Essain, agora sendo perseguido por cada um deles, com destaque para o mais influente: o Arconte-Mor Daheer Zephyr Velesto Dereg-Ivrik, apelidado de Derik.

- Algo me diz que você não vai morrer.- Grimm comentou, despreocupado. Mesmo que soubesse de todas as vigarices de Florian, o mesmo não podia ser dito sobre a magia do jovem. E o garoto não sabia dizer se sua intuição era mágica ou não.

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora