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Tayin abraçou com mais força os próprios joelhos, pensando como proceder, o que perguntar, como reagir àquela situação. Nada mais que uma entrevista para quem já tinha obtido o emprego. Um contrato assinado sem ser lido. Tayin se arrepiou ao pensar nas possíveis consequências do que tinha acabado de fazer.
Em silêncio, analisou e admirou o ser à sua frente. Estava tão perplexa, mas por alguma razão, ao mesmo tempo, agora se sentia imersa em uma onda de calma.

Gotas de chuva suavemente caindo e batendo na janela de um modo rítmico eram o único som que se podia ouvir naquele momento. No entanto, na cabeça da mulher, inúmeras perguntas sussurravam, inquietas e preparadas para sair pelos seus lábios.

- Então...agora nós os dois temos um contrato, certo? O que implica isso?

Merle, ainda sentado na cama, olhou para cima, como se estivesse se tentando recordar de algo, de um recado que tinha que ser entregue.

- Tecnicamente, o nosso contrato ainda não está selado a 100%. Há certos passos que a gente os dois temos que tomar até eu poder começar a ajudar você. - Merle pressionou os lábios um contra o outro, fazendo sua boca se tornar uma linha. - Você...tem a certeza que é isso que quer? Pelo que ouvi do seu problema, parece algo tão banal. Algo facilmente resolvido, sem intervenção sobrenatural, nem nada. Não é como se você estivesse verdadeiramente sozinha, certo? - Merle apontou com a cabeça para fotografias emolduradas na parede à sua frente. Era possível ver Tayin abraçada a uma mulher alta, ruiva, com cabelos volumosos e selvagens e outra de cabelo liso, loiro, longo, e as três estavam sorrindo. Aquelas eram suas amigas Rose e Gabriela, ou Gabe, duas pessoas que sempre estiveram presente para ela, para o quer que fosse.

Do lado, uma fotografia claramente mais velha, onde Tayin ainda era criança, rodeada dos seus pais e dos seus 3 irmãos, após uma festa de aniversário da mesma. A criança mostrava um sorriso de orelha a orelha, como se aquele fosse um dos melhores momentos que tivera na sua vida. Provavelmente até tinha sido.

 Porém, todos os membros presentes naquela festa se encontravam do outro lado do mundo, e a garotinha era agora uma mulher sozinha naquele quarto, sem sinal do sorriso que antes adornava seu rosto

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 Porém, todos os membros presentes naquela festa se encontravam do outro lado do mundo, e a garotinha era agora uma mulher sozinha naquele quarto, sem sinal do sorriso que antes adornava seu rosto.

- Todos eles estão longe. Eu...estou longe de todos eles. - Sublinhou ela, com um suspiro. - É só que...Nem sabia que isto...você ia resultar. E de certeza que não deve ser tão fácil assim, escapar do que quer que você me venha vender. Não posso só negar um contrato com você e eu volto à minha vida como se nada fosse, certo? Tem que haver algo mais.

Merle semicerrou os olhos, franzindo uma das sobrancelhas, esboçando um sorriso, claramente forçado.

- É...a gente meio que já está vinculado, mas eu gosto sempre de revisar as coisas, saber se você está confortável com essas coisas todas... - Ele passou a mão no pescoço, tentando falar de modo confiante.

A de cabelo roxo revirou os olhos.

- Irónico. Um demônio querendo saber se uma pessoa está confortável. Vocês não são supostos ser uma entidade do mal? Querer algo em troca de "ajudar" outra pessoa?

- Ei, isso é um pouco ofensivo, já fazendo suposições sem nem me conhecer direito! - Ele fez uma pausa, desviando o olhar por segundos e voltando a encarar Tayin.

- Mas sim, tem razão. Você terá que abdicar ou prometer algo para eu poder trabalhar com você. Não pode me mandar de volta sem eu ter algo seu, mesmo que não queira nada de mim. Eu terei que cumprir a minha função para conseguir regressar.

Tayin se levantou, cruzando os braços, voltada para a janela, enquanto escutava o demônio.

- E qual é a sua função? Qualquer coisa que eu queira? O que é que eu teria que dar em troca?


-Não te posso dizer. O que você tem que me oferecer, digo. Preciso de uma confirmação primeiro. Mas...enquanto à minha função, é um pouco complicado. Eu venho de um grupo...família de demônios, cada um designado para papéis diferentes. O nosso superior, por assim dizer, é o demônio da fama, ele quem exige mais, mas em troca, todo o mundo fica conhecendo você, seja por bem ou por mal, Lawrence quem decide seu destino dependendo do humor dele no dia, ele cria as suas e nossas leis.

Merle parecia um pouco apreensivo, claramente ele tinha adoração por aquela figura superior, mas sabia o quão maldoso o que ele tinha dito parecia. Deixar a vida e visão do mundo de uma pessoa à decisão de como ele mesmo se sentia em um dia específico parecia coisa de louco.

- Depois há o segundo em comando. Um segundo superior. Ele é um dos demônios mais novos, mas você não pensaria isso se o visse. - Ele deu uma risada breve, soava mais descontraído. - Ele é calculista e assume uma aparência mais...velha, sábia, fria. O seu nome é Viktor, é ele quem é invocado quando o assunto é sucesso em negócios, projetos, e conhecimento. Ele ajuda alguém a suceder em termos económicos e de estudos, mas ele é bem severo e difícil de comunicar. Provavelmente você morreria de exaustão tentando agradar ele antes mesmo de ver a sua empresa suceder.

Merle pausou, analisando a cara de Tayin, que tinha uma expressão subtil de horror no rosto.

- Mas, ele é só exigente assim porque ele é...super anti social. Ele odeia ser invocado, especialmente porque a razão é quase sempre ganância, e o povo não costuma ser o mais fácil de lidar.

- E...quem mais faz parte dessa bela família? - Perguntou Tayin, com a questão carregada de sarcasmo, mas Merle não pareceu notar.

Lonely Summon (Staying)Onde histórias criam vida. Descubra agora