Capítulo 1 - O julgamento

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Atlas, um enorme leão de juba negra, estranhou a demora de seu amigo canídeo e dirigiu até o mercado onde ele trabalhava. Descobriu que Renan — que na verdade se chama Roberto — foi levado pela polícia. Descobriram o crime que a raposa cometeu anos atrás.

Droga!

Questionou o dono do mercado querendo saber para onde a raposa foi mandada e não obteve resposta. Pegou o celular e entrou em contato com algumas pessoas que conheciam outras pessoas e descobriu que Roberto foi mandado para a delegacia de Rochedo.

Pediu carona com conhecidos para chegar à cidade onde Roberto foi mandado. Não demorou muito para chegar à delegacia onde a raposa estava detida. No entanto, ele próprio também foi detido e encaminhado a uma sala onde foi ferozmente interrogado por uma onça-pintada que fazia perguntas das quais queria respostas prontas. Está querendo saber se escondemos drogas? Não viu sentido em boa parte das perguntas. Sentiu-se em um seriado policial, contudo, ali não era um seriado de televisão.

Mesmo sendo liberado do interrogatório, não foi autorizado de falar com Roberto. O primo leão-de-Atlas chegou à delegacia para levar Atlas para casa. O leão não queria ir, contudo, era preciso. O primo, que era advogado — e filho de seu tio por parte de pai — esperou ao seu lado até que finalmente tomasse a decisão de entrar no carro e voltarem para Campo Grande.

De volta em casa, Atlas pensou no que poderia fazer para tirar seu amigo da prisão até receber um telefonema do primo que o trouxera de volta.

— Atlas, não faça besteira — pediu o primo.

— Mas, José, ele é meu amigo — falou.

— E...? Eu estou tentando tirar o seu da reta — explicou José. — Eu posso ver o que posso fazer pelo seu amigo Renan mas, pelo amor de Deus, não entra em contato com ele, por enquanto.

— Por quanto tempo? — quis saber Atlas. O silêncio durou um instante. — Quanto, José?

O suspiro vindo do outro lado da linha pode ser ouvido por Atlas.

— Até o fim do julgamento — disse. — Até lá, não faça besteira.

Até o fim do julgamento, as palavras martelaram na cabeça do leão por um tempo longo. Em casa, no trabalho, na feira, no boteco da esquina onde comprava salgados...

Os dias se passaram e as palavras do primo ecoavam em sua mente. Julieta, sua namorada onça-pintada, percebeu a impaciência na movimentação do grande leão-do-Atlas. Poderia fazer sugestões, mas todas as que daria só deixaria o grande leão mais agitado, por isso, ficou quieta e limitou-se a apenas contatos físicos e alguns olhares.

Recebeu uma ligação depois de oito dias, onde seu primo José informou a data e o local onde ocorreria a audiência de Renato e que eles deveriam fazer o que ele mandasse. Atlas concordou.

José pediu para que eles se encontrassem, primeiro, a sós, no escritório do primo. Os dois primos apesar de altos e de jubas pretas, possuíam algumas claras diferenças: José era mais esguio, ao passo que Atlas era mais largo e musculoso.

Sobre à mesa de mogno escuro do escritório de José, além de toda a papelada do caso de Roberto, dois copos de vidro com três cubos de gelos e uma garrada de uísque.

Atlas sentou-se à mesa diante do primo que olhava um documento e outro. Fez uma pausa, organizou os papéis em uma pilha e virou-se para o primo recém-chegado.

— Primeiramente, precisei estudar formas de tirar sua bunda da reta — começou José. — E a que achei melhor, até o momento...

— É eu ser o agente passivo da história? — cortou Atlas, prevendo o rumo da conversa. José confirmou com um movimento de cabeça. — Mas é isso o que eu fui, minha namorada, minha mãe, meus amigos...

Coração Quente (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora