𝖣𝗈𝖼𝖾 𝖢𝗋𝖺𝗏𝗂𝗇𝖺 ☆ 𝖸． 𝖩𝗎𝗇𝗀𝗐𝗈𝗇，𝖾𝗇𝗁𝗒𝗉𝖾𝗇 ♡︎

:: nada mudou

[YARI]

Eu não dormi nada. São quatro e alguma coisa da manhã e eu ainda olho pro teto do mesmo jeito que olhava há seis horas atrás. Não me atrevi a mover nenhum músculo se quer, não quero me mover.
Tem muita coisa passando pela minha cabeça.

Memórias rodopiam na minha mente e de repente eu revivi toda a minha vida novamente. Nunca imaginei que o veria novamente, mas ele deve estar neste momento dormindo na minha porta de casa.

Na minha cabeça também tem Jungwon. Ele disse que me amava, e eu não consegui falar nada, NADA!
Eu sei que não podia, mas ter ficado quieta foi sacanagem.

Acontece que não posso dizer nada para ninguem descobrir. Se meu pai ficar sabendo, é capaz de me levar de volta e eu ter que viver a mesma vida que vivia antes. E o pior de tudo é que ele pode cacar Jungwon até fazer ele sofrer miseravelmente. Ele já falou milhres de vezes que sou dele e apenas dele. A unica pessoa que pode me enconstar é ele, ele fala que é meu dono. Ele é totalmente maluco.

Mas ainda é o meu pai.

Eu agora saí da casa de Jungwon para verificar o mais velho. Sim sim, ele é uma pessoa horrível, mas um dia ele foi a pessoa em que mais confiei, não posso deixá-lo na rua.  Assim que fiquei de cara com a porta, vi várias marcas de dedos, minha porta estava levemente amassada. Marcas de unhas se arrastando eram visíveis e até um pouco de sangue seco escorrendo por ela.

Fiquei arrepiada. Eu sei que já vi essa cena antes, eu só tentei apagá-la da minha mente, mas agora ver isso e sentir todas aquelas memórias voltando me causava dor de cabeça.  Encostei minha mão na porta e escutei um barulho irritante, ele quebrou o fecho da minha porta apenas para entrar, como disse, ele é maluco.

Assim que pisei no lado de dentro, dei de cara com um homem deitado no chão, dormindo com um cigarro em uma mão.

Retirei aquele cigarro de seus dedos e joguei fora.

Voltei para meu pai e tentei pegá-lo nas costas, do mesmo jeito que fazia quando ele dormia na rua quando tinha doze anos. As lágrimas escorriam do meu rosto e minha pernas tremiam só por sentir o peso do mais velho novamente. Não engordou, não perdeu peso.

Ele continua o mesmo.

Escutei ele murmurar algo.

- Eu... Eu te odeio... - Ele disse enquanto o seu alito de alcohol invadir minhas narinas.

- Eu sei... - Disse baixo, porem alto o suficiente para ele escutar.

Demorei um tempo até chegar em meu quarto, mas finalmente consegui o colocar na cama. Eu o olhava com dor mas decidi ir embora, não quero ficar mais nenhum segundo aqui, não com ele por perto. Saí pela porta principal novamente, mas agora eu não tinha pra onde ir.

Mas logo um lugar me veio à mente. O lugar onde sempre vou para fugir das coisas.

Eu sai correndo em direção a floricultura, corri como se não houvesse amanhã, eu só queria ficar deitada abaixo as estrelas e viver minha vida em paz, viver minha vida como Kang Yari.

Cheguei no telhado com meus olhso encharcados, e cheia de suor. Eu estava cansada, não só de correr, estou cansada desse sentimento constante de que sou um erro. Não sou boa o suficiente para fazer minha mãe não desistir de nós, não sou boa o suficiente para cuidar do meu pai e ter certeza de que está seguro...Não sou boa o suficiente nem para falar um simples eu te amo para Jungwon.

Depois de tanto tenpo, viltei a acreditar que o problema sou eu. Fiz minha mãe ir embora, fiz Jungwon chorar, e fiz meu pai sofrer, foi tudo culpa minha.

Fui em quem causou tudo isso.

Foi tudo minha culpa, sempre foi, sempre vai ser.
Suspirei pesado percebendo que teria que dormir aqui hoje, e assim me deitei na canga que sempre deixo aqui. Me virei para o lado e uma uma unica cravina branca caida no chao, ela estava murcha, se tornando marrom. Ela parecia eu neste momento, trite, desgastada, morta.

Talvez eu esteja exagerando, sim. Mas não consigo parar de pensar na vez que estava proxima de viver a minha vida em paz, da vez que quase morri.

Sendo sincera, não queria ser salva naquele momento, me cortei por um motivo. Mas as vezes fico feliz que não tenha dade certo, conheci Jungwon, consegui sair daquela casa, e consegui viver um boa vida, isso é, até ele aparecer novamente.

Bebendo como sempre, fumando como sempre, do mesmo jeito de sempre.

Sem nem perceber, eu fechei os meus olhos e fui dormir as 6:32 da manha.

[...]