Capítulo 01 - O filho do vilão

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   - Mais um monstro atacou no centro da cidade velha, parece que essa galera tem seu lugar favorito. – O jornalista dizia com certa apatia, como se não fosse o terceiro ataque apenas aquela semana. – Evitem passar pela praça do relógio.


Só havia oportunidade de ouvir as notícias quando tinha uma pausa entre as entregas. Estava sentando na moto, próximo da porta principal do restaurante ao qual trabalhava como entregador, naquele momento o fluxo não era tão intenso, então podia ficar confortável e ouvir o que tinham a dizer sobre os últimos acontecimentos da semana em Belém. Não era tão incomum surgir algum vilão, monstro ou algo estranho que atrapalhasse nossa vida cotidiana na capital belenense. Costumava estar alheio a tudo, principalmente porque minha vida sempre foi inserida na dinâmica herói e vilão, mesmo que tentasse a todo custo não me envolver.


- Eita, aquele não é o tal filho do maldito? – Ouvi alguns dizendo enquanto passavam na calçada. Era bom escutando especulações ao meu respeito. Era irritante. Acho engraçado como as pessoas se sentiam à vontade em olhar na minha fuça e fazer comentários maldosos. Normalmente ignorava.


Coloquei o capacete da moto cobrindo meu rosto. Uma das caras mais conhecidas do Brasil, não por um bom motivo. Não era nenhum super herói voando com capa querendo salvar o mundo de algum megalomaníaco com necessidade de poder, era filho de um megalomaníaco com necessidade de poder que estava desaparecido a vinte anos mais ou menos. Deixando um garoto de doze anos em um orfanato sozinho abandonado, enquanto a humanidade esperava de mim que me tornasse tão cruel quanto meu progenitor. Era monitorado constantemente pelas forças nacionais que sabiam meu endereço, meus passos e as vezes os via andando a paisana querendo saber onde estava.


Por isso conseguir um emprego descente era quase impossível, meu rosto rodava cada rede social o tempo todo, não que soubesse sobre o que cada um estava escrevendo, já que não tinha nenhuma dessas merdas, mas era difícil não entender quando alguém apontava a câmera do celular, e depois começava a digitar enfurecidamente. E nem vou falar da minha vida amorosa, essa sim era lastimável.


Até pensei em ter uma vida normal, chegar na faculdade, me formar, mas a pressão foi tão grande que apenas desistir e fiquei procurando alguns serviços que ao menos me ajudassem a sobreviver. Ser entregador, ter minha própria moto paga a muito custo era nobre na minha opinião, conseguia meu dinheiro tranquilo toda semana, pagava as contas, alimentava meu gato, o tapioca e vivia como deveria sem me tornar algo que as pessoas esperavam a todo momento.


- Cauã, aqui, querido. – A dona do restaurante Vitória Regia era realmente uma pessoa gentil e acolhedora. Me entregou as marmitas que deveriam ser entregues no almoço. Dona Rosa deveria ter seus cinquenta anos, era viúva e tinha cinco filhos, cujos quais não conseguia manter contato porque eram um bando de ingratos sem noção. Se tivesse uma mãe como a Dona Rosa com certeza iria estar ajudando no restaurante e cuidando dessa mulher como se fosse o bem mais precioso.


- Égua, tu tens visto o noticiário? – Ela indagou querendo conversar, as vezes ficávamos de noite falando sobre vários assuntos. Era uma mulher solitária e que desejava um pouco de companhia. Bom, erámos os dois assim.


- Mais ou menos, só alguns ataques corriqueiros, nada complicado. – Comentei colocando as marmitas dentro da bolsa hermética.

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⏰ Última atualização: Feb 10, 2023 ⏰

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