Jogo do Contente

Confronto

Eric está sozinho na Sala de Dança da Ruth Goulart. As portas da entrada e da saída estão fechadas. Os fones sem fio estão bem confortáveis em seus ouvidos para ele poder escutar a música sem fazer barulho algum. Ele também não quer chamar atenção indesejada para si num momento tão especial e único como esse.

O jovem está ensaiando passos de uma coreografia que veio do nada na sua cabeça durante a aula de Geografia que aconteceu momentos antes. Novos passos vem há todo momento e ele agradece por estar tão inspirando hoje. Se tiver sorte, irá postar um novo vídeo mais tarde na sua conta do Tiktok e Instagram.

Quando Eric vai fazer um passo para a direita que requer um certo esforço à mais para poder finalizar e que já lhe custou uns bons três minutos para aprimorá-lo, o garoto escuta um barulho vindo em sua direção, apesar da música tocando alto em seus tímpanos. Parando no ato, ele tira os fones e fica imóvel para poder indentificar se é alguém ou se foi apenas o sinal tocando para anunciar o fim do intervalo.

Alguns segundos se passam até que ele escuta outra coisa. Apesar de parecer loucura, tal barulho se assemelha com trotes de um cavalo ou algo assim. Não há tempo nem de se virar para ver o que é e entender o que está acontecendo direito, pois logo em seguida sente algo puxando a gola da sua camisa com força para frente. Após um intervalo de tempo assustador, Eric só consegue ver o rosto de João parcialmente e depois um mar de estrelas por causa da cabeçada que o cabeluda lhe dá.

- Quem foi que falou que tu vai ser o príncipe da Poliana na festa dela, cara de jumento? - diz João, cuspindo (literalmente) em cheio palavras na cara de Eric. Ele está parecendo puto da vida por uma razão que Eric não compreende. - Sério, eu aceito qualquer pessoa da escola ser, menos tu!

Eric, confuso e ainda vendo algumas estrelas circulando em torno da cabeça do seu agressor, tenta se desvencilhar, sem sucesso.

- Que diabos cê tá falando, cara de cu? Eu... ai, desgraçado, me solta! - exige, empurrando com força o outro. Nada acontece e João apenas o encara com uma expressão assassina no rosto. Eric sente dores por conta da cabeçada que levara. Está se sentindo meio zonzo também. - Eu juro que não sei o que você tá querendo, seu bruto! Agora me solta, ou...!

João, que está claramente fora de si, aperta mais forte o braço de Eric, que geme por conta da dor.

- Ou o quê, meu chapa? Vai chamar a mamãe, hum?! - explode, em tom desafio. O garoto inala o bafo de café de inimigo a cada palavra que ele fala. Acha que vai desmaiar ou vomitar em cima de João caso ele não o solte logo. - Não quer resolver isso como um homem, não?! Ah, me desculpe, me desculpe! Sempre me esqueço que tu é um moleque e que sempre foge das brigas quando as coisas apertam!

Mesmo molenga, Eric consegue reunir forca sufi e enfim se desvencilha de João. Por conta da ofensa pessoal, ele sente raiva misturada com adrenalina emando pelo corpo magrelo. Para sua sorte, a dor na cabeça e o enjôo estão sumindo aos poucos. Apesar disso, ele compreende que não pode brigar, pois sabe que agora levaria a pior caso o faço. Eric então apenas trinca os dentes e se move mais para longe do cacheado.

O rapaz olha para cima do ombro de João, para vê se a porta atrás dele está aberta, com uma vaga esperança de alguém adentrar no recinto para socorrê-lo. Infelizmente, a mesma continua fechada igual da última vez em que ele a vira, e ninguém vem ao encontro dos dois garotos. A única coisa que ele escuta é a respiração forte de João que está absurdamente quente.

- Não vai falar nada, não? - inquiri João, com um olhar intenso. - Não adianta ficar mudo, playboyzinho! Fala logo, senão te dou outra cabeçada. Juro que dessa vez será bem mais forte que a outra!

Eric pisca, nervoso. Dá mais alguns passos para trás, e sente algo duro tocar suas costas. Ele agradece a maldita porta que vai tirá-lo dali antes que seja agredido outra vez - ou assim espera. Basta pegar na maçaneta, gira-la com cuidado e ser rápido o suficiente.