Depois daquela noite Dominic desapareu, estávamos em uma quarta feira e nada dele ir para a escola ou mandar alguma mensagem, estava incomodada e pensativa nos últimos dias, primeiro ele aparece do nada, gruda em mim mas sem parecer muito feliz em fazer isso, então me pede para ser cuidadosa e agora ele some depois de eu ter visto aqueles olhos brilhando. Quem é você Dominic Chaos?
Estava olhando para a janela na aula de história ignorando completamente a explicação sobre deuses da mitologia, por mais que o assunto fosse interessante, o que mantinha minha cabeça ocupada era tentar achar uma explicação plausível. O sinal tocou e sai para o almoço com Jason, enquanto ele falava horas sobre a nova manobra no skate que estava aprendendo, eu brincava com um pedaço de batata no meu prato.
- Hope, está tudo bem?
Jason interrompeu seu entusiasmo quando percebeu que eu não prestava atenção nele.
- Está sim, é só que... Bom - Murmurei - Você tem visto o Dominic por acaso?
Jason fez uma cara estranha, como se tivesse dado conta pela primeira vez de que Dominic sumiu desde os fogos na feira.
- Para falar bem a verdade, não, mas ele me mandou uma mensagem no domingo dizendo que se eu estivesse precisando de alguma ajuda, era para ligar para ele.
- Entendi. - tentei parecer despreocupada.
- Sabe, hoje o professor de matemática deixou o exame para a próxima semana! E com consulta! Eu estou no céu.
Voltei a mexer na batata do meu prato ainda pensativa me esforçando para interagir um pouco mais com Jason. Mais um dia se passou e nada de Dominic, fui a secretaria no dia seguinte deixar alguns papéis do grêmio e assim que passei pela porta de vidro, a figura de um menino alto, de costas apoiado na bancada era muito semelhante a dele, quando se virou, era apenas Mike do clube de debate.
- Bom dia Evans! Te vejo na aula de literatura?
Meio decepcionada fiz um sim com a cabeça e ele saiu me dando um tapinha nas costas, estranho ele me cumprimentar já que não olha na minha cara desde o ano passado quando sem querer eu estraguei seu discurso jogando no lixo por acidente. Deixei os papéis com a secretária e peguei novos para o grêmio preencher, ao conferir tudo enquanto andava, pisei sem querer em uma ponta do meu cadarço mais solta e quando estava prestes a derrubar tudo no chão, uma mão leve me segura nos ombros impedindo com que eu caísse.
- Te peguei.
Disse a garota com voz doce e suave, a pele negra perfeita e o sorriso aconchegante atrás de seus óculos de grau redondos me faziam ter a sensação de que já a conhecia de algum lugar, seu rosto e sua voz não me eram completamente estranhos.
- Muito obrigada! Se não fosse por você eu teria espalhado todas essas folhas no chão.
Disse sem conseguir piscar, os olhos cor de mel brilhavam nela.
- Eu me chamo Ângela Gratia, muito prazer!
Apertei sua mão macia e sorri.
- eu sou a Hope, Hope Evans, é nova aqui?
Ela fez um sim com a cabeça e começamos a conversar, Ângela era educada e gentil, por onde passava sempre cumprimentava as pessoas ou oferecia alguma ajuda, estar com ela fazia com que eu me sentisse bem, entramos juntas em algumas aulas e quando o sinal tocou no fim do dia já me sentia sua melhor amiga.
- Ângela, foi muito bom conhecer você! Te vejo amanhã?
- É claro!
Nos despedimos e entrei no ônibus com Jason.
- Jason, a Ângela é incrível! Sabia que ela entende de moda e também de pinturas?
- Eu percebi, era só disso que vocês duas conversavam.
Jason colocou seu capuz e cruzou os braços olhando para a janela.
- Mas o que é isso Walker? Está com ciúmes da Ângela?
Ele apenas me olhou e repetiu minha última frase fazendo uma voz fina e esganiçada, eu ri da situação e o abracei contra sua vontade. Quando estávamos chegando em meu apartamento olhei para cima na vista da minha sacada onde a porta de vidro que dá acesso para fora estava aberta e a rede de proteção rasgada, logo pensei em minha gata Jujuba que estava lá dentro, olhei para Jason e corremos sem parar em direção ao meu andar, quando entramos vimos que a porta estava aberta e meu apartamento estava inteiro revirado, um sentimento de pavor e alívio se misturavam quando peguei Jujuba no colo tirando-a de baixo da mesinha de centro na sala. Jason pegou um guarda chuva encostado na parede e me pediu para ficar perto da porta, olhou em cada cômodo, em cada canto mas não encontrou ninguém.
- Que estranho, parece que nada foi roubado, quem entrou aqui foi apenas para bagunçar.
Fui ao meu quarto conferir meus quadros encomendados, meu coração disparou ao notar que apenas um foi danificado, alguém tentou queima-lo, era o quadro com os olhos de Dominic Chaos.
Me senti completamente desprotegida, exposta e indefesa, com a ajuda de Jason, arrumamos tudo no lugar novamente, Jason ligou para a senhora Lewis dando uma desculpa para seu atraso, não queríamos assuta-la então nem contamos nada, também liguei para a polícia e relatei tudo o que aconteceu, aparentemente ninguém no meu prédio ouviu nada, mas e como poderiam? Se já são extremamente barulhentos todos os dias? Mais a noite meu celular toca, era Ângela.
- Oi Hope! Comprei ingressos para ver um musical ainda hoje, quer vir comigo? Tenho um ingresso sobrando.
Por mais que aquilo fosse divertido, não estava no clima.
- Oi Ângela, olha hoje não vai dar, eu tive alguns problemas em casa e não me sinto muito disposta.
Contei a ela o que aconteceu que parecia estar extremamente preocupada comigo, tentei acalma-la e fiz com que acreditasse em mim, que estava tudo bem, ela insistia que queria vir passar a noite comigo mas disse que não tinha tamanha necessidade. Alguns minutos após minha ligação com Ângela terminar, alguém bate na porta umas três vezes, olhei para Jason confusa que estava quase saindo para a cafeteria e ele abriu a porta.
- O que você está fazendo aqui?
Perguntei congelada encostada no sofá, era Dominic entrando com uma aparência de cansaço extremo, ele carregava sua mochila nas costas e evitava olhar em meus olhos.
- Jason me chamou.
Ríspido e sem expressão alguma ele respondeu como de costume. Lancei um de meus olhares mais fuzilantes para o ruivo pensando o que se passava na cabeça dele no momento em que chamou Dominic Chaos para meu apartamento minúsculo.
- Ele disse para chama-lo se tivesse com problemas, e bom - Tentou se explicar - como não queria deixar você sozinha, chamei ele já que não vou poder passar essa noite aqui.
Suspirei irritada, mas não podia fazer muita coisa agora, aquela situação era completamente constrangedora, queria perguntar a Dominic todas as minhas curiosidades mas meu orgulho falava mais alto naquele momento, Jason saiu fechando a porta e me deixando ali sozinha com Dominic. Arrumei o sofá da sala com travesseiros e um cobertor quente enquanto ele usava o banheiro, quando terminei tudo e estava indo para meu quarto, ao parar na porta vi a imagem de Dominic sentado na beirada de minha cama analisando o quadro queimado que fiz dos olhos dele.
- O que você está fazendo?
Ele não pareceu se assustar, dava a impressão que ele sabia que eu estava o observando.
- Esses olhos são os meus?
Engoli em seco quase suando frio, ele perguntou sem tirar os olhos do quadro queimado até a metade.
- Eu perguntei primeiro.
Ele colocou o quadro em cima da cama e se levantou indo em direção aos outros pintados na parede.
- Passei por aqui e como a porta estava aberta, vi seus desenhos, até que você não pinta tão mal assim, já vi piores.
Essa foi a crítica disfarçada de elogio mais estranha que eu já recebi.
- Eu não sei se devia te agradecer ou ficar levemente irritada com esse seu comentário - respondi me aproximando lentamente.
- Sua vez de me responder, são os meus olhos naquele quadro? E por que ele é único queimado?
- O invasor que queimou ele, não sei talvez ele tenha achado que o desenho era inferior aos outros.
Não consegui controlar meus sentimento de dar uma provocada. Dominic se virou para mim com um meio sorriso.
- Não era exatamente essa a pergunta que eu queria que respondesse mas vou levar como um sim.
Ele passou por mim e antes que saísse do quarto pousei minha mão em seu ombro e ele parou de andar me olhando por cima dos ombros largos definidos.
- Espera, você sumiu desde a feira anual, está tudo bem?
Talvez essa fosse a pergunta menos constrangedora que eu conseguia pensar em perguntar naquele momento.
- Não exatamente, mas não tem com o que se preocupar.
Ele então saiu do quarto me deixando com aquela cara de patética novamente, é por isso que eu não o suporto. Durante a manhã enquanto tomávamos café o silêncio era constrangedor, Dominic mal tocava na comida, mas parecia estar descansado. Eu não conseguia parar de pensar se meu apartamento estaria seguro sozinho durante o dia com minha gata aqui dentro, foi então que pensei em deixar Jujuba com a senhora Lewis ao menos até que me sentisse segura novamente, dei a desculpa de que iriam detetizar o local.
- Você pode ir direto para a escola, vou passar na cafeteria deixar Jujuba.
Resmunguei me levantando do banquinho giratório e deixando a louça suja na pia.
- A cafeteria é a caminho da escola, e eu estou de carro, só dessa vez aceite a carona e não seja teimosa, pode ser?
- Isso era para ser um convite gentil?
Questionei observando Dominic se levantar e trazer a louça que ele usava pondo na pia ao meu lado.
- Pegue suas coisas.
Queria mesmo poder discutir com ele mas respirei fundo e concordei, apenas peguei tudo o que precisava, incluído o moletom azul de Dominic que estava a tempos comigo.
- Aqui está seu moletom, obrigada por empresta-lo aquele dia.
Pressionei o mesmo contra seu peito passando por ele pegando Jujuba nos braços. Durante o trajeto até a cafeteria, Dominic dirigia rápido e atento sem dizer uma palavra, ao estacionar na frente do local tentei sair do carro mas ele ainda não havia destrancado a porta.
- Eu levo a gata, se você descer vai querer ficar conversando e vai nos atrasar.
- Você faltou praticamente a semana toda, um atraso não quer dizer nada.
Retruquei impaciente, Dominic tirou Jujuba dos meus braços e me lançou um olhar de "conversa encerrada", ele abriu a porta e saiu com Minha gata, poucos segundos depois Antony aparece dando duas batidinhas no vidro do carro e eu o abaixei.
- Indo para a escola? - perguntou se debruçando na janela.
- Sim, e você? Não tem aula?
- Me formei ano passado, faço faculdade a noite.
- É mesmo, por isso sempre reveza os horários com Jason.
Me lembrei desse fato aleatoriamente, conversamos mais alguns segundos e Dominic entrou no carro bruscamente batendo a porta.
- Vocês podem conversar depois, até mais.
Ele levantou o vidro do meu lado nem me deixando terminar de conversar com Antony e deu partida, Dominic sendo um grosseiro como sempre, que novidade. Ao chegar na escola não pensei duas vezes em andar mais rápido que ele, mas era uma tentativa frustrada, ele voltava a ser como minha sombra, entrei na sala e logo vi Ângela guardando um lugar para mim ao lado dela na aula de química, Dominic havia se sentando com Jason que me deu um breve cumprimento a distância.
- Como foi noite passada? Dormiu bem?
- Foi um pesadelo! Nem quero me lembrar disso.
Olhei para trás de relance e vi Dominic virar o rosto rapidamente para lado tentando disfarçar como se não estivesse prestando atenção na conversa. O dia passava lentamente, para fugir de Dominic e seu grude desnecessário, tentava puxar Ângela para as atividades me fazendo companhia, já que Jason queria incluir o senhor grosseiro em tudo o que fazíamos. No final do dia guardava meus pertences na mochila quando percebi que eu e Ângela havíamos trocado nossos cadernos por engano, se eu corresse, conseguiria chegar nela a tempo antes se fosse embora e eu perdesse o ônibus, ao me aproximar do estacionamento vi Jason me aguardando do lado de fora para entrarmos juntos, fiz sinal para que esperasse cinco minutos, andei entre os carros e vi Ângela de costas porém ela não estava sozinha, parecia estar discutindo com alguém, me aproximei cada vez mais até reconhecer o par de olhos avermelhados e os cabelos pretos sedosos, era Dominic Chaos, por que estavam discutindo assim? Será que já se conheciam e eu não sabia? esgueirei-me entre os carros até me aproximar um pouco mais
- Dominic eu pedi que não fizesse isso, você só tinha um único objetivo.
Ela parecia verdadeiramente incomodada.
- Eu estou fazendo o meu trabalho mas a coisa está piorando! Temos que tira-la da cidade imediatamente até você sabe quem aparecer de uma vez.
Tentei ouvir mais alguma coisa mas eles estavam quase sussurrando agora, sai de trás dos carros tentando disfarçar mas acho que não deu muito certo.
- Oi, desculpa eu não queria atrapalhar a conversa, mas eu preciso perguntar, vocês já se conheciam?
Aquela conversa dos dois me deixou confusa e curiosa, Ângela se virou para mim arrumando os óculos no meio do rosto desajeitada e levemente nervosa.
- Então, bom é que...
- Isso não é da sua conta Evans.
Dominic passou pisando firme por nós duas interrompendo Ângela.
- Eu te explico mais tarte pode ser?
Antes que eu respondesse ela se afastou entrando em seu carro e deu partida saindo do estacionamento. Mas o que é que está acontecendo?
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Destinada Ao Inferno
RomansaEm Port Angeles mora Hope, uma jovem de 17 anos que perdeu os pais muito cedo e vive uma vida simples sem extravagâncias até conhecer um cara estranho de sobretudo preto, depois disso nada na vida da garota voltaria a ser o que era. Quando menos esp...