Primavera de 1986. Parece radiante, não? Há dois anos atrás, quando Samantha Henderson se mudou para Hawkins com o objetivo de terminar seus estudos, saber da existência de um mundo invertido não estava em seus planos.
Além disso, se apaixonar pelo...
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UPSIDE DOWN. Thursday, March 27.
O barulho dos relâmpagos e as partículas de ar do Mundo Invertido envolviam meu corpo enquanto eu verificava a fortaleza que havíamos construído. Tinha perdido a noção de quantas vezes voltava para olhar as cercas e cabos dos amplificadores. Se estavam firmes o suficiente, ou se os morcegos seriam capazes de derrubá-los. Tudo estava de acordo, mas uma sensação de que algo faltava me perturbava.
— Se continuar assim, vai abrir um buraco no telhado.
Despertei dos pensamentos assim que a voz de Eddie ecoou pelos ares. Havia me esquecido completamente da sua presença ali.
— Desculpe, é que… — Deixo escapar uma risada sem jeito, o nervosismo transparecendo. — Eu…
Aperto o botão para diminuir o volume da música e encaro seus olhos aflitos, me observando caminhar em círculos. Estava dando tantas voltas que nem tinha notado.
Em momentos assim, não conseguia ficar parada. Era como se fosse um mecanismo. Meu corpo precisava se ocupar para evitar que eu surtasse ou gritasse. Nem a música era capaz de me distrair.
— Não precisa se desculpar. — Ele deu duas batidinhas ao seu lado, tranquilamente. — Senta aqui.
Não entendia como ele estava tão calmo. E como sua voz suave espantou um pouco do meu nervosismo.
Suspirei pesadamente e deixei a arma de lado. E, assim que me sentei, minhas mãos envolveram meus joelhos ao encarar o horizonte. Aquele mundo era tão vasto e ao mesmo tempo tão assustador. Vecna estava a apenas alguns quilômetros de distância, em sua mansão tenebrosa. Seus cães de guarda sobrevoando as árvores secas.
— No que está pensando?
Tento afastar a imagem do Vecna em minha cabeça, fixando meu olhar em Eddie. Analiso seu rosto, os fios de cabelos levemente jogados para trás e seus lábios entreabertos.
— Em como você fica bonito de bandana. — A voz saiu baixa, mas o suficiente para colocar um sorriso presunçoso em seu rosto.
— Bem, você não está errada. — De maneira bem convencida, ele afirma. Contudo, o sorriso durou pouco quando percebeu meu semblante angustiado. — Mas algo me diz que não é só isso.
Meus braços firmaram o aperto em volta das pernas, e um suspiro pesado escapou dos meus lábios.
— Estou nervosa. E com medo. — Encosto o queixo nos joelhos, o olhar percorrendo as nuvens. — Na verdade, estou apavorada.
Munson esboçou um semblante preocupado, apoiando suas mãos no chão e trazendo seu corpo para mais perto.
— Se ajuda em algo, também estou apavorado. — Ele ri. — Quase cagando nas calças.
