#| ᴘʀᴏʟᴏɢᴜᴇ

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SHIBUYA era mais um dos bairros nobres e belos do Japão. Sua forma acolhedora e aconchegante era tão tentadora que, as vezes, me fazia ter pensamentos de que, algum dia, seria minha nova morada. Nossa nova morada.
A sete meses atrás, eu possuía uma visão tão carinhosa do bairro, uma visão tão pura que era repleta de risadas e brincadeiras feitas por minha pequena família. Não éramos o tipo de família ideal para uma propaganda de margarina, ou o tipo de família que serviria para passar nos comerciais da TV nos fins de ano. Éramos realistas, mostrávamos a realidade dura do que era uma família. Brigas, intrigas, problemas do cotidiano e, amor.
Sim. Mesmo que com esses certos defeitos que, acredito eu, que toda família tenha, nós sempre sabíamos a forma ideal de nós desculparmos e aparar nossos erros.

Estive em Shibuya para diversos fins. Trabalho, missões, férias, ou até mesmo para algum evento que a agência em que eu trabalhava, fazia.
Lembro-me das vezes em que programavamos por algum acaso, de comparecermos ao bairro para aproveitamos as festividades de fim de ano que somente o bairro propunha. As comidas típicas, as bebidas, os doces que meu Gojo amava.
Mas, aquela não era a SHIBUYA que eu conheci. Não era o bairro de que eu me lembrava. Shibuya estava em caos, destruição, chamas e mortes. Este, com toda a certeza, foi um dos motivos para que ajudasse a fazer com que meu coração doesse lentamente.

Eu fui obrigada a escolher entre minha vida, ou a vida de todos ao meu redor. Eu tive que abandonar tudo, para que eles pudessem viver, para que eles pudessem ter pelo menos, uma chance. Então, eu escolhi morrer. Poderia ter acontecido de outra forma mas, honestamente, foi impulsivo e doloroso.
Na minha cabeça, sete meses fora do Japão estudando formas de fazer com que Yamneth retornasse para meu corpo, me ajudaria a acabar com tudo isso, com toda a farsa, com todos os planos que tinham contra mim.
Não podia dar indícios a ninguém de que estava viva, então, usar energia amaldiçoada durante esse período foi mais difícil do que imaginei. Esconder-me no Egito para procurar vestígios do último pedaço do coração da Rainha das maldições era a opção.
Eu achava que estava fazendo tudo correto. Achava.

Tudo estava perdido.

Me encontrei com Itadori que estava encolhido perto de destroços de, o que eu acreditava serem de um pequeno edifício. Ele chorava e soluçava, dizia palavras desconexas sobre Nobara, Megumi e Satoru.
Meu coração teve vários espasmos. Meu corpo já pedia por descanso e um pouco mais de cuidado. Me senti tonta por alguns segundos, a matéria ao meu redor parecia estar se dissipando.
Mesmo que eu tenha feito tudo o que fiz para protege-los, eu sinto que tudo foi em vão. E mesmo assim, sinto que eu tinha uma parcela de culpa naquilo.
"Fria, egoísta. Você foi Egoísta, Keira!" A frase que me assombrava todos os dias poderia ser dita por qualquer outra pessoa, mas não, ela foi dita pela pessoa que eu amo, pela pessoa que eu jurei que me entenderia. Ela foi uma das pessoas que eu não neguei em me sacrificar.

O que adiantou meses escondida fazendo com que eles acreditassem naquela mentira que criei em questão de segundos? Era aquilo, ou mortes. Mas, pelo visto, não adiantou muito.
A exatamente dois meses eu me reencontrei com Satoru e, aquele foi o reencontro mais doloroso em toda minha vida. Pela segunda vez, eu o ví chorar, sim. O choro não foi igual quando nos casamos, ou quando Koji, nosso filho, nasceu.
Aquele era um choro de alívio por finalmente me ver novamente, viva. Era um choro de desespero e de meses em luto.
Aquilo era perigoso, Céus, como era. O desespero por ver que Satoru havia me encontrado me deixou em pânico. Ninguém deveria saber que eu estava viva, ninguém poderia saber que eu estava a meses escondida no Egito, tramando contra o alto escalão e o clã Zen'in.

Eu até hoje não consigo entender em como ele me encontrou. Chego a pensar que possa haver um dedo de Iori no meio disso. Não havia como ele ter me achado, eu era outra pessoa. Eu estava diferente. Eu estou diferente. Mesmo que a dor tenha me tornado forte nestes últimos sete meses, uma parte de mim está quebrada. Eu me sinto horrível em ter abandonado meus filhos. Koji tinha apenas dois anos e, dentro de algumas semanas ele completará três. Ele era apegado a mim, e as vezes me pergunto como Satoru soube lidar com minha "perda" e em ter que dizer para aquela criança, que sua mãe estava morta. Que ele nunca mais iria me ver, dormir entre mim e Satoru. Ele nunca mais iria me ouvir contar histórias para dormir. Nunca mais iriamos ser quem éramos.
E também, Megumi. Ele não era meu filho, mas tinha meu sangue. Eu prometi que cuidaria dele, mesmo que isso tenha causado minha morte. Eu jamais deixaria Megumi sofrer. Mas, mais uma vez, eu falhei.

Eu respirei fundo e contei até três.

Respire, você precisa se acalmar para poder ajudá-lo.

Eu encarei Yuji novamente. Aquela cena fez com que meu coração acabasse de se partir.
O jovem rapaz que era cheio de energia e alegria. O garoto que amava ajudar as pessoas, estava quebrado. Estava em pedaços, assim como eu. Mesmo que eu não tenha entendido logo de cara, eu pude observar Itadori encolhido com as mãos tampando seus ouvidos e seu peito subindo e descendo freneticamente. Seus olhos estavam fechados mas, as lágrimas, elas escorriam como cascatas. Seus soluços fizeram com que meu coração doesse mais e mais. Yuji estava sofrendo.

E, mais uma vez, eu me aproximei do garoto e toquei em seus braços para tentar acalma-lo, mas recebi apenas um tapa em minha mão e um Itadori cego pelo pânico. Seus olhos ainda fechados, estavam murmurando os mesmos nomes de antes, Megumi, Nobara e Gojo.

Minhas mãos tremiam, minha garganta estava se fechando. O ar faltava de meus pulmões, e olhar para Itadori naquela situação, só piorava tudo.
Ousei declarar a ele de que eu estava aqui, mesmo tentando que minha voz não falhasse ou me abandonasse por conta do choro que estava preso em minha garganta.

-Ei...Sou eu, Keira-Sensei.

Eu espero que você, assim como os outros, não me condene. Tudo o que eu fiz, tudo o que faço e farei, será por vocês. Eu luto, eu mato, eu morro pela proteção de todos. Eu me sacrifico novamente se tudo sair errado, mas, por favor, não me condene.

O que você faria para proteger a todos que você ama? Porque, honestamente falando, eu faria tudo de novo para que todos sobrevivessem. E antes que me julguem como egoísta, fria e sem amor no coração. Eu quero que saibam que, eu morri por eles.

 Eu quero que saibam que, eu morri por eles

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𝐀𝐋𝐋 𝐅𝐎𝐑 𝐔𝐒; 𝑺𝒂𝒕𝒐𝒓𝒖 𝑮𝒐𝒋𝒐Onde histórias criam vida. Descubra agora