3. Out for blood

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A faca gasta de Jungkook raspava o cimento com um guincho esganiçado.

6 meses se passaram naquele inferno, 24 semanas desde que ele presenciara os assassinatos dos seus amigos, e a posterior ruína do mundo como ele conhecia. 180 dias desde que ele ouvira a voz de sua mãe pela última vez — e Deus, como ele queria voltar no tempo para ouví-la de novo, apenas para sentir as mesmas sensações de novo. O tédio. A calmaria. A trivialidade da rotina. Coisas que pareciam ter sido uma vida atrás.

Jungkook havia chegado quase morto ao acampamento. Talvez fosse o universo tentando recompensá-lo de alguma forma, talvez tenha sido o remorso de Todo-o-Poderoso, mas, de alguma forma, depois da batalha com o monstro, Jungkook conseguiu andar até uma cabana na floresta, na qual estavam um grupo de sobreviventes.

O cumprimento inicial foi vômito seguido de desmaio. Cordial, adequado à situação, pensou ele. Mas aquilo era só uma pequena nojeirinha comparado ao que ele havia visto, comparado ao que todos haviam visto. Naquele grupo de estranhos, com vidas muito distantes umas das outras, a dor era o elo comum que os unia e integrava. Todos ali haviam perdido alguém: familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, pets de estimação, bebês e idosos.

Os alienígenas, ou o que quer que fossem aquelas Coisas, não tinham compaixão ou piedade por ninguém. 3 dias e a porra do mundo inteiro estava tomado, isolado e vulnerável. As embaixadas foram atacadas, exércitos inteiros explodidos, queimados, afogados, asfixiados, todo tipo de morte bizarra. As torres de energia foram derrubadas, e na pressa da evacuação, fábricas e usinas nucleares degringolaram pela falta de manutenção, causando acidentes quilométricos. Até onde Jungkook sabia, a região metropolitana inteira de Seul estava contaminada por radiação, inabitável.

Estar longe não era motivo de alívio ou comemoração, era um castigo, uma promessa de que, em algum dia, a névoa contaminada chegaria até ele, e o engoliria vivo. Será que foi isso que sua família sentiu? Ou será que eles morreram pelo impacto? Talvez até mesmo pelo calor. O pensamento era ao mesmo tempo tranquilizante e enfurecedor.

Sua família não sobrevivera para encarar os monstros, para viver naquele mundo decadente horrível, para lutar por Jungkook, não, eles morreram em casa, juntos, poupados de uma vida de ainda mais dor. Agora Jungkook estava realmente sozinho, fadado a carregar o peso do luto dos três familiares de uma vez, principalmente o de Eunji...

A sorte de Jungkook durara muito pouco. Inicialmente, sua estadia temporária no acampamento foi de uma semana, para um mês, e além. E então, ele já não sabia mais por que ele iria querer ir embora, então ele ficou. Ficou o suficiente para conhecer o nome e a história de todos, o suficiente para brincar com as crianças e ver seus dentes de leite caírem, o suficiente para ser designado a tarefa da vigia noturna e proteger a todos.

E Jungkook cumpriu o trabalho muito, muito bem.

Então veio a noite de natal, e tudo foi por água abaixo

— Quais os planos pra hoje, JK?

O rapaz se virou surpreso para o colega de vigília, Não costumava haver ninguém no salão naquele momento, era o horário em que a maioria saía para caçar ou pilhar as cidades mais próximas.

Jungkook deu de ombros.

— O de sempre, essa noite é minha.

— Ah, qual é? Logo no natal? Muito azar! — O homem lhe deu um tapinha nos ombros, sentando ao seu lado enquanto Jungkook comia ávido uma lata de milho cozido gelado.

—Não, tá de boa. Eu não estou muito no clima de comemoração mesmo, vou estragar a vibe de vocês.

Sua expressão então mudou, e Jungkook percebeu o momento em que os olhos do homem se encheram de pena. Ele apertou um de seus ombros com reafirmação, escolhendo as palavras com cuidado.

Gênesis | Vminkook [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora