Capítulo 34

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POV. Yoongi

— Ele está querendo sair! - gritei, correndo e esbarrando os ombros nas paredes - Hoseok, se ele sair vai destruir o domo e libertar os Fugitivos!

Me joguei dentro do banheiro da mansão. Jin e os outros tinham saído para tentar encontrar a porta, mas Mammon estava furioso.

Fiquei tão concentrado em salvar Jungkook, que consegui mantê-lo quieto por um tempo, mas assim que voltei ele estava agitado, querendo o controle de todo jeito.

Derrubei tudo que estava na pia e vi de relance meu reflexo no espelho, os olhos negros, as garras, os dentes pontudos e veias negras.

— SALVAR O JEON? SALVAR O JEON?! - Mammon berrava dentro da minha cabeça - EU SOU O DEMÔNIO DA GANÂNCIA E AGORA VOU SER REBAIXADO PORQUE UM VERME COMO VOCÊ FRUSTROU OS PLANOS DA RAPOSA!

Gritei, caindo no chão do banheiro. Hoseok já estava trancando a porta, mantendo nós dois e o demônio sozinhos. Tudo ao redor era escuro, era a presença de Mammon, agarrando, arranhando.

— Você está fervendo em febre! - Hoseok exclamou - Entra na banheira!

Eu só obedeci, a cabeça latejando, minha magia dando curto circuito. Caí dolorosamente dentro da banheira e a água fria me encharcou.

— VOCÊ NÃO É NADA SEM MIM! - Mammon urrava, seu ódio irradiando por meus poros, trincando espelhos, rachando paredes - É FRACO! UM GAROTINHO COM MEDO DOS PRÓPRIOS PODERES! VOCÊ ACHA QUE PODE CONTROLAR? QUE SEU NAMORADO ESTÁ TE ENSINANDO? É SÓ QUESTÃO DE TEMPO ATÉ QUE VOCÊ MATE ELE TAMBÉM!

As palavras atingiam fundo. Eu acreditava em cada uma. Minha magia estava furiosa também, mas eu não sabia se direcionava a raiva no demônio que me possuía ou em mim mesmo, que não conseguia fazer nada certo. Nada útil. Sempre destruindo. Sendo temido. Temendo a mim mesmo.

— E VOCÊ VAI MATAR! VAI MATAR O HOSEOK! - Mammon berrava, forçando, manipulando, exigindo - PORQUE É A SUA NATUREZA! VOCÊ DESTRÓI TUDO!

Gritei, minha cabeça quase explodindo. A água fria agora fervia. Bati com força na parede, as marcas das minhas palmas queimando a parede.

Hoseok se jogou em frente a banheira, colocando o espelho ali ao lado e me fitando com olhos escuros aflitos.

— Eu confio em você, Yoon. - falou baixinho - Se concentre em Mammon. Esse é ele falando. Não você. Só precisa esperar a tempestade passar.

Suas palavras tinham lógica. Eu sabia que tinham. Mas vendo um eu no espelho, babando sangue negro, com veias escuras e olhos pretos, furioso, irradiando maldade, a voz acima da voz de Hoseok, abafando.

— SEU PAI ACHA QUE VOCÊ É UMA ABERRAÇÃO! SUA IRMÃ VAI GRITAR E TE CHAMAR DE MONSTRO QUANDO DESCOBRIR!

Tapei os ouvidos, a comoção dentro de mim quase me rasgando ao meio. Um lado sombrio e outro furioso, um lado o demônio e outro minha magia.

Afundei a cabeça na água. Nem mesmo submerso a voz parou. Mas agora Mammon tinha diminuído o tom, soando muito mais debochado.

— Essa resistência é inútil. - ele disse - Você não tem propósito. Seja realista e acabe com esse sofrimento. Se não tiver coragem, é só parar de lutar. Eu faço por você. Eu tiro sua dor. Não vai significar nada. Você não vai ser mais do que um rato no esgoto.

— Yoongi. - Hoseok chamou - Não escute. Você vale à pena. Para mim. Para sua irmã.

— Quer minha opinião? - Mammon continuou, ignorando Hoseok - Está na hora de encarar que você não sabe o que está fazendo e não vai fazer falta a ninguém. Acabe com isso agora. Está me ouvindo, Yoongi? Acabe com isso.

— Não pode deixar Haerin sozinha. - Hoseok insistia - Ela precisa da sua ajuda. Eu preciso da sua ajuda. Me acompanhe nessa guerra. Mostre que você tem controle, que você vale à pena. Você só precisa expulsá-lo.

O silêncio tomou meu interior.

Eu lembrava de Haerin, minha irmãzinha caçula. Lembrava do beijo de Hoseok. Lembrava da guerra estava prestes a começar. E lembrava de Jungkook, o garoto que sofreu tanto e mesmo assim levantou, firme, não ficando para trás.

Ergui a cabeça para fora da banheira, a água escorrendo no meu rosto, minhas roupas submersas. Abri os olhos, firme.

— Fora. - exigi, o tom frio.

Meus olhos brilharam num roxo vivo e poderoso. Mammon gritou e foi jogado para fora do meu corpo, expelindo gosma preta, como água poluída criando vida no ar.

A forma era longa e monstruosa. As luzes do banheiro explodiram, mas Hoseok já estava em pé, empunhando uma lâmina em formato de raio.

Ele enfiou a adaga no peito de Mammon, a lâmina brilhou em vermelho e o demônio gritou. Então explodiu em chamas.

Hoseok caiu no chão, ofegante.

Me inclinei na borda da banheira, meu corpo cansado, mas mais leve. Mais vazio e silencioso.

Pela primeira vez, sentir minha magia era reconfortante. As palavras de Mammon agora eram insignificantes, uma lembrança dolorosa.

Hoseok começou a sorrir.

Seu celular apitou e ele pegou apressado.

— É o Namjoon. Eles sabem onde a porta está. Precisam da gente na divisa da cidade. Para impedir os Fugitivos de quebrarem o domo.

Assenti, ficando em pé. Minha força restaurada. Minha mente mais clara.

— Nos teleporte até lá. Temos uma guerra para vencer.

***

Como um meteoro atingindo o solo, Hoseok e eu chegamos no meio do campo de mãos dadas. A luz vermelha e roxa se misturando, irradiando eletricidade nos nossos corpos.

Os Caçadores já estavam ali. Quase todos. Dispostos como uma muralha vem armada. Soobin sorriu quando nos viu e Yoona assentiu orgulhosa.

Hoseok e eu viramos ao mesmo tempo. De um lado do campo ficava o domo e do outro a Floresta das Bruxas. Uma luz cinzenta subiu para o céu e meus pelos arrepiaram. A porta estava aberta.

Não demorou para começarmos a ouvir rosnados e correria. Atravessando as árvores, quebrando em seu caminho.

Primeiro vi uma matilha de cães. Eles uivaram em uníssono e vinham correndo para fora da floresta. Não eram cães comuns. As cabeças eram maiores, não tinham pelo e possuíam oito olhos, todos vermelhos e acesos como faróis. Os caninos à mostra, ferozes.

Atrás deles vinham um grupo de crianças com cabeças de abóbora. Eles carregavam machados e as roupas estavam manchadas de sangue.

Então tinham os outros. Uma legião de criaturas sobrenaturais que escolheram serem assassinas e desejavam destruir tudo que se pusesse em seu caminho.

O mais alto era um Minotauro, a cabeça de boi gigante. Vi zumbis se arrastando, bonecos com vida, um palhaço parecido com o IT. Fúrias, um bando de aves com cara de pessoas, que lendas diziam guardavam o inferno.

Pessoas com chifres, monstros com olhos humanos, dentes pontudos, fantasmas, vermes gigantescos, tudo isso envolto num fedor de morte nojento.

Os Caçadores se prepararam para a defesa. E os cães foram os primeiros a atacar.

Abri os braços, os dedos torcidos. Minha magia segurou os cães e jogou eles para trás. Virei e explodi uma bola de luz contra o peito do Minotauro que tentou bater com a clava no domo.

A batalha estourou ao meu redor. Mas eu não tinha tempo para ter certeza de que estavam todos bem. Se eles quebrassem o domo, se perderiam em outras cidades e nunca mais encontraríamos.

Um grupo de Leviatãs decidiu que eu era seu alvo. Eles vieram correndo, a cabeça abrindo ao meio como tubarões. Apertei meus dedos, agulhas roxas penetraram sua pele, erguendo-os do chão e jogando longe.

Eram muitos e continuavam chegando.

Esperava que Jin e os outros fechassem logo a porta.

[não revisado]

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