antinomia.

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d.evorador de cisnes 

algo sobre os cisnes.

Sobre a maneira irreverente como tratam a dor e a promiscuidade silenciosa que escolhem para chorar.

São criaturas majestosamente melancólicas por natureza e não há tempestade forte o suficiente para tirá-los do céu e, conscientes de sua beleza, nadam sobre as águas dos lagos, cuja fraca correnteza não é capaz de desfazer o espelho que se forma perante a superfície.

Jimin sabia que pertencia aos palcos. Sentia a emoção correr por suas veias, junto do sangue quente que pulsava diretamente do coração. Seu corpo era pura sintonia. Pura eletricidade magnética. Queimava em faróis vermelhos de latência, e o sopro de ventania que saltitava por baixo da coxia, sem ter sido convidado para participar do vislumbre, era ineficaz ao se debater e ricochetear contra seu rosto cálido e corado pelo esforço físico e mental.

Dançar era muito mais do que as horas intermináveis de prática, do que o pouco glamour que a maquiagem quase circense tentava esconder. Era mais do que o glitter, do que as penas grudadas nas saias rodadas e, com certeza, corria além da tortura expressa que a perfeição exigia de cada bailarino, sem execeção; a fome, o desespero, a dor lancinante de pele em cheque com os ossos proeminentes. Não era configurado para soar como poesia, mas era exatamente assim que transbordava.

Os instrumentos cantavam a melodia composta por Tchaikovsky, dono do berço que criou, da maneira mais clarividente que o homem poderia se permitir sorver, o epítome da criatividade musical. Jimin o ouviu pela primeira vez há tempo demais, ao ponto de não se recordar de como se sentiu ao ser tocado por aquele enxame sonoro escaldante.

Sua dramaticidade o fazia acatar as palavras com cuidado e primor, principalmente quando elas envolviam a austeridade que escolhera se mover para sobreviver. Jimin esticou a perna direita, tencionando os músculos para que a envergadura ficasse perfeita. A esquerda se manteve presa ao chão, firme, subindo e descendo conforme a pirueta exigia do ritmo. Os giros eram fortes, cortavam o ar e seguiam a composição dos violinos e violoncelos. Aos ouvidos, era apenas um choro amargo, violento. À Taehyung, era a moldura perfeita para conter Jimin e sua delicadeza cruel.

Ele o observava à distância, imerso na escuridão. O semblante plácido, amarescente, era só uma máscara que ele custou para manter. Sua tentativa era a de eclipsar a excitação que lutava para explodir.

Taehyung, todavia, era um homem controlado, uma vez que seus instintos pouco lhe serviram durante a vida que seguiu tortuosa.

Respeitar seus desejos, por outro lado, era algo que ele decidiu se presentear com frequência.

Jimin era a fonte do último deles.

Park Jimin.

Um pequeno, doce, e intocável dançarino.

Taehyung o vestiu como quis. Penteou seus cabelos macios, banhou-lhe o corpo e o fez dançar como uma bailarina dentro de uma caixa de música requintada e esmaecida pelo tempo. Seus dedos giravam as cordas que o davam vida, assim como sua vontade era o fogo que ardia dentro dos olhos opacos que Jimin lutava para fingir que não possuía.

— Você é morto por dentro, pequeno cisne. — Jimin apertou as pernas, joelho com joelho. Taehyung o colocou no colo, indefeso e suave, submetido a mãos macias e compridas. Ele já sentira todo seu corpo. O conhecia com a ponta da língua. A lembrança era vívida e sonora. Seus olhos se encheram de lágrimas em reflexo ao aperto dentro da garganta. Era constrangedor pensar que o fantasma do que Jimin foi em seus lençóis tinha cor de prazer e luxúria. — Por que insiste em lutar contra isso? — Taehyung também adorava beijar suas bochechas. Eram repetidos e apertados selares. Jimin sentia o rosto arder de febre onde os lábios deixavam uma clara reivindicação de posse e paixão.

Uma paixão obscura, velada pelo insano apetite de um homem que nunca se negou qualquer capricho.

Taehyung montaria por ele um palco, faria a lua caber dentro de um teatro. Usaria de seu dinheiro, de sua influência, para manter Jimin dentro de um globo de neve. O enfeitaria de diamantes.

Seu maior vício era assisti-lo gozar, se perder em meio ao prazer.

Tudo que o compunha; sua alma e respiração. Seus sonhos e anseios.

Jimin era dele.

Por inteiro. E nada mais.

E jimin seria dele até que se cansasse.

Eu nunca me cansaria de você.

Jimin apertou as unhas nas palmas das mãos. Havia um senso de luta brilhando por trás das gotas finas que escorriam até seu peito. A fantasia era apenas o conjunto que tornava toda aquela cena um verdadeiro poema de amor.

— Eu estou vivo.

E, como se para comprovar seu ponto, Jimin puxou uma grande quantia de ar para o peito, inflando como um balão. Taehyung o agarrou pelo pescoço e mordeu seu queixo com suavidade, mas igualmente em tom de punição.

— Eu amo seu gosto.

No entanto, Jimin decidiu que seria livre.

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⏰ Última atualização: Feb 21, 2023 ⏰

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