DOIS

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Em uma luta, Shoeface demoraria muito mais para ser nocauteado, mas com apenas alguns goles ele foi diretamente à lona.

Totalmente inconsciente. 

No momento, parecia que um grupo de sapateado estava participando de um festival muito importante em alto mar, já que estava sendo chacoalhado e sua cabeça doía demais.

— Sapato —  ele ouviu alguém chamando-o ao longe e ele franziu o cenho.

Ele não se lembrava da última vez que tinha bebido nessa quantidade. Como atleta, ele era bastante controlado com a questão de dieta e ingestão de bebida alcoólica.

E aquele estado de que ainda não está de ressaca porque ainda não dormiu direito, nem de total bebedeira porque já tinha dormido um pouquinho, era humilhante.  

— Ele tá bem mal, né? — Ouviu a mesma pessoa  de antes se pronunciar novamente — Fazia tempo que não via ele nesse estado.

Antônio ainda não tinha reconhecido, mas seu coração, sim, pois se manifestou involuntariamente.

Agora como ele tinha ido para ali, na porta da casa dela, ele não sabia. Nem se lembrava da última vez que tivera uma amnésia alcoólica, talvez na adolescência. 

Bem, naquele momento, ele não podia negar que estivesse se sentindo como um adolescente de fato.

— Amandinha — a palavra saiu involuntária de sua boca, mesmo sem ter consciência de que era mesmo ela que estava ali.

— Antônio, acorda! — ela ficou na altura dos olhos dele, esperando alguma reação. 

— Você pode me explicar o que ele tá fazendo aqui? — uma outra voz, mais grave, se sobrepôs — Ela não vai acordar, Amanda. Vamos entra antes que ele estrague a noite que era para terminar de forma maravilhosa. Cuida! — Heitor puxou o braço dela com um pouco mais de força, fazendo com que Amanda levantasse abruptamente. 

— Para! — a doutora se solta e o encara — Você acha mesmo que eu vou deixar ele sozinho aqui? Isso não se faz nem com desconhecido, imagina com melhor amigo. E, sim, você sempre soube que ele é o meu melhor amigo, ele estava aqui antes de você e vai continuar. Já era para ter se acostumado com isso. Eu nunca vou deixá-lo sozinho — ela respondeu de forma mais ríspida e com um tom mais elevado.

No chão, Antônio ainda continuava lutando para ter um pouco mais de consciência de seus atos. Um gemido escapou de sua boca, pois a luminosidade começava a incomodá-lo.

— Não quero causar problemas — balbuciou baixinho enquanto abria os olhos devagar, tentando adaptar sua visão ao ambiente.

Antônio não sabia como tinha ido parar justo na porta do apartamento dela. Talvez tivesse errado o significado de casa.

— Ajuda, Heitor, não vou conseguir levantar ele daqui — Amanda quase implorou para o noivo ajudasse o lutador.

Os três adentraram o apartamento dela cambaleando, direcionando-o para o quarto principal. O colchão macio afundou atrás dele e a cabeça pesou fundo no travesseiro que tinha o cheiro que ele tanto amava.

— Não quero ser um problema — repetiu quase a mesma frase de antes, apenas modificando o verbo.

— Você jamais será um problema, Antônio — o lado vago da cama foi ocupado totalmente e ela sorriu para ele, não abandonando o semblante de preocupada — Parece que você bebeu um pouco demais...

O lutador a encarou por alguns segundos e voltou os olhos para atrás dela, onde Heitor o encarava com uma feição de poucos amigos. 

Se olhares pudessem matar. Bye, bye, Sapato. 

All This Time 🪢 docshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora