PARTE UM

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Beatrice e Marcus


Marcus não era de festejar datas. Ele sabia, melhor do que ninguém, que qualquer acontecimento podia marcar dolorosamente aquele dia por muitos anos. No entanto, tal como tudo o resto, Beatrice fizera-o mudar de ideias. E, depois de alguns anos de casamento, tinha como missão encontrar novas formas de surpreender a esposa. Quase sempre era bem-sucedido, porém, também havia momentos em que era ele o surpreendido.

Desta vez, Marcus planeou o que faria ao longo de vários dias, mantendo as suas intenções em segredo, pois não queria correr o risco de Beatrice desconfiar do que andava a tramar.

E, quando chegou o dia, Marcus levantou-se cedo.

Deitada ao seu lado, a esposa acordou ao aperceber-se de que ele saía da cama.

− Onde vai?

− Vou cavalgar pela propriedade.

Marcus detestava mentir-lhe, mas não tinha outra opção. E, depois de a ver adormecer novamente, vestiu-se e observou-a durante alguns segundos, sorrindo ao verificar que continuava tão bonita como quando a conhecera.

Quando saiu da mansão, alguns homens já o aguardavam. A surpresa que planeara era demasiado grande e trabalhosa para que conseguisse fazer tudo sozinho. E, para não correr o risco de ver a verdade revelada antes do previsto, Marcus preferiu contratar homens dos terrenos vizinhos do que pedir ajuda aos seus criados ou arrendatários. Sabia que um deles acabaria por contar à esposa os seus planos e, em poucos dias, Beatrice descobriria tudo.

Como tinham apenas algumas horas até a mansão acordar, Marcus dirigiu-se com os homens para o canteiro de rosas que ficava virado para a janela do quarto onde dormia com a esposa. Ali era o sítio perfeito para o que tinha em mente. Pois sabia que, todos os dias depois de acordar, Beatrice ficava a observar o canteiro durante alguns minutos. Tal como sabia o quão triste ficava por ver que, por vezes, o tempo fustigava-as demais, roubando-lhes todo o seu esplendor.

E Marcus não queria vê-la triste. Nunca! Portanto, dar-lhe-ia um motivo para sorrir, mesmo quando as rosas não estivessem na sua melhor forma. E, sem mais delongas, Marcus e os homens dedicaram-se à jardinagem.

Enquanto uns foram buscar a faia que o duque comprara, outros preparavam a terra para a acolher. Nada podia dar errado. A faia já era suficientemente robusta para que estivesse preparada para a missão que teria. Marcus ainda cogitara plantar uma mais pequena, porém, a surpresa não aconteceria tão depressa como desejava, devido ao seu próprio ritmo de crescimento. E o que ele mais queria era honrar o amor que o unira àquela mulher fabulosa que chegara à propriedade vários anos antes.

Os homens trabalharam afincadamente contra o tempo e, apesar do título, Marcus não se fez de esquisito e agarrou nas alfaias agrícolas com vontade. Todos os segundos contavam. E tudo tinha de estar pronto antes que Beatrice acordasse.

Logo que a faia foi plantada, dois homens começaram a podá-la sob as instruções detalhadas do duque.

Aos poucos, a faia foi ganhando o formato de coração – prova do que ele sentia pela esposa. Prova de que ela era a razão por detrás de cada batimento cardíaco. Prova de que tudo se resumia a ela.

Logo que o trabalho acabou, os homens foram-se embora e Marcus entrou na mansão. Depois de se mudar de roupa no escritório, dirigiu-se à cozinha, pedindo para que preparassem o pequeno-almoço para ele e para Beatrice.

Quando o tabuleiro ficou pronto, encaminhou-se para o quarto que ambos partilhavam. A esposa já estava acordada, sorrindo ao vê-lo.

Tal como Marcus previra, Beatrice levantou-se e abriu os cortinados para cumprir o seu ritual. Bastaram apenas alguns segundos para que ela reparasse no coração, levando as mãos ao peito, enquanto o seu rosto se iluminava com um sorriso.

Vendo-a emocionada, Marcus aproximou-se e abraçou-a.

− A primeira coisa que quero que pense todas as manhãs é no amor que nos une. Quero que veja que, mesmo depois de alguns anos, o sentimento continua tão forte e bonito como no início. Quero que aquela faia a recorde de tudo o que vivemos. Pois a nossa história de amor continua tão viva como o verde que as folhas da faia possuem.

Incapaz de falar, Beatrice virou-se para o marido e beijou-o. Ele ainda tinha o dom de a deixar sem palavras. E o seu coração estremecia só de pensar que olharia para aquela inesperada declaração de amor todas as manhãs e que ela seria a prova da história de amor que partilharam quando partissem.

O amor não precisava de demonstrações caras e valiosas. Por vezes, bastava a intenção por detrás do gesto. 

Um dia muito especial (Um conto do livro O outro lado do coração)Onde histórias criam vida. Descubra agora