Kitty e Luke
Todos os dias, Luke acordava e ficava espantado com a força da mulher que tinha ao seu lado. Kitty era filha de um barão e fora educada para casar na aristocracia. Toda a sua vida se preparara para isso. Porém, ambos se apaixonaram e ela entregou-se de corpo e alma à vida que a esperava ao lado dele.
No início, Luke sentira-se culpado por isso. Contudo, rapidamente entendeu que Kitty gostava do que fazia... que gostava da sua nova vida. E a escola de Sherborne deixava-a de coração cheio. Os filhos dos criados faziam de tudo por ela, tal como ela fazia por eles. E tornara-se hábito vê-la chegar a casa com raminhos feitos de flores campestres – símbolo do grande afeto que as crianças sentiam por ela.
Apesar de ambos gostarem do que faziam, a vida cansativa e agitada que levavam não lhes permitia tirarem um tempinho para aproveitarem a companhia um do outro, tal como faziam quando eram jovens. E quando chegavam a casa, os filhos exigiam todas as suas forças e toda a sua atenção, arrasando-os por completo. No entanto, o amor que os unia era forte demais para que se deixassem sucumbir pelo cansaço.
Luke sabia que ambos precisavam de um tempo a sós, embora amassem incondicionalmente os filhos. Quando comentara isso com o duque, Marcus pusera-lhe à disposição todas as suas propriedades para que pudesse tirar alguns dias com Kitty, enquanto os filhos ficariam em Sherborne ao cuidado dele e de Beatrice. Luke aceitara apenas a segunda parte da oferta. O duque já os ajudara muito e parecia-lhe um abuso instalar-se numa das suas casas quando já dava trabalho à esposa e a ele.
Sem que a esposa soubesse, Luke deixou os filhos na mansão dos duques e dirigiu-se a casa. Queria preparar-lhe uma surpresa e tudo tinha de estar perfeito.
Logo que chegou, acendeu a lareira e começou a fazer uma sopa, pois era a única coisa que sabia cozinhar. Enquanto o pote estava ao lume, tratou de limpar e arrumar a casa o melhor que podia. Sabia que Kitty encontraria defeitos, porém, ele não estava preocupado com isso. Desejava apenas aproveitar o tempo que tinha para estar com ela e para a amar tranquilamente – algo que já não fazia havia muito tempo.
Logo que Kitty chegou, foi recebida pelo cheiro a sopa e por quietude.
− A casa está tão sossegada... O que as crianças estão a fazer? – Perguntou Kitty, estranhando o silêncio.
− Elas estão na casa do duque, por isso, não podiam estar melhor. Já estávamos a precisar de um momento a dois.
Olhando em volta, Kitty apercebeu-se de tudo o que o marido tinha feito. Ainda havia muito trabalho para fazer, mas a intenção dele era o mais importante.
− Obrigada pela surpresa. – Disse ela, aproximando-se de Luke e beijando-o.
− Meu amor, perdoa-me por poder presentear-te apenas com uma sopa.
− Por quê!? É a melhor sopa do mundo, apenas por ter sido feita pelo meu marido. – E Luke sorriu ao ouvir as duas últimas palavras. – O amor é o bem mais precioso que temos na vida.
Depois de terem trocado mais um beijo, sentaram-se à mesa e, entre colheradas, aproveitaram para conversar, recordando tempos passados.
Quando terminaram, Luke colocou potes de água ao lume. E, logo que começaram a ferver, despejou-os na banheira, intercalando com baldes de água fria e medindo a temperatura com a mão.
De seguida, o secretário convidou a esposa para um banho relaxante. E viu a gentileza rapidamente retribuída com a mesma proposta, mas ele resistiu e recusou. Aquele momento seria apenas da sua esposa. Pois ela precisava de um pouco de tranquilidade, mas também de ser recompensada pelo que de mais valioso lhe dera: uma família e uma casa cheia de amor.
E amor era o que lhe transbordava do coração sempre que pensava nela ou a olhava... como se fosse sempre a primeira vez... como se ambos ainda fossem jovens e tivessem a vida pela frente.
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Um dia muito especial (Um conto do livro O outro lado do coração)
Short StoryConto de Dia dos Namorados do livro "O outro lado do coração" (disponível na Amazon).