Cap 4 (pt2)

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[Esse capítulo tem apenas a descrição dos assassinatos, inclusive das crianças. Quem não gostar de ler, é só pular.]

Assim que Katherine viu os corpos das crianças e do casal de senhores, ela parou em pé por alguns segundos, analisando toda cena e tentando refazer cada passo do assassino em sua mente.

...

Na madrugada de sexta-feira, por volta das duas da manhã, o assassino usou um cortador de vidro em formato de compasso para fazer uma abertura perfeitamente redonda ao lado da fechadura. Usando luvas de látex grossas e pretas, cuidadosamente introduziu sua mão direita pelo arco que abriu no vidro e destrancou a tranca simples, puxando a maçaneta para baixo logo em seguida.

Retirou sua mão de dentro do círculo e a espalmou na porta do lado de fora, empurrando-a para dentro da residência. Segurou em sua quina de madeira e a encostou de volta no trinco para evitar que o vento a batesse na parede e causasse barulhos chamativos. Não demorou parado, logo foi entrando em passos largos e apressados. Como se já conhecesse perfeitamente a casa, seguiu direto em direção às escadas. Suas pisadas suaves no chão de madeira não faziam barulho algum; nenhum dos indivíduos que dormiam o escutou andar.

Assim que chegou no segundo andar, ele passou direto pelo quarto das crianças e seguiu para a porta aberta no fim do corredor. O senhor e a senhora Jones dormiam tranquilamente debaixo das cobertas cinzas em sua cama de casal com uma grande cabeceira branca e um quadro de uma paisagem acima dela.

O assassino foi em passos decididos, sem hesitar, para o lado esquerdo do colchão. Tirou uma faca grande e afiada do seu bolso, usando sua lâmina para rasgar a garganta do senhor Jones enquanto empurrava sua cabeça para trás, afundando-a no travesseiro macio, expondo a pele do pescoço para que o metal deslizasse melhor. Ele acordou assim que sentiu o latejar da dor e a quentura do líquido vermelho jorrando em seu rosto. Ainda deitado se contorcendo e esperneando, ele tentava gritar, mas estava se afogando no próprio sangue. Tudo que conseguia soltar eram baixos gemidos engasgados e desesperados. Sua mão apertava o corte, tentando milagrosamente o fechar, mas nem ao menos impedia que o sangue esguichasse pelas paredes.

O assassino não se demorou ali, rodeou a cama e foi para o lado da senhora, que já tinha acordado e tentava assimilar o que estava acontecendo. Ela se levantou, ficando de joelhos, mas foi empurrada brutalmente pelos ombros, caindo de volta nos lençóis. Ele não esperou para cravar profundamente o canivete no pescoço da senhora de camisola amarela, que em segundos tomou uma coloração vermelha.

Diferente do seu marido, que teve um corte mais superficial, ela apenas fazia pequenos barulhos, mas não conseguia se mexer. Ficou deitada, dando pequenos espasmos, e deixou que seu sangue escorresse para fora dela, pingando lentamente pelo chão até que formasse uma pequena poça perto da mesa de cabeceira.

O senhor Jones não mais se remexia na cama. Ele rolou até que seu corpo gorducho e peludo, coberto de sangue, encontrasse o chão. Tentava ficar de pé, mas o máximo que conseguia era se sustentar poucos segundos nos seus joelhos e logo depois cair. Ainda mantinha sua mão no pescoço, mas agora sua preocupação eram as crianças, e tentava a todo custo chegar à porta.

O assassino estava parado observando as tentativas patéticas do homem de se locomover e a linda pintura abstrata que fazia na parede, com todo aquele vermelho vivido. Ele olhou para a senhora, que ainda estava deitada em seu sangue, e a viu dar seus últimos suspiros sôfregos. Ele virou as costas e saiu pela porta na direção do quarto em que dormiam as crianças.

Assim que entrou, pôde ver os pôsteres e brinquedos de dinossauros pelas paredes.

Ele foi em direção ao menino mais novo que dormia na cama menor do lado esquerdo. Ele abraçava uma pelúcia de ursinho fortemente debaixo das cobertas quentinhas. Tinha cílios grandes que deixava seu ressonar ainda mais angelical. Um corte de cabelo tijelinha que cobria quase toda sua testa e as pontinhas dos fios alcançavam seus olhos fechados.

Ele estava deitado de lado, com o rosto virado para a cama da irmã, quando teve seu ombro puxado para o lado e empurrado para baixo, o deixando deitado de barriga para cima. A primeira visão que teve foi de alguém que nunca vira na vida empunhando algo cortante manchado de vermelho. Quando ele abriu a boca para gritar, teve sua cabecinha pressionada contra travesseiro, e sua garganta cortada como a de seus avós. Ele não aguentou muito tempo e morreu logo depois com seus olhos grandes e verdes olhando para o teto, sem mais nenhum brilho passeando neles.

O serial killer olhou para a cama da menina, que estava vazia, apenas com os tecidos rosa amassados sobre o colchão. Teria considerado que a menina fugiu quando ouviu o barulho no quarto ao lado, se não fosse pelos pesinhos rosados saindo de debaixo da cama. Ele olhou aquilo com curiosidade, tombando a cabeça, pensando na estupidez da menina. Ela tentou se esconder assim que ouviu passos e barulhos estranhos vindo do corredor. Agora, suas bochechas rosadas estavam cobertas por lágrimas salgadas, e sua boca era tapada com suas mãozinhas para abafar o barulho do choro.

Ela soltou um gritinho agudo e assustado assim que teve suas pernas puxadas e seu corpo arrastado. Foi possível ver suas duas janelinhas nos dentes de cima enquanto ela gritava e esperneava horrorizada. Seus cabelos loiros e lisos se esparramavam pelo chão, e suas pálpebras fechadas se recusavam a se abrir para ver a pessoa que tinha acabado de matar seu irmãozinho.

Não demorou muito para que o assassino se irritasse com todo aquele escândalo e lhe cortasse a garganta para acabar com todo o barulho. O silêncio que permaneceu em seguida era relaxante para seus ouvidos.

Ele deu uma rápida olhada no quarto e nas crianças mortas, para logo em seguida voltar para o corredor. Assim que saiu do quarto, pôde ver o senhor Jones ainda vivo se rastejando pelo chão em direção às crianças. Ele quase sorriu com o esforço do homem. Ele era um tanto teimoso em aceitar morrer logo.

Devagar, ele chegou no senhor e agachou do seu lado. Virou seu corpo mole e sem forças para cima, colocou uma perna de cada lado do seu quadril, segurou o canivete com as duas mãos acima da cabeça e o cravou com força no peito do homem. Ele não conseguia gritar; tudo que fez foi arquear seu corpo e logo em seguida o deitar no chão novamente.

A lâmina foi arrastada pela carne dele até que chegasse abaixo do seu umbigo. O canivete foi retirado e jogado de lado. O homem já estava morto quando as mãos cobertas por luvas se firmaram uma de cada lado da abertura e abriram a caixa torácica o máximo que conseguiram. O assassino puxou o coração, desconectando o órgão das artérias e o levando em direção aos seus dentes afiados. Matando aquela fome de carne que corroía cada pedacinho de seu ser.

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