10. A Calmaria

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          Era meia-noite quando Tem recebeu a notificação esperada.

          -  *Jonas embarcou hoje. *Ayakashi já se alimentou.

          Era Kim informando o destino final de Top. Esse não vai mais ferir ninguém. Alguns minutos depois ele recebeu uma notificação bancária. O dinheiro que ele deu ao *viajante de peixes  tinha voltado à sua conta.

           Abraçou o namorado e enfim adormeceu.  O corpo cobrando o preço do estresse e insônia dos últimos dias.

           Desde que ele, Kim, Pete e Tankhun combinaram o fim daquele traste  desumano que não prega os olhos. Pete insistiu para que nem ele,  nem Kim assistisse o final para não mentirem para  Macau. E ele entendeu, apesar de não aceitar no início. Por ele, o dejeto humano seria destruído depois de ter sido devidamente escalpado e ter dedos,  unhas e dentes retirados com um alicate.  Vegas pensava da mesma forma,  mas nem Pete,  nem Tankhun permitiram que eles fossem para Bangcoc esperar o imbecil.  E foi uma decisão acertada. Macau teve pesadelos nas quatro noites depois da surra de Top e se ele e Vegas não estivessem com ele,  o rapaz teria surtado em definitivo.

          Na quarta noite Macau soltou a frase que validou a decisão de Pete e Tankhun.

           -  Eu quis que vocês matassem o Top. Quis muito. Quis tanto que me enjoei com o fato de vocês deixarem ele escapar daqui. Entretanto, agora mais calmo, sei que jamais ficaria em paz se soubesse que vocês estavam envolvidos nisso. Saber que ficaram aqui e Kim também me acalma porque a raiva do Tankhun e do Pete passa rápido,  mas vocês três eu sei que lavam o coração é batendo na hora. Obrigado por pensarem em como eu reagiria depois que minha raiva passasse. Amo vocês.

           Vegas olhou para o amigo e novo cunhado e suspirou descansado. O menino estava mesmo preocupado com eles e tê-los por perto, além de o acalmar, trouxe ao rapaz a certeza que Top tinha mesmo fugido com os dois estranhos que ele recebeu na casa de Tem. Tanto Vegas quanto Tem guardavam para si a certeza de que para todos Pete e Khun eram dois seres da natureza com poder de destruição imediato. Todos os outros vivem enganados com o temperamento dócil  e cuidador dos dois leões da casa. 

           Pete continuava colocando fotinhos feliz de Venice e Syn na rede. Continuava declarando seu amor pelo filho mais velho, seu protegido Macau. Postou fotos de um encontro de administradores hospitalar. Fotos lembrando do casamento deles. Lembrança do aniversário do sogro, afinal, mesmo que Gun Theerapanyakul esteja morto, o genro o ama com loucura. Todas essas demonstrações públicas de afeto fáceis de iludir o ferido Macau, encobrem muito bem ele e o maior comentarista de suas doces e amorosas postagens. As ligações diárias que tanto Tankhun quanto ele fazem para Narathiwat e o carinho leve dessas chamadas, acalmaram o pediatra que foi voltando ao normal.

         Vegas voltou para Bangcoc com Kim dez dias depois. A vida de Tem que seguia suspensa voltando devagar à normalidade.  Macau voltando a vê-lo com desejo e não mais como um  cuidador.

          No fim de semana depois da partida do irmão mais velho,  Macau andava pela casa alegre, de olhos compridos para o namorado.  Sempre que entrava no escritório para ver Tem trabalhando, lhe fazia carinhos animados.  Temtram deixava o rapaz provocá-lo e respondia com algum ardor.  Queria que Macau estivesse realmente confortável com tudo, antes de retomarem de onde parou. A violência que o mais jovem sofreu, mesmo que não concluída na prática era  uma atrocidade  real e procurar qualquer atividade sexual depois de um estupro moral era igualar o amor com à brutalidade.  Tem pensou assim e assim agiu.

            Macau, por sua vez,  perdeu toda a libido. Na verdade, chegou a ter nojo do sexo. A mão de Top o tocando grosseiramente foi algo aterrorizante e ele se esforçou muito para esquecer aquela sensação. O psicólogo tentou fazer com que ele dissociasse a violência do sexo,  quando o pediatra trouxe o tema para o consultório.

          Agora, passado algum tempo, Macau quer ter intimidade com o namorado e está testando suas habilidades de sedução.  De alguma forma ele gosta que Tem o permita a experenciar o processo de sedução e ver o que suas provocações fazem ao homem amado o auxilia a reconstruir a confiança na intimidade deles.

            Seu passo mais efetivo para sua  abordagem é seu pijama rubi. Quando Tankhun e Pete lhe deram essa roupa com um bordado de frajola ele riu. Mas quando o vestiu a primeira vez e se olhou no espelho viu que não havia modo de ser visto como criança com aquelas peças. O caimento perfeito do tecido nobre, a cor e o brilho natural das peças criavam um efeito devastador. Quando viu os olhos de Tem sobre ele a primeira vez que o usou em Narathiwat, quase o despiu e livou-se da peça, mas agora é sua  roupa de dormir predileta e apostou nela para a noite de sexta-feira.

           Desceu a escada se fazendo de inocente, mas esbanjando sensualidade. Viu Tem fechar os olhos e falar algo com a governanta da casa, buscando focar em outro ponto. Seguiram a mulher para a sala de jantar. A mulher sumiu, eles comeram sozinho,  como de costume. E como sempre cuidaram da louça.

            Subiram para o quarto. Tem em compasso de espera, apesar da sensualidade do namorado. Após a higiene, Temtram deitou-se e esperou por Macau. De alguma forma o rapaz ainda não efetivou sua mudança para o quarto principal.

            No entanto, ele entrou no quarto e seguiu direto para o banheiro. Trazia uma cestinha que o escritor conhece: seu material de higiene pessoal e seus cremes noturnos.

            -  Amor,  amanhã vou pedir para khun Gumb arrumar algumas roupas minhas aqui. Não é justo com ela sujar dois quartos sendo que agora  somos um casal. Concorda?

            Tem ficou com aquela sensação estranha de não ter poder de escolha. Ele sugeriu a mudança dias atrás,  antes de tudo, mas o namorado não  quis nem pensar  no assunto. Agora veio decidido e esse pedido de concordância era em um tom já ouvido. Era assim que Porsche terminava as discussões com Kinn, era assim que Pete convencia Vegas fazer sua vontade. Pelo jeito é assim que Macau definiu quem manda e quem obedece nessa relação.

            - Concordo, dī. Tia Gumb vai ficar feliz em lhe ajudar.

           Momentos depois ele saiu dali ainda mais lindo e mais cheiroso. Uma afronta à libido castigada do romancista. E deitou-se. Por um instante Tem pensou que teria que se acalmar,  pois Macau não devia estar pronto ainda. Por um instante apenas.

           De repente, as mãos firmes de seu amado procurou as suas na cama e sua voz surgiu firme:

           -  Tem, eu quero fazer amor... mas estou inseguro. Podemos?

            Falou, engoliu o fim das palavras e virou-se na cama, ainda  de mãos dadas.

            Tem virou-se também, ficando face a face com o rapaz.

            -  Inseguro como? Explique-se, meu querido.

            -  Tenho medo de... pedir.

            -  Você está pedindo desde cedo. Desde que seus beijos tornaram-se mais quentes. E eu estou esperando por você.

            -  Não foi muito  por querer. Só não sei pedir. Ainda fico com vergonha.

            -  Quando quiser, basta pedir.

            -  Não precisa de clima?

            -  Nosso desejo é o  clima. Chegue-se até mim, toque-me e espere eu reagir. Então vai saber. Lembra de nosso primeiro beijo? Você quis, me beijou e eu segui o fluxo. Lembra que disse que percebeu minhas reações?

          Macau fechou os olhos envergonhado.  Ele praticamente atacou Tem. E foi tão bom sentir ter poder sobre o outro.

         -   Lĕk, seu desejo sempre encontrará o meu.

         -  Gosto que me chame de Pequeno. Agora sei que é carinho.

          -  Oh,  meu Pequeno! Claro que é carinho. Acha mesmo que com esse tamanhão todo eu poderia dizer isso em outro tom?

            Macau sorriu e aproximou-se mais, beijando os lábios sorridentes de seu amado.  Todo o mal lançado no mar do esquecimento.  Só o desejo imperando. 

      

Não era amor...  #TemMacauOnde histórias criam vida. Descubra agora