VI

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O sol da manhã atravessando as finas cortinas cor de sangue de meu quarto foi luz suficiente para acordar-me, meus olhos tendo que se acostumar rápido com a iluminação de um dia recém nascido. Algo de diferente no ambiente deixava-o mais acolhedor no dia de hoje, e assim que retornei com a visão, apercebi-me do que se tratava: Sonic estava ao meu lado, o rosto extremamente próximo ao meu, suas íris esverdeadas cuidando-me durante o sono. Nenhum de nós se moveu, nem nos demos ao trabalho de falarmos, apenas trocamos um olhar calmo, que dizia muito mais do que éramos capazes de produzir com os lábios.

Envolto pela nostalgia e diversas emoções diferentes, toquei-lhe delicadamente a bochecha, recebendo um sorriso tímido de sua parte. Algo naquele momento foi o suficiente para fazer-nos aproximar para darmos um breve selar nos lábios alheios, sem nos afastarmos bruscamente ou sairmos correndo.

Já completamente acordados e animados, resolvo ser o primeiro a arriscar a fala.

- Você esqueceu seu sapatinho de cristal na minha casa aquele dia, Cinderela.

- Eu sei - responde ele, brincando com a pelagem esbranquiçada de meu peitoral. - Eu fiquei com vergonha de voltar, então deixei pra trás, mesmo.

Rimos ao mesmo tempo, nossa enorme química causando rebuliços em meu interior. O silêncio predominante foi agradável, permitindo que o nosso pequeno toque de uma mão na outra fosse o suficiente para aquele momento.

Quando pensei em levantar, Sonic puxou-me de volta para si, abraçando-me confortavelmente e enterrando seu rosto em meu corpo.

- Obrigado por cuidar de mim. Eu tenho certeza de que você tem um poder enorme sobre qualquer um deles. - Erguendo os olhos para mim, proferiu maroto: - Eu sei que em mim, tem.

O calor me subiu às bochechas, deixando-as vermelhas como pimentas. Sonic percebeu isso, pois usufruiu do momento para dar-me outro beijo, agora roubando o calor de meu rosto para o seu.

- Eu vou fazer café da manhã. Quer me acompanhar? - questiono após alguns segundos silenciosos, o garoto assentindo com a cabeça em concordância. Ajudei-o a levantar, o levando até o cômodo ditado depois de nos ajeitarmos adequadamente com nossas roupas.

Indo pelas vontades do azulado, preparei panquecas (as mais claras que consegui), enfeitando-as com xarope de framboesa e algumas frutas frescas da geladeira. O resultado final pareceu agradar-lhe a vista, e assim que pôs na boca, o sabor foi taxado como igualmente perfeito.

Ambos satisfeitos pelo delicioso café, partimos para a sala, na intenção de relaxarmos e desfrutarmos de um momento a sós após tantos anos afastados.

- Shadow - chamou-me enquanto flertava descaradamente medindo nossas mãos -, eu me lembro.

- Do quê? - Elevo o olhar até ele, brincando com seus dedinhos enluvados.

- Dormir ao seu lado me fez recordar certas coisas do passado. Eu acabei sonhando com aquele dia... - Mostrando-me ainda mais confuso, Sonic suspirou, dando continuidade à explicação. - Lembra que eu disse que tive um trauma na minha infância que desencadeou em mim o TDI? - Quando assinto positivamente, prossegue: - Eu sonhei com ele hoje. Agora eu sei o que me aconteceu detalhadamente.

Exasperado, virei por completo para ele, esperando por mais detalhes, que nunca vieram.

- E o que aconteceu? - pergunto em êxtase, quase explodindo pela curiosidade.

- Desculpa, Shadow... - Assim como eu, voltou-se a mim, o olhar repleto de dor. - Eu não consigo dizer agora. Não consigo compreender o que é pior: você saber ou você não saber. De qualquer forma, você está correndo perigo.

Alarmado, elevei as orelhas, um muxoxo formado discretamente em meus lábios.

- Estou correndo perigo? Como assim? Eu não entendo.

Sonic acaricia uma de minhas orelhas, provocando sensações confortáveis por meu corpo. Ronronando baixinho como um gato, olhei-o com os olhos semicerrados, ainda atento por uma explicação melhor.

- Sinto muito, Shads. Não posso dificultar sua vida ainda mais. Mas eu prometo que vou contar quando chegar a hora certa e quando ambos estivermos prontos.

Compadecido de sua tristeza, apenas concordei, acalentado por seus toques afáveis em regiões tão adoradas por mim. Em pouco tempo, já estávamos ambos aos amassos no sofá da sala, Sonic em meu colo, enquanto nossas línguas dançavam em um ritmo conhecido apenas por nós. Não queríamos nos desgrudar, e quanto mais aprofundávamos aquele ósculo, mais quente o ambiente se tornava.

Temendo ser jogado longe, forcei a nossa distância, mas a insistência de Sonic foi maior que eu, seus olhos transbordando desejo.

- Não - sussurrou, meus pelos do corpo arrepiando com sua voz doce em um momento tão oportuno. - Eu não quero parar.

Movido por nossas vontades, agarrei-lhe pela cintura e ergui-o do sofá, o garoto enroscando suas pernas em meus quadris assim que me ponho de pé. Enquanto subia as escadas na direção do quarto, recebia beijos e carícias por meu corpo, o fogo aumentando dentro de meu ser.

Enfim no local desejado, atirei-o na cama macia, me pondo por cima dele. Sem perder tempo, atacou meus lábios ferozmente mais uma vez, devorando-me por completo. Ambos estávamos completamente entregues um pelo outro, e por estar tão envolvido pelo momento, Sonic aproveitou-se para trocar nossas posições, sentando em meu colo e retirando meu moletom vermelho favorito. Tendo acesso ao meu peitoral exposto, enterrou o rosto descaradamente nos pelos brancos presentes ali, imitando os sons ronronados que emiti anteriormente com seus carinhos.

- Eu amo tanto isso aqui - balbuciou, arrancando sua camiseta quando deixou meu peito de lado.

Apaixonado por suas belíssimas curvas, deixei minhas mãos passearem por seu corpo, acariciando e tocando em cada mínimo detalhe, querendo absorver aquele momento e deixá-lo eternamente preso em minha mente.

Sentando-me na cama, puxei-o contra mim, uma exclamação surpresa escapando por seus lábios de uma maneira safada. O garoto enroscou-se mais a mim enquanto beijava cada canto dele, uma cicatriz grande em sua cintura chamando minha atenção; o corte parecia profundo e recente, costurado de maneira má com linha preta.

- O que é isso? - questiono curioso, passando os dedos levemente pelo local, temendo que qualquer toque pudesse machucá-lo. Sonic mirou o lugar que tocava, levando um susto ao perceber onde exatamente mexia. Com um pulo, atirou-se para longe na cama, recolhendo sua camiseta e a colocando de volta.

- Desculpa! E-Eu preciso ir!

Sua expressão assustada confundiu-me, principalmente quando correu até a porta, sua mão tremendo tanto que nem ao menos conseguia abri-la.

Entristecido pela interrupção inconveniente, levantei-me e fui atrás dele, o ajudando a abrir. Rápido como sempre, correu para fora, e temendo perdê-lo mais uma vez após um momento tão perfeito como aquele, arrisquei:

- Sonic! - Para minha surpresa, ele parou no lugar, esperando pela conclusão da frase. Angustiado, transferi tudo que sentia para o final da oração. - Vê se não some...

Por um segundo, imaginei que fosse virar-se para mim e dizer algo, mas ele simplesmente continuou seu caminho. A última coisa que ouvi foi a porta da frente sendo aberta e fechada por ele, e novamente fiquei solitário, borbulhando de curiosidade, temor e excitação.

Os Mil e Um Você (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora