(tem música)

4 4 1
                                    

Uma pequena cidade, de construções simples e estrada de chão batido. Ele caminha pelas ruas, um guarda, um homem alto, robusto, pálido, de olhos azuis e cabelos negros.

As pessoas da vila passam por ele, o cumprimentando com sorrisos e acenos de mãos, todos são retribuídos pelo cavaleiro.
Thierry, o guarda, mantém sua postura séria, inabalável, ele conhece cada um dos moradores da vila, conhece suas famílias e suas histórias, ele é amado por todos dali e ele os amam da mesma forma.

Só há um problema nisso, Thierry vê coisas que nenhum outro pode ver, são vultos, fantasmas e luzes coloridas sobrevoando o céu noturno da cidade, ele tenta fingir que nada daquilo existe, seria afastado do trabalho se alguém descobrisse que ele é um lunático. Certa noite, estando de turno, Thierry viu algo curioso, era uma bela dama que caminhava por uma das ruas mais próximas ao casarão do lorde feudal, o cavaleiro ficou de olho na jovem, a qual logo desapareceu no ar, o guarda balançou a cabeça, repetia mentalmente que não havia acontecido nada, foi quando a jovem surgiu diante dele, um fantasma azulado.

-Você pode me ver- A suave voz dela disse.

O soldado sabia que era impossível fingir que não estava a vendo agora, então desistiu e suspirou.

-Estou te vendo, por que está aqui?

-Porque você não nos deixa partir, Thierry, nos mantém presos aqui porque não quer viver sozinho.

-Eu? O que quer dizer com isso.

-Veja bem, Thierry, todos aqui estão mortos por causa da guerra, você foi o único a sobreviver e agora se recusa nos libertar.

-Olha, eu não entendo o que está dizendo, não tem guerra nenhuma, estamos todos vivos!

-É mesmo? Então porque todos estão repetindo as mesmas ações o dia inteiro? As mesmas palavras, as mesmas rotinas.

Thierry estremeceu, não podia ser verdade o que aquela fantasma dizia.

-Se é verdade, por que só você veio até mim?

-Porque descobri que estou morta tem alguns dias, e você é o único que está vivo, óbvio que a culpa sua por tudo isso.

-Não é minha culpa, eu não fiz nada

-Exato, não lutou para proteger a cidade, se escondeu com medo enquanto todos nós éramos massacrados.

Aquilo foi um baque para Thierry, ele sentiu uma imensa dor no coração e se curvou, as lembranças do passado começaram assombrá-lo, ele reviveu a guerra que destruiu a cidade, viu as mortes de seus companheiros e dos civis, de como as casas foram destruídas e de como ele se escondeu por medo, repetindo que era apenas um sonho. Foi quando ele chorou desesperado, seu corpo doía, seu estômago estava embrulhado e sua mente era um turbilhão.

-Eu-eu... não... não queria que isso acontecesse- Ele soluçou.

Thierry permaneceu de joelhos, derrotado, a culpa era dele, não lutou nem protegeu o que deveria proteger, ele se sentia inútil, covarde, um desgraçado que não merecia perdão nem consolo.

Demorou um tempo, mas o guarda se reergueu e foi atrás das pessoas da vila, ajudando-as entender que estavam mortas e assim as libertando para o outro lado, se passou a noite e se passou o dia até que finalmente Thierry libertou todas as almas presas na cidade, agora ele podia ver com clareza, casas destruídas, cadáveres pelo chão, o verdadeiro caos infernal que é deixado depois de uma guerra. Ele ficou feliz, mas lembrou que agora estava sozinho, não tinha para onde ir nem companhia, Thierry pensou e pensou no que faria naquele instante, foi quando ouviu uma fraca voz:

-Se mate e fique junto deles- Ela sussurrou.

O soldado estremeceu, aquilo parecia uma ótima ideia, afinal ele deveria morrer também para compensar os erros dos passados, ele estava prestes a puxar sua espada quando paralisou, embora a voz repetisse aquelas sedutoras palavras, Thierry notou algo, ele só poderia compensar seus pecados vivendo da maneira correta, ele voltou a guardar a espada e respirou fundo.

-Não é hoje que você me leva, dona morte.

Sorrindo, ele se preparou para enterrar corretamente todos os que ali viveram e depois sua jornada seria em outra cidade, serviria como soldado e dessa vez morreria na hora exata, fazendo seu dever de guardião

O Soldado (Conto) {PRIMEIRA POSTAGEM}Onde histórias criam vida. Descubra agora