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Um mês havia passado. Foi uma droga.

Nunca fiquei tão mal assim antes, porém agora tenho a ajuda de Selina e Bruce que estão sempre comigo, meu pai estava aqui em casa mas teve que ir embora ontem de manhã, Lee está pior do que eu e seu ódio por Jim parece aumentar a cada dia. Ela está tentando me apoiar na minha perda mas não deixa de se irritar com o fato de eu não odiar o Jim.

- Me diz como. Me diz como não o odeia? - Lee pergunta gritando extremamente irritada comigo.

- Não o odeio por que não acho que foi totalmente culpa dele - Grito de volta. É sério que ela não entende o meu lado, ele era meu irmão mas isso não significa que devo querer vingança.

- Por que não acha que a culpa é dele? - E lá vai ela me encher de perguntas novamente.

- Lee, pela milésima vez, Jim pode ter tido ciúmes de você, por que é você quem ele ama, mas eu sei que em momento algum ele machucaria alguém só por que você ama essa pessoa e não ele. Presta atenção, o Mário não era 100% uma boa pessoa, e ele estava contaminado com o vírus da Alice, como não consegue entender que ele estava apenas te protegendo da morte? - Digo tudo o que disse da última vez, porém agora estou tão desgastada de ter que repetir a mesma coisa toda vez.

É verdade, eu não o odeio, mas também não pretendo ser a mesma de sempre com ele. Afinal, ele querendo ou não matou o meu irmão.

- É o Bruce não é? Ele tá fazendo a sua cabeça - A olho incrédula, estamos no escritório em minha casa, estou sentada atrás da mesa e ela falando no meu ouvido andando de um lado para o outro.

Me levando farta de toda essa história.

- Não coloque o nome dele nesta bagunça que vc está arrumando, por favor Lee me deixe em paz, ele morreu e não há nada que podemos fazer para mudar isso. Quer um conselho? Aprenda a seguir em frente, igual você fez quando Jim estava preso, você seguiu sua vida, conheceu meu irmão, se casou. Tudo isso em um momento ruim - Digo me jogando novamente em minha cadeira.

Lee me olha por alguns segundos, seus olhos lagrimejando, vejo sua boca levemente tremer, e então ela da meia volta e sai da sala.

Finalmente, silêncio.

O que obviamente não durou muito, minha "paz" foi interrompida por batidas na porta, digo um "entre", Lucy aparece em meu campo de visão.

- Está tudo bem querida? A senhorita Lee não estava nem um pouco contente quando passou por mim - Lucy abre a porta e fica ali, por mais que seja parte da família desde muito antes de eu nascer, ainda assim prefere agir como apenas uma empregada.

- Está tudo bem sim, ela só não entende que cada um lida com o luto de uma forma diferente, a minha é fingir não me importar tanto - Me encosto ainda mais na cadeira.

- Vou ao mercado com Victor, se precisar de um de nós é só ligar - Apenas aceno com a cabeça, logo a mulher sai e olho para os papéis em cima da mesa.

Esquivo meu olhar para uma das gavetas, a que possui tranca, levo minha mão para debaixo de um abajur onde há um livro, por fora ele parece comum porém quando é aberto, há um espaço ótimo para esconder coisas pequenas. O abrindo pego uma chavinha e com ela abro a gaveta.

Essa gaveta, essa maldita gaveta. O lugar onde guardo meus demônios, onde há as drogas que me matam e que me deixam viva por pelo menos algumas horas. Onde há as cartas e cartões postais que Mário me mandava quando estava viajando para algum lugar. As declarações de amor que recebia de Bruce todo mês desde que começamos a namorar...

- Para - Ouço a voz atrás de mim.

- Por que? - Digo sem ao menos olhá-la.

- Por que você não precisa disso, eu já disse que vou cuidar de você - Ela caminha para o meu lado e se agacha a minha frente - Eu sei que está doendo, ele era meu filho, eu era apegada a ele assim como também fui a Sofia e agora sou a você.

Vejo lágrimas caírem de seus olhos.

- Com quem tá falando?

Me assusto com Selina pendurada na janela atrás de mim.

- Selina, meu Deus o que faz aqui? E qual o seu problema com a porta da frente?

Ela apenas ri e pula pra dentro.

- Foi mal, mas acabou virando costume - Ela pula pra dentro e caminha pela sala olhando para os livros e por fim, se sentando no pequeno sofá - O que tem feito ultimamente?

- Eu estou pensando em comprar um lugar, um salão de festa bem grande na verdade - Digo fechando a gaveta e a trancando, em seguida apoio meus cotovelos na mesa.

- Como assim? Pra que?

Antes que eu dissesse qualquer coisa a porta do escritório é aberta por Bruce.

- Oi meninas, do que estavam falando? - O mesmo para atrás de mim massageando meus ombros.

- Angelina quer comprar um salão de festa pra fazer sei lá o que.

- O que? Pra que?

- Quero expandir os negócios, fazer dinheiro de forma legal e não violenta. Eu quero criar um pub, teria bebida, música e diversão, óbvio que para homens ricos que não sabem mais onde gastar seu dinheiro.

- Pensando por esse lado é uma boa ideia até - Escuto Selina dizer em um tom divertido.

- Eu apoio, vai ser bom pra você - A mão de Bruce aperta a minha.

Pelo resto da tarde ficamos conversando sobre o pub e até mesmo em tirar férias por conta de tudo que tem acontecido, eu e Bruce largamos a escola no ano passado e Selina nunca frequentou uma, mas sabemos que não podemos deixar tudo de jeito que está.

Pelo menos me distrai um pouco, me esqueci um pouco do meu irmão e de qualquer outro problema. Viver a vida com esses dois a deixa um pouco mais leve.

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⏰ Última atualização: Jul 05 ⏰

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