Prólogo

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Em uma silenciosa tarde de domingo, um homem alto e forte caminhava pela rua arborizada em que se localizava a pequena casa. Ninguém pareceu saber ao certo de onde havia surgido. Ele apenas apareceu pelas sombras. O homem andou até a porta e levantou o punho para bater.

Dentro da casa, Heeseung e seu irmão gêmeo, Seokmin, brincavam com carrinhos e bonecos de super-heróis no carpete da sala, fingiam estar no meio de uma guerra espacial, como os Vingadores. No sofá, o irmão mais velho deles, Jay, assistia a algum desenho animado sobre fadas e meninos perdidos.

Heeseung e Seokmin, de nove anos, eram gêmeos idênticos — com o mesmo cabelo e olhos castanhos que puxaram do pai —, mas eles também tinham suas diferenças. Jay possuía um rosto fino, olhos um tanto incomuns e orelhas levemente peludas nas pontinhas. Para Heeseung, isso com certeza não era mais estranho do que ser idêntico a outra pessoa. Ele notava como as crianças do bairro evitavam Jay quando se aproximavam para brincar, ou como seus pais cochichavam sempre parecendo preocupados a respeito do garoto, mas não achava que fosse algo realmente importante. Adultos sempre cochichavam por aí.

O pai dos garotos estava em seu ateliê, pintando quadros como sempre fazia durante o dia. A mãe estava na cozinha, terminava um trabalho da faculdade no notebook. Tudo estava relativamente bem.

A batida na porta soou, Heeseung se levantou em um pulou para atender. Pensou que fosse um dos seus amigos do bairro convidando-os para tomar banho de piscina em seu quintal. O homem alto olhava para ele. O rosto de feição carrancuda analisava o garotinho de forma fria e impiedosa. Heeseung tremeu.

— Mãe — gritou para que a mais velha escutasse. — Tem um homem aqui na porta.

A mãe saiu da cozinha, não antes de salvar seu projeto. Ao ver o homem, seu rosto de coloração rosada natural pareceu perder cor.

— Vá para o quarto. — ordenou sem olhar para o pequeno. — Agora, Heeseung!

Heeseung foi até a escada, mas não queria ficar sozinho no quarto.

Esse garotinho é seu filho? Parece que as coisas deram certo depois que fugiram.

— Como nos achou aqui? — a mãe perguntou, ignorando a pergunta direcionada a si. Seu corpo tremia de tanta tensão.

— Sabe, nunca vi uma mulher morta voltar à vida, cheguei a duvidar de Conrad quando ele me disse que você estava aqui. — disse o homem, dessa vez com uma voz mais suave. — Os corpos queimados de uma mulher e uma criança nos restos queimados de minha casa foram bastante convincentes. Por acaso tem ideia de como é voltar da batalha e ver sua esposa morta, seu único herdeiro com ela?

A mãe balançou a cabeça, apenas para não pensar tanto nisso.

Ele deu um passo para frente, ela foi para trás. Com a luz forte sobre o homem, Heeseung pode notar que sua pele obtinha um tom esverdeado esquisito, seus dentes pareciam grandes demais, e suas mãos grandes com unhas pontudas. Ele também notou os seus olhos, eram iguais aos de Jay.

— Eu não poderia ser feliz no seu mundo. — disse a mãe. — Não são para pessoas como eu.

— Você havia feito uma promessa.

— E renunciei a ela. — ela empinou o nariz.

— Por um momento me esqueci que casei com uma mortal. Do que adiantaria uma promessa sua? Acho que já tenho uma resposta.

A mãe olhou para Heeseung. E, ao perceber o olhar dela, correu para chamar Seokmin e Jay na sala. Os dois ainda assistiam desenho.

— Quem está na porta? — Jay perguntou com os olhos semicerrados. — Ouvi um barulho, parecia mais como uma discussão.

— Um homem terrível e muito assustador — respondeu Heeseung. — Temos que subir para nosso quarto agora, mamãe pediu.

Com um suspiro, Jay desligou a televisão e saiu do sofá, seguindo seus irmãos pelo corredor.

Estavam prestes a subir as escadas, Heeseung viu seu pai entrando, vindo de seu ateliê e sujo de tinta nas bochechas e mãos. Segurava uma faca.

O pai tentou lançar sua arma em direção ao homem alto. Ele não machucava ninguém. Nunca havia gritado ou levantado a mão para seus filhos. Mas acabou de jogar uma faca em um desconhecido...

Seokmin deu um gritinho, tendo a boca tampada por seu irmão.

O homem alto sacou uma espada de seu casaco. Seu pai tentou pegar a faca novamente quando a espada cravou sua barriga. O pai caiu no chão, havia sangue por todo o lado.

A mãe gritou ao ver seu marido, agora morto, ensopado de sangue no chão. Heeseung, Seokmin e Jay também gritaram. Todos estavam gritando, menos o homem alto.

— Ele está morto! O homem que eu mais amei na vida está morto!

Não teve tempo para fugir, o homem acertou a espada em suas costas antes que chegasse na cozinha.

Os três estavam intactos, os olhos arregalados e algumas lágrimas começando a surgir. Heeseung foi de encontro com o homem e começou a distribuir chutes, socos, e até mesmo mordidas em suas pernas. O homem estava parado, sem acreditar no que tinha feito.

Prendeu os braços de Heeseung junto de seu corpo magro para que seus golpes cessassem. O olhar grudado em Jay.

— Você foi roubado de mim. — disse o homem. — Vou levá-lo de volta para casa, para o Reino de Faerie. Lá é seu verdadeiro lugar.

— Não vou — Jay disse com lágrimas nos olhos e alguns fungados de vez em quando. — Você acabou de matar meus pais, minha única família, não irei para esse lugar ridículo. Você é um monstro.

— Eu sou seu verdadeiro pai — revelou com a voz firme. — E de agora em diante irá me obedecer. Você vai comigo para o Reino de Faerie, e viverá da maneira mais rica que pode imaginar.

Seokmin chorava, de joelhos sacudia sua mãe como se a mulher fosse acordar alguma hora com seus chamados. Seu pai e sua mãe nunca mais se mexeriam de novo.

— Eu odeio você — Jay gritou tão alto que qualquer um que passasse na rua poderia escutar, orgulhando seu irmãozinho Heeseung.

— Não deixarei de ser seu pai, então você vem comigo de um jeito ou de outro. Prepare malas para vocês, partiremos antes do anoitecer.

— Pode me levar se quiser, mas deixe meus irmãos em paz.

— Como vais protegê-los de mim? Não tens mais família no mundo mortal.

Jay não sabia o que fazer, de fato seu pais eram os únicos familiares restantes que tinham, e não podia deixar seus dois irmãos pequenos sozinhos.

— Não fuja de suas responsabilidades de irmão mais velho. Posso ser um homem assassino e cruel, mas sempre cumpro com as minhas.

Jay procurou por bolsas, levou livros e brinquedos que os três gostavam. Fotografias, camisas e pijamas.

Heeseung e seus irmãos choraram tanto que pegaram no sono, sem saber como entraram no tal Reino de Faerie.

🧚‍♀️

O príncipe cruel | Heejake [Adaptação]Onde histórias criam vida. Descubra agora