Capítulo 32

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Sozinha numa imensa floresta russa, Kyoshi parou no local onde tudo se
iniciara mais de 15 décadas atrás. Ela e Jinpa tinham aterrissado com o avião ali fazia poucas horas, e seguiram de caminhão para percorrer o árduo
caminho, em busca do ponto exato em que ela tinha sido capturada. Quando as estradas finalmente se tornaram intransitáveis, Kyoshi deixou Jinpa para trás. Ambos sabiam que, assim que Kyoshi detectasse o cheiro de Rangi,
Jinpa não seria mais capaz de acompanhar seu ritmo.

Mesmo após tanto tempo, a Lykae fora levada até o local certo sem grandes dificuldades. Agora, porém, enquanto circulava a antiga clareira, desesperada, procurando um sinal de Rangi, temeu que a sua avaliação da situação estivesse equivocada. Nunca ninguém fora capaz de localizar Helvita. E Kyoshi não conseguira salvar a vida do próprio irmão ali, naqueles mesmos bosques.

A decisão de seguir aquele caminho poderia até acabar com a vida dela…

Mas, espere… Rangi esteve aqui.

Na primeira noite em que a encontrara, Kyoshi chegara a ficar de joelhos para poder sentir seu cheiro mais uma vez. Agora percorrera quilômetros de terreno com a espada às costas e o coração batendo de forma descontrolada. Subiu uma colina íngreme e, do alto, observou as redondezas.

Helvita estava ao longe, abaixo dela. Desoladora e sinistra.

Sob a vigilância do sol, Kyoshi tomou o caminho mais direto. Subiu agilmente uma muralha íngreme, percorreu ameias despedaçadas, avançando livremente pelo caminho vazio. Não se sentiu minimamente satisfeita por ter localizado Helvita. Aquilo era apenas o primeiro passo.

Deteve-se quando ouviu uma voz que lhe soou como um eco fraco, mas não
conseguiu detectar a origem e nem mesmo compreender o que diziam. A
imensidão do castelo era impressionante, e ela estava nas entranhas daquele lugar sórdido.

Kyoshi não conseguia entender o que levara a vampira ali, o que a impulsionara a cometer uma loucura daquele tamanho.

Será que tinha sonhado com Demestriu? Teria tido um sonho premonitório sobre aquela noite violenta? A Lykae tentou manter-se calma, mas sua parceira estava naquele inferno, naquele exato momento, enfrentando o mais diabólico e poderoso ser que alguma vez caminhara sobre a Terra. A vampira era tão gentil e dócil. Será que estava com medo…?

Não, Kyoshi não podia pensar desse jeito. Conseguira encontrá-la e sabia que ainda estava viva. Poderia salvá-la – desde que se mantivesse lúcida, ponderada e equacionasse todas as possibilidades.

Havia um motivo fundamental para os vampiros sempre vencerem. E Adora
tinha se enganado a esse respeito. Não era o fato de eles poderem se
teletransportar. Os vampiros venciam sempre porque os Lykae não conseguiam dominar as suas feras… Ou por se entregarem tão facilmente ao desígnio traçado por elas.

~~~◇~~~

Rangi saltou para trás da escrivaninha, escapando por pouco das garras estendidas de Demestriu e olhando com ar incrédulo quando ele cortou em dois o móvel enorme, como se rasgasse uma folha de papel.

A madeira rugiu ao ser partida ao meio e depois tombou ruidosamente no chão.

Demestriu apareceu na frente de Rangi antes mesmo de ela perceber que ele se teletransportara mais uma vez. Tentou escapar, mas ele a agarrou pela lateral do corpo com força e lhe perfurou a pele. E ergueu-a diante dele com facilidade pelo pescoço, como se ela fosse uma boneca de pano. Com a pele cortada da perna e a barriga de Rangi que jorrava sangue.

Ele retirou as unhas que estavam fincadas em suas costela e pousou seus antebraços no pescoço da filha, prendendo-a contra a parede.

Vai me arrancar a cabeça.

Desejo Insaciável (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora