O gole que não mata a saudade

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O vinho desce quente por minha garganta, não queima todo o meu interior como vodka ou tequila, mas faz com que meu corpo trema com o sabor alcoolizado. É minha terceira taça e sinto minha visão embaçada, os meus arredores não param quietos e meus lábios doem porque não consigo parar de sorrir para a imagem de um tubarão dançando no pole dance, ou seria um cara fantasiado de tubarão? Uma sereia talvez? O que diabos é a grande coisa em suas costas e a roupa azul? Era para ser sexy e provocativo, mas apenas me faz querer rir, e esse definitivamente não é o intuito de uma boate. Ao menos estou distraído, não estou pensando em como faz três semanas que Boun não tenta uma aproximação, que ele realmente presta atenção nas minhas aulas e manda mensagem sobre coisas da faculdade. Isso não deveria ser um problema, mas sim a solução de um, certo? Então porque estou em uma boate buscando por um cara significativamente parecido com ele, porque o orgulho e pingo de consciência que me resta me impede de o ligar ou mandar mensagem?

— Você parece estar precisando de um refil nessa taça. — O barman diz.

A voz dele é áspera, e olhando ele de perto, é consideravelmente bonito, mas de uma forma mais rústica, bruta. Seu porte físico é bastante definido, e ele até possui piercings como Boun, mas seu cabelo é castanho e acho que sou de seu tamanho. Mesmo se fechasse os olhos eu ainda saberia que era ele alí.

— Tem razão, seja gentil e encha essa taça o suficiente para que eu me esqueça de onde estou.

— Como quiser chefe.

Não estou apaixonado por ele, nem sequer conheço sua personalidade direito para gostar dele romanticamente, ah mas…eu gosto de como ele movimenta a língua quando nos beijamos, como ele me segura firme temendo que eu me solte, como me joga na cama, mas me prensa na parede como se eu pudesse quebrar, gosto tanto do que fazemos quando não tem ninguém para olhar, gosto tanto que não me importo em choramingar, implorar…

— Que conselho você dá para alguém que precisa superar um sexo bom?

— Desistir. — Solto uma risada genuína e novamente encara o barman.

— Você não é lá muito prestativo.

— Mas sou honesto. — rio novamente. — apenas ligue para ele, diga que é a última vez, a última noite.

— Mas e se não for?

— Então você faz com que a próxima seja.

— Não me parece certo.

— Por que seria errado?

— Porque ele é meu aluno na faculdade e eu o disse para ficar longe e ele finalmente me ouviu.

— Não parece certo mesmo, tem razão.

— Mas por que seria tão errado?

— Porque nem três taças tiram a sua maldita consciência, então tome logo a quarta.

— Você é uma droga como conselheiro.

— Por isso sou barman.

Eu rio pela última vez, encaro o dançarino, ou tubarão que está no palco, pego minha taça quando está cheia novamente, e tomo como se fosse água, como se fosse doce, como os lábios de Boun, a pele dele, ele por completo.

••••

São duas da manhã, ou talvez cinco, não sei, os números se misturam quando os encaro, sequer sei como consegui desbloquear meu celular ou como estou digitando o número dele no teclado, mas sei que está certo, pois seu nome é algo que eu nunca desaprenderia a ler, e o som de chamada é tudo que ouço antes de sua voz rouca me cumprimentar com um tom mais acordado do que eu com tanto álcool no sistema.

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