Único.

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— Namjoon, você está suando feito um porco — comentei num tom maldoso, rindo em seguida da cara avermelhada e repleta de suor de meu amigo.

— Hyung, você não tem direito nenhum de rir de mim — rebateu calmamente o mais novo, erguendo pela enésima vez meu rosto bem esculpido para cima numa posição favorável para pintar as órbitas do inquieto e infantil homem de trinta anos que sou. — Ou você se esqueceu que na sua primeira vez aqui no Rio você desmaiou por causa do calor?

— Não esqueci. Mas, se não me falha a memória, você passou duas semanas frescando comigo por causa disso. Portanto, tenho total direito de fazer o mesmo.

— O que seria frescando? Espero que não tenha nada a ver com frescor porque, olha, essa palavra nem deve ter significado por aqui. — Se abanou dramaticamente, embora estivesse mesmo sofrendo com a temperatura beirando os quarenta graus.

Ri de novo e minha agitação fez o Kim errar a maquiagem pela segunda vez naquele espaço de meia hora, no qual se encontrava eu me aprontando para o tão esperado e comentado bloco carnavalesco.

Sendo concursado e um profissional da área da beleza, Namjoon fora convocado para a tarefa de me produzir com cores vibrantes e chamativas, combinando com minha fantasia espalhafatosa e brilhante de Carmem Miranda, que fora alugada dias atrás. Porém, ao contrário de meu adorado ajudante, que não era lá muito fã da maior festa do mundo, que me acompanhara até o Brasil naquela vez apenas pela curiosidade de conhecer — finalmente — os pontos turísticos da cidade maravilhosa, eu, Kim Seokjin, demonstrava uma animação absurda para com o carnaval e em específico me via ansioso para aquela festa que duraria o final de semana inteiro.

Ela tinha como tema artistas brasileiros, e os trajes deveriam ser acompanhados por máscaras. Claro que apenas isso é motivo suficiente para toda aquela minha euforia acumulada durante os cinco dias que se passaram desde que chegamos ali, mas não era o único.

— Seu pretendente vai vestido de que mesmo? — Nam indagou, enquanto finalizava as sombras.

— Pretendente? Quem usa essa palavra hoje em dia, saeng? Pelo amor — zombei, ganhando um leve peteleco do menor na testa. — Ele estava indeciso na última vez em que nos falamos, mas acabou optando por Rita Lee.

— Oh, eu a conheço! — o maquiador exclamou com empolgante satisfação. — Ela estava na lista dos grandes artistas daquele livro que comprei para conhecer um pouco mais da cultura daqui.

Uma conversa sobre como os brasileiros e os coreanos eram diferentes em tantos aspectos passou a nos entreter enquanto ele terminava seu trabalho, e eu respondia as mensagens do rapaz com quem vinha se comunicando há algumas semanas. Eu não era alguém fácil de se chamar atenção ou conquistar; costumava ser bem exigente e não aceitava menos do que sabia merecer. Por isso, era inovador e até mesmo estranho me ver tão interessado por outra pessoa.

— A madame está belíssima e pronta. — Nam finalizou acrescentando bastante glitter, espalhando o secante por minha face.

— Obrigado, Joonie! Te devo essa — falei após sair correndo para me observar no espelho. Ele realmente havia caprichado.

— E mais umas quinhentas.

— Que eu vou pagar com muitos abraços e beijos, seu nojento! — Revirei os olhos ao dizer, mas avancei para o loiro, o dando um selinho amigável e um abraço apertado.

Mais uma hora depois e finalmente me vi pronto e radiante na sala de estar da casa que alugamos, aquecendo meus pés ao dar uns passos de samba e dando voltinhas enquanto ouvia frases de aprovação do Kim mais novo. Eu vestia uma saia e um cropped e saltos altos, além de uma tiara de frutas, colares e pulseiras chamativas, tal como a da cantora e dançarina que eu estava representando. Minha máscara, por sua vez, não era tão exagerada em ornamentos, mas era uma graça e combinava graciosamente com a estampa da roupa de baixo.

O Date ErradoOnde histórias criam vida. Descubra agora