"Não se acredita, até acreditar"

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Narrador 

-Oi... Larissa? É a Enid tudo bem? - Enid saia de seu apartamento. Estava conversando com a corretora de imóveis. -  Eu tô bem sim. Deixa eu ter perguntar... As pessoas que alugaram esse apartamento, você tem o telefone delas? 

-Porque? Aconteceu alguma coisa? - Larissa falava do outro lado da linha.

-Não é que... Eu só queria saber do inquilino anterior. - Ela descia as escadas. - Só isso...

-Bom, a mulher com que conversei sobre toda a papelada... Ela não quis falar nada sobre. Deu a entender que teve alguma tragédia na família. Só não perguntei detalhes porque eu não preciso de nenhum drama a mais.

-E você acha  que a pessoa morreu? - Enid perguntou. Estava um pouco apreensiva.

-É melhor que tenha- Larissa  riu - Porque é o único jeito de deixarem você ficar com o apartamento de vez.

-N-não, não foi bem por isso que eu liguei sabe? 

-Ah pelo amor de Deus Enid, cresce. - Larissa disse rindo debochada – Olha, tem uma vista linda, lareira e acesso privado ao terraço. As pessoas matariam a avó por muito menos nessa cidade. 

(...)

Depois do telefonema, Enid tinha toda a certeza que de fato, a mulher que via em seu apartamento era um fantasma. Ela não tinha muito o que fazer, além de apelar para alternativas que ela menos acreditava. Artigos e assuntos sobre ocultismo, espiritualidade, mediunidade e afins. E havia uma livraria assim perto de onde ela morava.

E lá estava ela, perdida em meio a tantos livros que ela nem sabia por onde começar a escolher. 

-Precisa de ajuda com alguma coisa? - Enid foi interrompida por um garoto um pouco mais baixo que ela. Tinha cabelos enrolados e usava óculos. Ela logo notou que o mesmo deveria trabalhar ali.

-N-não... Quer dizer, você acredita nisso? - Enid perguntou mostrando um livro que havia pegado sobre vida após a morte. 

-Não se acredita, até acreditar. - O garoto falou tranquilamente. Enid notou que ele parecia estar à dias sem dormir. - Esse aí que você pegou, já está bem ultrapassado. Recomendo Jefrey Long – Ele falava enquanto procurava o livro na estante. - É totalmente original. 

-Com licença... - Fram interrompidos por um senhor que aparentemente estava perdido – Onde fica a sessão de ovnis? 

-No fundo à direita. - O garoto respondeu indiferente. Sua atenção ainda estava em Enid, que neste momento, estava folheando o livro que havia pegado dela. - E aí, que tipo de encontro você teve?

-Encontro?- Enid perguntou confusa.

-Ectoplasma? Etesonífero? - O jovem perguntou bem curioso. Enid notou que ele tinha uma certa dificuldade para se comunicar devido ao aparelho que usava – Eu tenho um ótimo livro sobre contato, claro, se o interesse for na comunicação entende? 

-B-bom, comunicação não é problema para ela.

-Sei... Então eu tenho exatamente o que você precisa – Ele falou calmamente. Então voltou sua atenção para a estante de livros. Ele escolhia os livros e praticamente jogava sobre Enid. Alguns, ela escolhia de olhos fechados. Já outros ele parecia fazer uma espécie de ritual passando o livro sobre o corpo. E quando não encontrava o que queria, resmungava um "droga". Enid olhava toda aquela cena desacreditando que todos aqueles livros realmente serviriam pra alguma coisa. E tinha certeza que aquele baixinho que trabalhava ali naquela loja era completamente estranho. 

(...)

-Espirito, desperte! Espírito, manifeste-se ... - E lá estava Enid, sozinha em seu apartamento, com as luzes desligadas, velas acessas ao seu redor um livro sobre uma mão e uma vela acesa sobre a outra. Ela não tinha ideia do que estava fazendo ali, estava se sentindo uma idiota por seguir rituais de um livro que ela sequer acreditava. - Espirito, apareça! - Enid então esperou que alguma coisa acontecesse. - V-você está aqui? Por que eu acho que está. - Nada. Não tinha nada. - Tudo bem... - Eu tenho aqui na minha mão, uma caneca de café pelando de quente, não tem descansa copos, e eu estou preste as coloca-la sobre este lindo mogno...

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