Laura entre a Terra e Alsfar

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Laura voltava às duas da madrugada da comemoração de seu aniversário, organizada por seus familiares.

Seu pai e sua mãe foram embora mais cedo, enquanto ela e seus primos decidiram dar uma esticadinha pela noite de Palmas, Tocantins.

Ela deixou uma de suas primas em casa e seguiu pela avenida Teotônio Segurado rumo à sua, quando notou um movimento estranho na altura da mata do espaço cultural.

Os pequenos vultos pareciam filhotes de gato.

Laura se viu num impasse. O receio de ser assaltada e a pena dos animais. Decidindo-se pela segurança dos filhotes, parou o carro para prestar-lhes socorro.

Rapidamente conseguiu alcançar os bichinhos.

Notou que um dos quatro mancava. Ela o pegou no colo enquanto planejava levá-los para casa, apesar de saber que seus pais poderiam não curtir muito a ideia.

Ao olhar o bichinho de perto, Laura percebeu que aquele não era um filhote de gato. Na verdade, não se parecia com nenhuma espécie conhecida.

Apesar de num primeiro momento a pelagem preta e o tamanho indicar se tratar de um gato, sua cauda espinhenta e patas com garrinhas afiadas lembravam as de um dragão. Os olhos amarelados que a encaravam atentamente e as azas pequeninas, cobertas de penas, eram como as de uma águia. Os dentinhos pontudos eram como os de morcego. Qual foi o susto de Laura ao receber uma baita mordida, justo desses dentinhos.

Imediatamente, a visão da garota ficou turva, e ela perdeu os sentidos.

Laura despertou sentindo-se estranha, como se tivesse sido sugada por um aspirador. Cada pedacinho do seu corpo doía, e o contato com o chão frio não estava ajudando.

Enquanto assimilava aquela situação insana, ela percebeu uma sombra alta se projetando sobre ela.

Por instinto, a garota se afastou, antes mesmo de ver a origem daquilo.

Logo uma voz grave e solene soou.

– O que pretendia fazer com a minha irmã, humana?

Laura levantou o olhar para aquele ser impressionante. Tinha certeza de que era alguma criatura híbrida. Talvez um alienígena super gato, mesmo para os padrões humanos. Ao que parecia, as histórias da sua família sobre óvnis não eram tão fantasiosas assim.

Enquanto observava o ser com cautela, identificou naquela aparência alguns aspectos compatíveis com os das criaturinhas que ela havia visto na pista.

Aos poucos foi assimilando também as características daquele lugar imenso. Parecia o salão de uma catedral, e não havia teto. O céu colorido, pontilhado de estrelas, cometas e até planetas, era estonteante. Aquela aurora boreal era de longe a visão mais espetacular da vida Laura. Mesmo as fotos da internet não lhe faziam jus. A garota se sentiu insignificante diante de toda aquela opulência.

O ser, ela não sabia como defini-lo, continuava a observá-la com aqueles olhos inteligentes, a espera de uma resposta.

– Oi. Eu me chamo Laura. Eu não vi a sua irmã. Eu estava a caminho de casa, só parei para socorrer uns filhotes abandonados. Achei que fossem gatinhos. Só estranhei o aspecto. Um estava mancando. Eu pretendia levá-lo ao veterinário na segunda-feira, mas ele me mordeu, e eu desmaiei, e acordei aqui. Que lugar é esse? Eu não estou me sentindo muito bem, moço, será se eu poderia ligar para o meus pais virem me buscar?

Laura tentava ser eloquente, mas sentia-se exausta, e confusa, como se tivesse perdido seu eixo, seu senso de localização, e aquele céu impressionante não a estava ajudando em nada, ela sentia dificuldade para respirar.

LAURA ENTRE A TERRA E ALSFAROnde histórias criam vida. Descubra agora