20). Padecer

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— Romeu parece feliz com sua jaqueta de crochê. — Edward admirou a pompa do cabrito, pela janela. 

— Eu precisava me distrair com algo e resolvi fazer essa peça para ele usar na cerimônia. Esse repouso absoluto me desanima o tempo todo… Sei que é pelo bem dos meus filhos, mas estou entediado. — desabafou, envolvido com as lembranças simbólicas do casamento que aconteceria no fim da tarde.

— Vim em uma boa hora, então. — se animou, auxiliando Liam no que podia e se sentando perto dele.

— Lambe isso aqui. — estendeu o pequeno envelope na direção do ruivo, que o atendeu, selando o papel e aproveitou para tentar seduzir Liam, umedecendo os lábios logo após a função. Liam revirou os olhos e prendeu o riso. — Você sabe que não vamos ficar juntos, não sabe? 

— Têm certeza? Posso te ajudar com isso, cuidando deles e de você também. — se aproximou, o braço circulando os ombros do beta e a mão livre em seu ventre em um afago. 

— É o Zayn que eu quero, Ed. Apenas ele. E se não for ele, ninguém mais será. Eu sei que o pertenço. — deixou claro, em um tom melancólico. 

Tudo que envolvia Zayn deixava o beta sensível. Dois meses se passaram desde a descoberta da gravidez e suportar os desafios era complexo e como o próprio médico deixou avisado, tinha momentos em que jurava que não conseguiria aguentar o peso, as dores, incômodo e repouso constante, sem contar o mal estar frequente,  a pressão baixa e o drama nas refeições, porque seu estômago estava sensível e o cheiro do tempero de Michael, que sempre gostou, quase o levava a ruína. A solução foi aderir sopas mais encorpadas, entre os estranhos desejos envolvendo sua torta de pêssego com brócolis ou milk-shake de laranja com as batatas fritas de seu pai. Certo dia, Geoff viajou horas apenas para auxiliar o filho, mimando e satisfazendo sua vontade, e totalmente compreensivo quando o mesmo chorou horas depois por colocar tudo para fora e permitir que o esforço do pai tivesse sido em vão. Se sentiu culpado, afinal, mas Karen também estava lá para cuidar e consolar seu menino. Todos os finais de semana, nas folgas do trabalho, ambos voltavam ao rancho para estar com Liam e ajudar os amigos do beta nos cuidados com ele. 

E o veterinário odiou ser tão dependente, inclusive para caminhar com calma pela casa e diminuir seu ritmo que, de costume, era acelerado desde sempre. Optou em conjunto com os amigos, se mudar para um quarto no primeiro andar da casa para evitar as escadas. De certo que passava a maior parte do tempo no sofá, dormindo agarrado com a jaqueta esquecida de Zayn, ou chorando por saudades do alfa ou por consternação pela sua gravidez de risco, ou medo pelos seus bebês, mas tinha seus poucos momentos de distração ao ver o agito no rancho. Por vezes ficava na varanda, na rede, observando o trabalho dos funcionários e a movimentação na propriedade, com saudades do seu trabalho, e sempre de olho no celular, na esperança de que Zayn pudesse ligar e aceitar suas desculpas. Liam queria contar a ele sobre a gravidez, mas o contato com o alfa se perdeu e odiava pensar que a culpa era sua por ser ignorado. 

— É uma grande bobagem se iludir assim… — teimou, colocando as lembranças em um cesto e deixando-a na mesa de centro. Seria uma ocasião para poucos convidados, mas a tutora dos animais quis que fosse especial, se igualando a um casamento tradicional.  

— É o que o meu coração diz. E quando ele fala, eu escuto. — retrucou, chateado com a insistência do rapaz.

— Assim como foi com Josh? — refutou, um sorriso ladino e ar de quem obtinha para si toda a razão. 

— Josh é passado e não faz sentido citar seu nome. Zayn é o meu presente e provou que não é como ele. — o defendeu, achando injusto que Ed colocasse Zayn naquela posição de sujeito inescrupuloso.

— Ele não passa de um alfa, Lili. Betas ficam com betas e ômegas com alfas. — determinou, com ênfase. 

— Louis e Harry são ômegas e estão juntos. — pontuou, revoltado com o ponto de vista do amigo. 

Morada - ZiamOnde histórias criam vida. Descubra agora