Quando Antonella disse que gostaria de ir para outro lugar que não fosse a casa dos pais, pelo menos por um tempo, a ideia de convidá-la para meu apartamento usando Dom Quixote como pretexto pareceu boa. Ainda mais quando ela se empolgou ao ponto de me abraçar novamente, quase me derrubando como na ONG.
No entanto, depois de a Lady convencer o irmão a ser nosso cúmplice de sua "fuga" – o que ele aceitou sob certa pressão da Princesa – e entrarmos no carro para sair dos domínios do hospital, comecei a ficar nervoso.
Afinal, eu a estou levando para minha casa.
O lugar que mais revela coisas sobre mim e para onde nunca levei nenhuma outra garota sem ter o sexo como pretexto. De alguma forma, levá-la sem esse objetivo parece ainda mais íntimo, estranhamente.
Por mais que tente me convencer de que é só uma visita qualquer, não consigo evitar o nervosismo. Fico o caminho todo me perguntando o que ela vai achar, como vai ser.... algo que o silêncio em que a Lady se emerge durante o trajeto acaba contribuindo.
É tão torturante que nem ligar o rádio em uma estação de hip-hop ajuda.
A porcaria da letra da música – ou, pelo menos, a parte em inglês que eu consigo entender – parece conversar comigo e em como me sinto com relação à garota, agora que sei o quanto ela se tornou importante para mim.
Por isso, quando chego ao meu prédio, sou preenchido por um sentimento dúbio: estou aliviado de poder romper com o silêncio usando a chegada como desculpa, mas ainda tenso por estar mais perto de mostrar um pouco mais de mim.
"Não pensei que você morava tão perto da Starry Night", ela comenta assim que ocupo a minha habitual vaga no estacionamento e desligo o carro. "Na verdade, eu nem sabia que tinha residências por aqui, já que é um bairro tão barulhento".
"Acho que sou um dos poucos corajosos a se submeter a isso", eu retiro o cinto de segurança e ela me imita. Depois, nós saímos do carro e continuo enquanto me junto a ela: "Como pode ver, não tem muitas pessoas morando neste prédio", indico o estacionamento quase vazio, exceto por mais quatro veículos, além do meu. "O barulho faz com que a maioria dos inquilinos não dure, mas eu não me importo com o barulho quando sou um dos causadores dele na Starry Night. Como dono de boate, vem a calhar morar perto do lugar".
"É verdade", ela me fita e parece perceber algo de interessante ao fazer isso, pois abre um sorrisinho. "Nesse aspecto, nós somos bem diferentes. Eu detesto barulho".
"Sorte a sua que o meu apartamento tem isolamento acústico, então. Vamos?" Eu indico o elevador ao final do estacionamento com um movimento da cabeça.
Antonella assente e me segue até o cubículo, onde aperto o botão para o meu andar e a observo arregalar os olhos para o próprio reflexo no espelho quando o elevador se fecha.
"Nossa", ela murmura, assustada, e depois olha para mim: "Por que você me deixou sair na rua assim?".
"Assim como?".
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SOBRE A REALEZA E PAIXÕES ACIDENTAIS - ATO I
RomancePARTE UM: Sobrinha do rei de Orion, Antonella Lawrence cresceu sob rédeas tão curtas quanto as de qualquer membro da família real Greenhunter. Apesar de a possibilidade de sua ascensão para uma posição mais alta na linha de susceção ser baixa, ela n...