Capitulo 1

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Os pedaços de vidro ocupavam o chão, a grande mancha de sangue tinha destaque entre os cacos, mas era o corpo estirado pela janela que chamava a atenção de todos. Policiais e peritos rondavam a sala, tirando informações de testemunhas e provas espalhadas.

- Não deveria estar aqui.

Me virei rapidamente para Alex, me assustando com sua voz repentina.

- Porque não me falou que a Sombra de National City matou de novo?

- Primeiro, "Sombra" é um codinome horrível, e segundo, quem te deixou entrar aqui!? - a ruiva disse colocando suas luvas.

- Mike que deixou passar.  - dei de ombros.

Alex chegou perto do homem estirado pela janela, com a grande e afiada flecha preta encravada em seu peito. Me inclinei sobre seu ombro, tirando algumas fotos da cena enquanto ela estava distraída.

- Óbvio que deixou, ele só falta lamber o chão que você pisa. - ela levantou de repente, rente ao meu peito, me levando a esconder o celular rapidamente. - Não está tirando fotos está? Ainda é uma cena de crime restrita, o perito não terminou de examinar.

Neguei com a cabeça, o que não adiantou muito coisa, já que a ruiva negou com a cabeça e sorriu levemente de lado, obviamente não acreditando em meu gesto.

- Só espere um pouco para divulgar, temos muito a analisar ainda.

- Tudo bem, mas o que já pode me adiantar? - questionei, com minha melhor carinha de cachorro pidão, vendo Alex revirar os olhos. - Qual é, sis, ajuda a irmã prodígio no jornalismo. Cat está em cima de mim atrás de uma exclusiva sobre o assassino do arco e flecha.

Sorri quando ouvi Alex respirar fundo, e me puxar para o lado, nos afastando da multidão.

- Não há sinais de arrombamento, o que pode significar que o autor do crime conhece a vitima, não houve tentativa de reação, ou seja, a vitima estava com muito medo para reagir ou não teve tempo para pensar antes de ser atingida. - olhou em volta certificando-se que ninguém reparava em nós. - Ainda não temos um relatório do perito, mas a flecha fincada do peito da vitima obviamente o liga diretamente ao assassino que ronda atrás dos ricos de National City.

- A Som... - Alex me direcionou um olhar mortal antes que eu terminasse a frase. - Ok, sem apelidos. 

- Tenente, encontramos algo. - um policial chamou Alex. - Estava na mesa da vitima, provavelmente deixado pelo assassino.

Sabe quando você levanta tão rapidamente da cama que parece que seu corpo desliga momentaneamente? Sua mente parece ter se esvaído do corpo? Foi isso que senti naquele momento. Meu corpo gelou, minha visão escureceu rapidamente, os pelos de meus braços se arrepiaram instantaneamente quando o policial mostrou a foto que segurava para nós. 

A família Luthor.

A foto velha, um pouco amassada, mas ainda nítida. Tinha os quatro integrantes. Não pude evitar o momentâneo deja ju, parece que foi ontem que tirei essa foto. 

Foi no último ano de Lex, estávamos todos na casa de praia dos Luthors, Alex e Lex se conheceram na pré-escola e nunca se desgrudaram, o que uniu as famílias e futuramente iniciou minha amizade quase inseparável com Lena. Mas depois que Lex recebeu seu diagnostico de câncer, sabíamos que não o teríamos por muito mais tempo, então passamos a virada de ano todos juntos. Na foto, eles estavam abraçados, Lilian e Lionel estavam no meio, Lena e Lex encaixavam um de cada lado de seus pais, todos de brancos, os sorrisos largos, os olhos brilhantes, eles nem imaginavam que passariam o pior ano de suas vidas. 

Mas havia algo diferente naquela foto, bem em cima da cara de Lionel, um grande "x" em vermelho, e atrás escrito em letras misstrats.

Nicolas Scoob tirou a vida do patriarca dos Luthors, eu tiro a vida do patriarca dos Scoob e dou as verdadeiras vitimas sua vingança. 

Alex olhou para mim instantaneamente quando acabou de ler o bilhete.

- Preciso que ligue para Lilian Luthor. - acenei ainda com os olhos fixos no papel que o policial nos mostrara. Meus pés pareciam grudados no chão, e em minha mente eu poda jurar que havia uma competição de qual pensamento gritaria mais alto.

Como assim o tio Lionel foi morto? Porquê? Como? De acordo com os médicos ele teve uma parada cárdica. Foi dito causa naturais para os familiares. Tia Lilian sabia disso? Porquê eu que tenho que contar? Nem era para eu estar aqui. Lena sabe disso? Foi por isso que ela foi embora? 

Saí do grande prédio e segui para o único lugar que eu sabia que me traria paz. Sabia que quando voltasse para a Catco teria que focar totalmente no artigo, mas não estava com cabeça para isso, então fui para o único lugar no mundo que sabia que estaria segura e confortável. Deixei meu carro na garagem e passei pelo porteiro, lhe dei um breve sorriso, parei em frente ao elevador o esperando para me levar até a cobertura, mas antes que eu pudesse entrar, ouvi a terrível pergunta que rondava minha cabeça todos os dias, à todo momento, há quase três anos.

- Senhorita Kara, me desculpe incomoda-la, mas quando a senhorita Lena irá voltar? - entrei no elevador e segurei a porta, olhando para o amável senhor, que era porteiro daquele prédio desde quando Lena se mudou, o mais velho sempre a tratou como sua filha. Queria tanto ter uma resposta para suas perguntas. Algo concreto. Ou que ao menos pudesse lhe dar um mínimo de esperança, mas infelizmente não tinha essa resposta nem para mim. 

- Espero que em breve, George. - tentei sorrir, passando confiança, mas consequentemente falhei miseravelmente.

Encostei minha cabeça na caixa de metal quando a porta se fechou, o ar frio, o silêncio, pareciam insuportável. Olhei para o espelho atrás de mim, encarei-o por alguns segundos, virei rapidamente para os botões do elevador apertando o grande e vermelho escrito STOP, sentindo o baque do elevador parando alguns segundos depois. Tirei meu celular da bolsa e desbloqueei-o logo em seguida, observando a foto principal. Estávamos naquele mesmo elevador, tínhamos acabado de voltar do cinema, eu estava com medo de dormir sozinha, então acabei vindo para o apartamento de Lena, estava com o moletom dela, e a Luthor bebia o restante do seu refrigerante e falava uma bobagem qualquer que estava me fez sorrir no momento da foto. Era algo tão simples e sincero, sem filtros, era só nós duas. 

Me voltei ao espelho de novo, observando agora eu, sozinha, sem a única pessoa que me fazia rir de qualquer coisa, não importando a situação.

- Eu sinto tanta saudades, Lena, onde você está?

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Quem nunca sofreu por saudade? Tadinha da Kara...

Até a próxima!

ArkhamisOnde histórias criam vida. Descubra agora