QUANDO EU TE CONHECI
Janeiro é caótico.
Ele marca o início de um novo ciclo, uma nova era.
É o mês da esperança.
É quando os adultos podem sonhar sem se envergonhar.
É quando promessas são feitas e ambições são satisfeitas.
É quando o sol se põe com gosto e adormece a contragosto.
É quando a rotina bate na porta, te tira da zona de conforto e te causa desconforto.
Foi em janeiro que eu finalmente descobria alguém que de certo modo eu já conhecia.
Fazia um tempo que você estava presente ao mesmo tempo em que era ausente, em mim. Eu te olhava todo dia mas ainda não podia te enxergar. Até que aconteceu. Meu peito estava cansado, frustrado. Eu nem sequer queria estar ali. Em um certo momento da noite você ergueu a mão, disse que gostaria de partilhar algo pessoal. Eu tentei ignorar, você era só uma voz que se misturava com outras que gritavam na minha própria cabeça. Naquele momento, você calou meus pensamentos com os teus. A cada palavra que você verbalizava, algo em mim se desmontava.
Eu ergui a cabeça no exato momento em que teus óculos deslizavam do rosto, para a mesa, em um movimento rápido, preciso e de certo modo, urgente. Você enxugou as lágrimas, limpou a mão na calça jeans e confessou que a vida era um fardo pesado demais às vezes. Você contou como se sentia, como que se via, como ainda sobrevivia. A minha cabeça se calou e meu coração gritou. Eu fechei os olhos e desabei, junto com você. Eu quis levantar, atravessar a sala, te abraçar e dizer que eu entendia, mas permaneci imóvel, assustada. Você jogou tudo dentro da mochila, avançou porta a fora e eu fui atrás. A coragem me abandonou alguns passos depois, então eu parei e observei você ir embora, como se nada tivesse acontecido. Naquela noite eu te enviei a primeira mensagem, a primeira confissão.
Foi nesse momento que começou nossa confusão.
Naquela noite eu não só te enxerguei, como por ironia, presenciei tua vulnerabilidade dançar com a minha cumplicidade, em completa harmonia.
Foi no caos da tua tempestade que eu te conheci,
meses depois eu ia descobrir que também foi nela que te perdi.
Naquele ano, janeiro foi responsável pelo nosso primeiro passo.
No próximo ano, ele seria responsável pelo último.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Atmosfera entre nós - Tudo aquilo que eu queria que você soubesse
PoésieEssa é uma coletânea de textos e poemas para todos aqueles que já se sentiram sufocados pelo amor. Quando nos apaixonamos, pulamos de um precipício, sem paraquedas, na esperança de que o outro esteja lá, de braços abertos, para nos segurar. Somos in...