four

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- Eu poderia jurar que já estamos andando a horas - Mingyu resmunga atrás de mim.

- Poderíamos andar bem mais se você parasse de reclamar - Respondo.

- Vamos parar um pouco, daqui a pouco vai escurecer e precisamos voltar - Ele me alcança.

Tudo que tem a nossa volta são folhas, arbustos, árvores e mato.
A pequena estrada de terra que estávamos seguindo, sumiu sem que eu percebesse.

- Mingyu... - Olho ao redor - Você sabe o caminho de volta, né?

- Eu estava seguindo você - Ele me encara espantado.

- Puta que pariu.

- Calma - Mingyu coloca as mão na cabeça, pensando no que fazer - Vamos andar no sentido contrário, acho que viemos de lá.

- Você acha? - Ironizo, com raiva na voz.

- Você que começou a andar igual uma maluca - Ele rebate - Eu só acompanhei. 

Andamos por mais alguns minutos, quase uma hora, mas não encontramos nenhum sinal de civilização. O sol já estava se pondo, e o frio começava a tomar conta.

- Okay, isso não vai dar certo - Eu digo, irritada.

- Acho que vamos ter que acampar aqui mesmo - Mingyu suspira, olhando para o céu.

- Acampar? - Repito, incrédula - Você tem uma barraca? Um saco de dormir? Alguma coisa?

- Não, mas podemos improvisar - Ele diz, tentando parecer confiante - Vamos procurar um lugar seguro e fazer uma fogueira.

- E se algum animal selvagem nos atacar? - Pergunto, olhando para os lados.

- Não se preocupe, eu vou te proteger - Ele sorri, me puxando pelo braço.

- Você é louco - Resmungo, mas o sigo mesmo assim.

Encontramos uma clareira cercada por árvores, onde havia algumas pedras e galhos secos. Mingyu se encarregou de montar a fogueira, enquanto eu procurava algo para nos cobrir. Peguei algumas folhas grandes e as amarrei com cipós, formando uma espécie de manta. Não era muito confortável, mas era melhor do que nada.

- Pronto - Mingyu anuncia, acendendo a fogueira com um isqueiro que ele tinha no bolso - Agora podemos nos aquecer.

- Você sempre anda com um isqueiro? - Pergunto, desconfiada.

- Ei, o que você está insinuando? - Ele ri - Nunca se sabe quando vai precisar. Vem, senta aqui comigo.

Ele se ajeita perto da fogueira e me chama para ficar ao seu lado. Eu hesito, mas acabo cedendo. Ele me envolve com a manta improvisada e me abraça pela cintura. Sinto seu calor e seu cheiro, e meu coração acelera.

- Você está bem? - Ele pergunta, olhando nos meus olhos.

- Estou - Minto, tentando disfarçar o meu nervosismo.

- Você sabe que eu sinto muito por termos nos perdido, né? - Ele continua, com uma expressão séria.

- Eu sei, Mingyu. Não foi culpa sua - Digo, tentando ser gentil.

- E, eu acho que preciso me desculpar por outra coisa também - Ele diz, baixando o tom de voz - Eu estou falando daquela noite.

- Que noite? - Finjo não saber do que ele está falando, mas sinto meu rosto corar.

- Você sabe - Ele insiste - A noite da festa.

Engulo em seco.

Ele está falando do nosso "incidente". Algo que eu achei que nunca mais iria vir a tona.
A noite em que nós nos beijamos pela primeira vez. Foi há alguns meses, em uma festa da faculdade. Nós estávamos bêbados, dançando na pista, e de repente ele me puxou para um canto e me beijou. Foi um beijo intenso, isso nunca mais saiu da minha cabeça. Eu me entreguei ao momento, sem pensar nas consequências. Mas depois, nós não falamos mais sobre isso. Agimos como se nada tivesse acontecido.
E eu achei melhor assim.
Mas agora aqui está ele, olhando nos meus olhos falando sobre isso pela primeira vez.
Eu quero morrer.

24h; mingyuOnde histórias criam vida. Descubra agora