Mártir

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MÁRTIR

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— Naruto, diga à Sakura que eu sinto muito.

É uma incógnita para mim o porquê de você se desculpar tanto com ela.

Não foi capaz de perceber?

Talvez você não me ache inteligente o suficiente para ter te manipulado e plantado a ideia de que você era o único para essa missão. Eu sei que você é um bastardo cheio de si, mas pode ser mesmo que eu tenha te levado a crer numa mentira. 

Um grupo com bons shinobis e um plano eficaz lhe dariam anos a mais com sua família.

Mas eu não quis, Sasuke.

Eu premeditadamente arruinei sua vida.

Não é algo que alguém espere ouvir de um herói, mas eu fiz.

É claro que não lhe desejo mal, mas tê-lo por perto é ironicamente insuportável.

Você me ofusca, meus defeitos mais traiçoeiros ficam evidenciados por sua presença e, como uma afronta que só eu vejo, vive a vida que eu sonhei para mim, ao lado da pessoa que amei.

Não.

Não tire muitas conclusões ainda, eu realmente superei aquele afeto pela Sakura-chan, mas o se reverberou por um tempo. Uma incerteza do que poderia ter sido se não fosse o seu fantasma na nossa vida.

Não me culpe se você passou pelo mesmo antes de nos abandonar, considerando ficar unicamente por causa dela.

E quer saber, Sasuke? Talvez tudo isso tenha um fundamento ancestral. Esse sentimento de que você é um obstáculo. Não num passado longínquo como Indra e Ashura, mas, ainda assim, no passado.

Durante um tempo, bem lá no início, eu te odiei como o menino que eu era. Essa era minha única maneira de retribuir seu desprezo injustificado, porque eu não merecia aqueles olhares e caretas sem sentido. 

Eu sei que a maior mancha de nossa História foi a execução de seus familiares, Sasuke, e todos nós assistimos, calados, como isso te modificou para pior.

Mas você faz ideia de como era um cuzão antes mesmo da tragédia? Sem eu ter te feito merda nenhuma?

Sorridente, corria para seu irmão, mas não era capaz de agir assim com mais ninguém. Você se achava superior... e por um longo tempo eu acreditei que fosse mesmo.

Talvez um pouco disso tenha ficado em algumas arestas, Sasuke. Esse ódio.

E depois vinha o ciúme.

Você era o que chamávamos de gênio e todos os poderosos estavam interessados em você. Não esperavam nada de mim, naquela época. Nosso sensei mal me via e não me achou capaz o suficiente para aprender o chidori, afinal, bom, eu não tinha nenhum sharingan. Essa inveja, a princípio inocente e benigna, foi me correndo, Sasuke.

E, estranhamente, eu sentia raiva quando você era gentil com a Sakura-chan. 

Entenda bem, eu nunca desejei que você fizesse qualquer mal a ela, mas quando você não o fazia parecia que algo havia mudado e eu não fui rápido o suficiente para acompanhar. No momento em que você começou a cuidar dela eu fiquei ferido, era o único papel que havia me sobrado para desempenhar e você o tirou de mim.

Não serei injusto. Você era assim comigo também, é claro. Você era bom. Mas com Sakura era... diferente. Você sempre a mantinha no campo de visão de seus olhos e podia lê-la como eu nunca pude. Escutava-a, mimava-a e, principalmente, confiava nela segredos que me eram negados. 

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