A Cidade Primavera

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Dulceville estava movimentada. Diferente de outras épocas do ano, as pétalas de cerejeira pareciam floquinhos de neve rosados caindo em cascata e as flores estavam despediam-se uma a uma, o que contribuía para que a minúscula cidade, do tamanho de uma vila, ficasse ainda mais bonita e doce recheadas de resquícios coloridos ao chão.

O lugar dominado por ômegas e betas era antigo, conseguiu se fortalecer logo após a última guerra. Os ômegas junto aos seus filhos, precisaram se defender sem a volta de seus companheiros alfas, que morreram pela honra do país. Dulceville foi esquecida e não recebeu ajuda de fora, e claro, graças a garra da raça ômega, tão predominante que entre eles, conseguiram popularizar-se e criar o seu pequeno espaço, com suas leis e suas próprias regras.

Dulceville tinha um cheiro tão forte de diferentes ômegas, que parecia uma grande confeitaria, caso alguém passasse por perto.

Diferente do resto do mundo Dulceville tinha o poder nas mãos de ômegas. Tudo girava em torno e em prol dos reprodutores e mesmo que a cidade parecesse tão fofa, absurdamente cheirosa e com as pessoas mais pequeninas e bonitas das linhagens, sabiam que o povo dali era muito trabalhador e guerreiro.

Era quase como uma lenda urbana, ficava totalmente fora do mapa, longe e o trem para a capital era muito distante. Na metrópole, alguns alfas adultos tinham devaneios do quanto o pequeno território deveria ser o paraíso, adocicado e tentador, coberto de ômegas fêmeas e machos necessitados de nó. Mas, para os realmente entendidos aquilo estava longe de ser o sonho de um alfa.

Jeongguk sabia bem disso, ou melhor, ele podia contar detalhadamente sobre como era viver no meio de um mundinho feito para ômegas, afinal, ele era o único alfa dali. O que restou, o sem pai, o sem autoridade, o cara comprido demais em meio aos outros e desajeitado para fazer qualquer coisa sem agir como um idiota. Era assim que o viam.

Dulceville não era injusto, não tinha injustiça e descaso na cidade primavera. Por quanto séculos ômegas foram tratados como objetos sexuais e de uso de reprodução? Apenas naquele local eles tinham total dominância. Seria impossível dizer que algo ali era injusto.

Jeongguk só era azarado mesmo.

Pense só, após uma pequena infecção nos períodos de guerra muito dos ômegas engravidaram com uma mutação beta, criando assim uma geração grande de seres não-instintivos. Os que não nasceram betas, nasceram ômegas, e isso sempre se repetiu por décadas na cidadezinha. Betas e ômegas médicos estudaram na capital e trouxeram a inseminação para Dulceville, desde então, a população passou a casar-se entre si e nunca mais buscou pelo gene alfa. Sequer sentiam o cheiro de tão longe. Foi em uma tarde de 1997 que um comerciante esbaforido e adoentado chegou com uma das médicas em Dulceville e em seu pouco tempo de vida e recuperação, se apaixonou e engravidou a mãe de Jeongguk.

Criado nos costumes de ômega e em meio a tantos deles, Jeon era tratado como um animalzinho primata. Quando era pequeno, com seus olhos saltados e mãos curiosas, ele era incontrolável. Fazia seus coleguinhas ômegas chorarem muito e era totalmente brigão. Sua mãe se via louca quando encontrava o filho em cima do escorregador da pracinha, com uma espada de plástico em sua mão gritando que ele era um lúpus. A televisão dizia a ele que alfas eram poderosos, mas a sociedade apenas tentava acalmá-lo para que agisse como um ômega.

Quando virou adolescente sua mãe o proibiu de rosnar. E nunca, em hipótese alguma, usar a voz de alfa. Aquilo jamais deveria ser ouvido. As veias do alfa tremiam de vontade e até mesmo curiosidade, mas como sempre o que foi lhe dito era obedecido, o que uma ômega dizia era uma ordem que deveria ser cumprida.

A vontade de ter namoradinhos e namoradinhas surgiu cedo também, bem mais do que ômegas que pensam em coisas mais importantes antes, como educação. Jeongguk tinha atenção de alguns mas ele sempre era visto como um bobão marrento, que em metade da conversa já falava sobre ser um alfa, e isso era abominável naquela cidade.

Alfas não passarão!Onde histórias criam vida. Descubra agora