Era um campo de lavandas. O vento soprava lentamente aquele perfume inebriante no meu rosto, ao mesmo tempo que jogava meus longos cabelos ruivos para trás. Olho para o céu e percebo que o sol já nasceu quase por completo, já se poderia ouvir a melodia dos pássaros o anunciando fervorosamente, a medida que revelava os flamejantes raios de sol. Não havia ali um fio de nuvem, a brisa gélida daquela manhã tocava delicadamente minha pele, causando pequenos arrepios e por mais que aquela imensidão azul não tivesse nem um véu de nuvem, a temperatura estava realmente baixa.
Caminho placidamente dentro daquele campo tão vasto, a brisa calma sopra e forma ondas delicadas, enquanto as pontas dos dedos da minha mão esquerda toca suavemente aquele tapete tão confortável, tão vibrante. Levo minha mão direita a minha barriga. Eu estava grávida. Acaricio gentilmente por cima do vestido marrom claro que estava usando. Eu não fazia ideia de que dia, que mês, que ano ou que século era aquele, só queria estar ali com todo aquele misto de emoções que transbordavam à flor da pele e também o meu coração.
- Querida? - Uma voz doce sussurrou a poucos metros de mim, olho para a frente e vejo um rapaz alto usando roupas estranhas, estava com uma cesta de maçãs vermelhas entrelaçada em seu braço esquerdo. Seu rosto estava borrado, me impedindo de reconhecê-lo, porém eu poderia ver seu marcante olhar, composto por um par de olhos castanhos profundos. Permaneço ali parada fitando-o silenciosamente, ainda que milhões de interrogações planam sobre minha cabeça. - Querida, já colhi tuas maçãs. Sei que adoras passar o tempo aqui, mas precisamos voltar, eu tenho que ir para o campo. - Ele continua justificando gentilmente.
- Temos que voltar para onde, querido? - Indaguei, para minha surpresa não o espantei e por mais que eu tentasse, tudo aquilo não fazia sentido para mim.
- Para nossa casa. - Ele respondeu tão pacificamente que eu poderia sentir esvoaçar um tanto de segurança.
Se dirigiu calmamente até mim, segurou minhas mãos delicadamente, o calor da sua pele ultrapassava cada centímetro da minha. Curvou-se lentamente e beijou minha testa, em seguida da ponta do meu nariz. Seus lábios eram tão macios com um toque aveludado. Era como se eu fosse algo tão precioso, tão raro. Provavelmente eu era. Por um momento eu só queria permanecer ali, naquele campo e com aquele moço tão gracioso. Somente nós dois e toda a guarida que agora nos cercava.
- Eu sei que iremos voltar outras vezes, mas agora vamos. Irei acompanhar-te até nossa casa. - Entrelaçou seus dedos nos meus, a energia fluia entre nosso toque, ele me guiou gentilmente e eu pude sair de dentro daquele campo.
Pegamos um caminho de terra e andamos por cerca de 1km, enquanto isso ele ria, conversava e exaltava o quanto estava feliz com a chegada do nosso primogênito.
Ao chegarmos, a estranheza de todo aquele lugar acompanhou-me. Havia ali uma casa de pedras com telhado de palha, onde deveria ser as janelas eram apenas buracos cobertos por algum tipo de madeira, avistei algumas árvores frutíferas plantadas rodeando o casebre e um jardim bem zelado. Era simples e aconchegante. Ao horizonte poderia avistar outras casinhas iguais a esta, então não estávamos sozinhos ali. O cheiro de lenha em labaredas ondulava no ar e ao mesmo tempo misturava-se com o perfume adocicado das flores.
Com um pouco de esforço, ele empurrou a porta que parecia ser muito pesada e aguardou que eu entrasse primeiro, logo fazendo o mesmo. O chão era de terra batida, havia ali uma pequena mesa e quatro cadeiras de madeira, um fogão de pedras e algumas panelas e copos de barro, além de tigelas, pratos e colheres de madeira. A iluminação era mínima mas a organização daquele lugar era um tanto satisfatória.
Ele pôs gentilmente a cesta com as maçãs sobre a mesa, puxou uma cadeira para mim e depois para ele, lançando-me um olhar convidativo. Talvez percebesse toda a minha indiferença. Eu permanecia imóvel enquanto meus olhos deslizavam por cada centímetro daquele interior. Ele permanecia pacífico, sereno, logo caminhei a passos lentos e me sentei na cadeira que ele havia arrastado para mim. A brisa gélida que antes acariciava minha pele se tornara um ardor que vinha das chamas daquele fogão aceso, que agora estava me aquecendo. Desviei meu olhar para o fogão e percebi uma pequena panela de barro sobre ele, onde exalava um aroma requintado de leite quente, ouço um barulho baixo de regougos na minha barriga e percebo que estou com fome. Aquele moço logo tratou de pegar dois copos e uma tigela que continha alguns pães que pelo aroma, eram frescos.
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Sol do Amanhã
RomanceElise Madelyn é uma jovem filha de um pai brasileiro e uma mãe americana. Um certo dia, ela resolve sair do Brasil e ir morar com sua tia Eva em Los Angeles, Califórnia, EUA. Ansiava mais do que tudo em reconstruir a sua vida, conhecer pessoas novas...