Chegar em casa foi difícil. Elizabeth nunca foi o tipo de mulher que enche a casa de decorações, pinta paredes com cores diferentes ou infesta o apartamento de plantas. Poucos móveis, paredes brancas, e para não dizer que não há absolutamente nada, um portarretrato sobre uma estante, ao lado de alguns livros. Talvez esse detalhe tenha dado um pequeno impulso à sensação de ambiente triste e ao sentimento de vazio que preenchia o peito da mulher de cabelos pretos.
Definitivamente não era um lugar muito divertido para uma criança de sete anos, mas era o que tinha, e teria que servir. Webber torcia para que servisse.
— Não é muito grande, desculpe não poder oferecer algo melhor... — falou para o menino ao seu lado que segurava uma malinha nas mãos. O garoto parecia não ligar muito para o espaço em si. Parecia com o olhar perdido. — Vem, vamos arrumar um cantinho improvisado no meu quarto. Amanhã a gente começa a arrumar o quarto reserva.
O menino apenas balançou a cabeça positivamente. Estava cansado, definitivamente. Era muito acontecendo em tão pouco tempo, e Liz compartilhava daquela sensação. Apenas queria tirar aquele cheiro de hospital de seu corpo e deitar em sua cama. Dormir era outra história.
O garoto entrou acanhado no lugar. Confiava na tia, por mais que ela fosse uma "desconhecida" em sua cabeça juvenil. Se sua mãe confiava nela, ele confiaria também. Ela não lhe faria mal, sabia disso, mas era estranho estar em um lugar diferente.
Assim como Joui, Elizabeth estava segurando uma mala. Mala encontrada no carro da irmã com pertences da falecida. Encostou a mala no canto da sala, optando por deixar aquilo pra depois. Precisaria de forças para ver aquilo.
Caminhou até o quarto que estava cheio de tralhas e bagunça de trabalho, o quarto que usava como "escritório", pegou o colchão que estava ali jogado para quando acabava dormindo enquanto trabalhava, e o colocou do lado de sua cama. Pegou uma coberta que estava na parte superior de dentro do seu armário, um dos três travesseiros que tinha sobre a cama de casal, e ajeitou no colchão.
Quando voltou para a sala, viu seu sobrinho caindo de sono em pé ali no mesmo lugar.
— Vem Joui, você tem que escovar os dentes... — Elizabeth guiou o rapazinho sonolento até o banheiro, que despertou com o toque da tia em seu ombro, e a acompanhou. — Trouxe pijama?
— Trouxe. Aqui na mala — falou coçando os olhos com as costas das mãos, mãos pequenas que lembram as mãos de sua irmã. Assim que essa memória veio à sua mente, seu coração se apertou e mais uma vez as lágrimas encheram seus olhos. Respirou fundo e saiu do mar de saudade em que havia se afogado quando escutou o barulho da torneira sendo aberta por seu sobrinho, que já tinha pego a escova e a pasta de dente.
Elizabeth se aproximou do garoto e começou a escovar os próprios dentes também, e não houve nenhuma conversa até que ambos estivessem deitados, cada um em sua cama.
— Tia Liz? — Joui chamou num sussurro com medo de acordar a mais velha.
— Oi! Pode falar — sussurrou de volta.
— Eu posso... Posso deitar com você? Só hoje? — perguntou e Liz pode ver as pontinhas dos dedos do menino segurando a beira de seu colchão e os olhos levemente inchados e temerosos a encarando.
— Pode sim. Vem — A mulher deu um sorriso fechado. Joui subiu na cama e deitou ao lado da tia. — Você tá confortável aí?
O menino balançou a cabeça positivamente. Liz esticou o braço e apagou a luz do abajur, que era a única coisa que iluminava o quarto. Quando a escuridão tomou o quarto, veio com ela uma onda de pensamentos na cabeça da mulher. Uma sensação de falta de ar. Por quê? O que eu vou fazer agora? O que vem a seguir? Como lidaria com uma criança que nem conhecia direito? Como conseguiria suprir a necessidade maternal que o menino teria? Nem tinha filhos!
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Vizinhos da Má Sorte [Lizago]
FanfictionEm que Elizabeth é uma cientista forense que tenta lidar com o luto da irmã e aprende a conviver com seu sobrinho. ou Em que Thiago é um jornalista recém chegado em São Paulo com seus dois filhos e tem que se adaptar com sua nova vida.