Heloisa conhecia bem o que sentia, não era a primeira vez que esses sentimentos lhe invadiam, por mais que tentasse de todas as formas negar e esconder, não dava e admitir era ainda mais difícil, pois raramente se sentia atraída por seu gênero.
No entanto, não podia negar que na sua adolescência o desejo era mais recorrente, mas um acontecimento foi decisivo para ela enterrar esses desejos bem no fundo de seu ser a ponto de raramente falar sobre ou melhor nunca, trancou tão profundo dentro de si que não ousava pensar e muito menos contar a alguém, isso incluía Francisco, durante o tempo em que passaram juntos, guardava para si esse segredo.
Aos 14 anos se relacionou com uma menina pela primeira vez, chegaram até a namorar, erroneamente acreditava que teriam um futuro felizes juntas, no entanto seus pais frustraram seus planos de um futuro colorido e feliz.
Por serem extremamente religiosos, seu romance ou melhor suas tendências, como dizia o pai. E por não aguentar todo o drama familiar que gerou depois disso, optou por deixar de lado suas vontades e agrada-los.
Mas com a sua decisão, veio sobre si a consequência, o sofrimento com o afastamento e a perda de seu amor.
Seus pais aproveitaram a oportunidade e a afastaram ainda mais do amor, a mandando morar com a avó materna, em uma outra cidade.
E assim, tiveram êxito em mantê-la longe e para sempre do seu pecado, também lhe diziam isso.
Mudou de escola, de amigos e hábitos… Sob constante vigilância em, sua vida, desde como se vestia ou se portava diante dos outros sua avó era bem rígida quanto a isso.
Heloisa mudou tanto que na época evitava ao máximo ficar próxima demais de alguma menina, fosse quem fosse, até mesmo suas primas.
Sua avó virou sua melhor amiga e sempre lhe aconselhava sobre tudo, mas não tocava no assunto que a fez morar com ela, era como se o fato de ter se relacionado com uma mulher, nunca tivesse acontecido e foi esquecido completamente assim, que arrumou seu primeiro namorado.
Anos se passaram e por mais que tentasse uma vez ou outra, acabava atraída por uma mulher, mas tratava de ficar logo com um rapaz, para que aquilo saísse de sua cabeça. Mentindo para si, tão bem que acabava esquecendo do ocorrido.
Só que com Manu, sempre que a via era como se uma corrente elétrica corresse livremente por seu corpo. E está assim com ela só deixava claro o óbvio, mesmo naquela situação absurda, não conseguia pensar em nada além daquele desejo e da mulher ali em seus braços.
Se encostou melhor, a puxando um pouco mais pra cima, decidindo assim aproveitar aquele momento e parar de pensar naquelas sensações o que era difícil dada as circunstâncias.
Como conseguiu adormecer era uma incógnita, mas também estava exausta.
Precisava descansar.Tão quentinho pensou, acomodada como estava não sentia vontade de levantar, sabia que pesava, mas a sensação era boa demais para querer que acabasse, fechou os olhos e começou a pensar em tudo que as levara ali.
Era tão gostoso ficar quieta e aconchegada, sem contar do cheiro bom que emanava de Heloisa, aliás tudo nela por sinal era gostoso de sentir. Então, por que não eram amigas mesmo?
Não conseguiu responder, Pedro também não fazia questão da amizade entre as duas, sempre deixou claro que não era a favor de uma aproximação, a ponto de conseguir convence a ela não tentar a amizade entre ambas. Agora entendia o porquê?
Se fossem, próximas seria obviamente mais fácil de descobrir o romance proibido entre os dois, por isso era mais fácil mante-las separadas e assim continuar seu caso, sem mais preocupação.
Apostava que seu marido jamais imaginou a possibilidade de um dia vir a descobrir, ainda mais daquela forma. Ali entendeu o velho ditado que dizia: “Não há nada oculto, que não seja revelado".
Aconchegada ali, foi difícil definir quanto tempo passou assim, sentindo o calor do corpo da outra, sentindo o cheiro e de repente algo tocou sua mente. O que estava fazendo?!
Devagarinho desvencilhou-se dos braços de Heloisa para não acorda-la, mas ficou ao seu lado, a olhando dormir, tirou uma mecha de cabelo do seu rosto, percebeu a posição incômoda que a outra estava e decidiu a sem acomoda-la melhor, com o cuidado de não desperta-la, o que era uma missão difícil, parou e pensou, melhor deixar como está, suspirou, o máximo que vai acontecer é um problema de torcicolo pelo jeito que seu pescoço estava no sofá.
Mas sério tentou mesmo assim, e não foi difícil como pensava ajeitar ela no sofá, sorriu a cobrindo com uma manta, e mesmo depois de tudo organizado, perdeu um bom tempo cuidando do sono da outra.
Olhando-a daquele jeito quem parecia uma criança era ela, tão tranquila e inocente.
De repente seu coração acelerou.
Nervosa, mas pelo o quê?
Deixando seu pensamento fugir e levantou indo em direção ao seu antigo quarto. Chegando lá.
Olhou ao redor, se encostou na porta deu um longo suspiro, a cama bagunçada.
O que faria agora?
Sua vida virou uma bagunça em apenas um dia, sorriu sem graça, melhor saber a verdade que está enganada a vida toda, só que a verdade era difícil de engolir também.
Se ao menos desconfiasse de seu marido, só que nem isso. E assim do nada, veio a conhecer esse lado dele. A traiu com um homem, e por mais que tentasse dizer pra si que não era culpa sua, acabou se culpando.
Afinal, um relacionamento é feito de dois e em algum momento ali tinha errado. Se aproximou da cama que por anos fora sua e sentada ali chorou. Chorou por seu casamento destruído, chorou por si, chorou por tudo.
Sentiu uma mão em seu ombro e de repente sentiu um abraço, era Heloísa. Como ela tinha chegado ali tão rápido, não a tinha deixado dormindo na sala a pouco tempo.
— Shiiii… Shiiiiiii. Calma!!!! - disse Helô em seu ouvido.
Manu entendeu que naquele dia se sentir criança era permitido, se agarrou a outra como um náufrago se segura em um salva vidas em alto mar. Chorou copiosamente. Sentiu as mãos Helô acariciando seu cabelo.
— Já chega!!!! - falou se afastando. – Estou parecendo aquelas novelas mexicanas, só dor e sofrimento. - sorriu sem graça.
— Gostaria de poder fazer algo… me sinto tão impotente nessa situação.
— Só que o que você poderia fazer?! Eu tô chorando e você tenta me consolar, mas a verdade é que nós duas precisamos de consolo. O que pensa fazer?
— Bom!!! – levantou Heloísa — Sinceramente eu preciso comer… não aguento mais meu estômago reclamando. – disse em tom de chacota.
As duas caíram na risada, afinal com os acontecimentos, não tinham se alimentado e já era noite.
— A gente pode procurar algo pra comer!!! - sugeriu Manu – Ou podemos pedir algo. Não sei o que exatamente aconteceu, com os empregados, não estão em casa hoje.
— Prefiro a primeira opção, pedir algo provavelmente vai demorar e com a fome que eu tô duvido que eu consiga esperar sem subir pelas paredes.
— Então me acompanhe até a cozinha, lá talvez tenha algo.
— Posso fazer alguma coisa pra gente comer. - Falou Heloísa
— Pode ser… Se prometer que não vai colocar fogo na minha cozinha.
— Não sou uma master chef, mas me viro muito bem. - Helô falou por fim.
— Quero só ver!!! - Manu brincou.
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Se Deixe Levar
RomanceManu é uma mulher casada e vive um casamento tranquilo, entretanto sua vida muda por completo, depois que descobre por Heloisa noiva do melhor amigo de seu marido, que as coisas não são bem assim. E que seu casamento não é um conto de fadas. Toda s...