Capítulo 1

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  Saio de casa rapidamente apertando o passo enquanto arrumo o fecho de minhas sandálias e ajeito a bolsa sobre o ombro.
  Minha mãe deve estar furiosa. Ela não tolera atrasos. Mesmo que seja apenas para tomar um café da tarde em sua casa.
  Estou a três quadras de sua casa quando recebo uma mensagem: "Onde você está, Laurie??", e logo em seguida, outra, "O café já está esfriando, vou ter que esquentar novamente", seguido de vários emojis vermelhos de raiva.
  Solto um suspiro e lhe respondo: "Oi para você também, mãe!", "Já estou chegando".
  Mal tenho tempo de subir os degraus de sua casa quando ela escancara a porta. Levo um susto. Já deveria estar ali atrás há algum tempo.
- Lauriiie, você chegou, finalmente! - Diz ela me dando um abraço tão apertado que perco o ar e lhe dou tapinhas nas costas para me soltar.
- Oi, mãe. Como você está?
  Ela me olha como se fosse a primeira vez que me vê em muito tempo. (Fazem apenas dois dias). Ela hesita, mas depois balança a cabeça e responde:
- Eu estou ótima! Entre, entre, vamos tomar logo o café antes que esfrie novamente.
  Logo que entramos sinto uma mistura forte de laranja e café no ar. Isso me traz lembranças de infância, quando ela me fazia de bom grado bolo de laranja quando eu lhe pedia. Mas isso acabou quando meu pai morreu. Sinto que ele era a alegria da sua vida, pois, quando ele morreu ela parece ter perdido completamente o rumo. Nunca mais havia feito bolo de laranja desde então. Fico feliz que ela esteja recomeçando novamente após tantos anos..
  Sento à mesa e espero que ela fale algo. Ela não fala. Ao invés disso, apenas continua a passar o café e a pegar duas xícaras. Corto uma fatia de bolo morno.
  Ela coloca as xícaras com estampa de lírios roxos sobre a mesa e coloca o café.
- Então, querida, tem feito algo ultimamente? Algum namorado? Curso novo?
- Nada, está difícil arranjar algo por aqui. E não, NADA de namorado.
  Ela me olha como quando as mães te olham quando vão te dar um sermão e começa:
- Querida, você tem que fazer alguma coisa na sua vida. Não pode depender da pensão do teu pai pelo resto da vida, você sabe. E quanto aos homens, alguma hora você vai ter que casar e construir a tua família.
- Eu sei mãe, mas acho que sou muito crítica com eles e acabo não aceitando nenhum.
- Ahá. Então o problema está em você. Você tem que começar a se abrir para novos horizontes e testar coisas novas, filha.
- Pois é.
 
                                *

  Vou embora mais tarde do que planejei. Esses sermões de mãe podem durar horas.
  Como está muito escuro, me agarro à minha bolsa e tento escondê-la. Para, não sei, evitar assaltos, talvez?
  Quando estou na metade do caminho vejo que alguns metros a frente há alguns homens, aparentemente bêbados, encostados em um carro. (Que porcaria, por que justo agora que estou voltando eles têm de estar ali???)
  Não queria fazer isso de jeito nenhum, mas também não queria ser assediada por homens bêbados. Olho de canto para um beco à minha esquerda e suspiro.
  Mas este suspiro é interrompido quando ouço uma voz um pouco rouca vindo dali.
- Por favor, me ajude.
  Sei que não devo, minha intuição grita para ir embora, mas, entro no beco, hesitante.

O Anjo e a MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora