One-shot Kaithur

I

Poucas tinham sido as semanas passadas desde os eventos de Santo Berço. No meio de papeladas, reuniões, tratamentos, tanto físicos como psicológicos, era difícil ter um tempo para parar e respirar. No entanto, os restantes membros da equipe preferiam assim. Era uma razão para não parar e ter que cair na realidade dos eventos que tinham ocorrido durante aquela semana catastrófica.

Poucas semanas, e já havia conversas da 'próxima missão', da próxima situação de perigo da qual eles podiam não voltar. Arthur sabia que estar na Ordem era um trabalho perigoso, mortal e acima de tudo, incerto. Era assustador pensar em como há menos de dois meses, ele não só tinha perdido grande parte da sua família, a vida que tinha levado até ali, e agora estava se habituando a uma outra rotina, vivendo debaixo do mesmo teto que Ivete, que considerava como mãe.

-Arthur! ARTHUR! - Uma voz familiar pareceu fazer com que ele saísse daquele transe do loop dos acontecimentos das semanas anteriores. - Mas você vai me ajudar ou não, cara? E nem vem com a desculpa de não ter um braço de novo, já vi você fazer muita coisa com um braço, mais do que eu consigo com dois.

-Não, bonitão, eu gosto de ver você trabalhando. - Arthur sorriu e se inclinou na cadeira onde estava sentado, vendo o amigo carregando umas caixas para o seu quarto. Era um dos seus parceiros da Equipe E, franzino e com postura torta como usual, que tinha feito a proposta de viver com Arthur e Ivete há dias atrás, mas ainda estava levando os seus pertences para o seu novo quarto, que deixou para trás na base da Ordem por preguiça depois de ter saído do último hotel onde esteve. 

Os dois tinham se aproximado bastante durante toda a jornada de Santo Berço, e agora que viviam juntos, a proximidade dos dois era maior que nunca, quase não se lembravam como é que era a vida deles antes do outro ter aparecido.

Arthur se levantou logo depois para ajudar, ao ouvir o amigo bater com a língua no céu da boca em sinal de desaprovação, revirando os olhos. Com uma risada, Arthur pôs duas caixas restantes debaixo do braço e se dirigiu ao quarto do outro, paralelo ao dele, encontrando o mais velho já arrumando o conteúdo das caixas, onde ele só pegava na caixa e colocava dentro do armário.

- Uai, você nem 'tá arrumando as coisas direito, parece que está pronto para se mudar daqui a dois dias de novo.

-Só acho que não vale a pena tirar tudo das caixas, se já está bem arrumado lá dentro, estou poupando tempo.

-Está é sendo preguiçoso, isso sim. - Ele riu, abanando a cabeça, ainda encarando o moreno, que encolheu os ombros como resposta, sem qualquer expressão no rosto.

-Enfim - Arthur bateu com a mão no batente da porta, se preparando para sair, já que o seu trabalho estava feito, vendo o mais velho praticamente se jogando na cama com uma revista de banda desenhada nas mãos. - Você não tem nada para fazer? Na base da Ordem, quer dizer.

-Nope. Você vai ver o treco da nova missão com o Senhor Veríssimo? - O seu tom soava desinteressado, claramente não queria dar continuação àquele tópico.

-Ééé... - Ele esfregou a parte de trás do pescoço com a mão. - É só meio chato, o senhor Veríssimo me puxa logo para essas coisas, parece que nem... - "nem dá tempo de lamentar e processar as pessoas que a gente perdeu.", quis Arthur dizer, mas deixou as palavras morrerem mesmo antes de saírem da sua boca, deixando prolongar o olhar na face do homem na sua frente, que parecia não estar olhando para nada em concreto.

-Enfim, - Repetiu ele, clareando a garganta. - Tenho que ir, eu depois te falo os detalhes. Ah! É verdade, a Ivete comprou gilete para você, tava faltando, 'tá no banheiro.

- Uhm. Eu acho que vou deixar ela crescer dessa vez, mano. - Respondeu ele, passando a mão pelo rosto, com um sorriso no canto da boca, trocando olhares um com o outro.