1

131 12 11
                                    


London Boy

Anthony J. Lockwood, Londres.

— Olha só quem está logo ali - George começa mais uma vez com sua implicância típica. Reviro os olhos enquanto passo os olhos pelo refeitório fazendo uma careta para a comida à minha frente.

— Não acredito que a gente paga para comer isso - reclamo ignorando seu comentário anterior de propósito, mas ele não deixa essa passar.

— Não adianta desviar do assunto, e sim, é horrível essa comida - ele levanta as sobrancelhas com movimentos que me irritam. Eu admito que tenho que me segurar para não olhar para ela, Lucy Carlyle, aluna do segundo ano de artes. E não, eu não pesquisei, não precisei porque George foi mais rápido assim que percebeu que eu às vezes o ignorava para olhar para outro lugar, ou melhor, outro alguém. Eu até admito que pensei em inventar algo para descobrir mais sobre ela através da curiosidade do George. — E você ainda não tem coragem de falar com ela, quem diria. Nem parece o nosso garoto confiante de sempre.

Reviro os olhos para o comentário e não o respondo enquanto deixo meus olhos vagarem para outro lugar.

E lá estava ela, Lucy Carlyle sentada mais a frente em uma mesa redonda como a nossa com justamente o idiota do Kipps, e Holly, que eu não tinha nada contra, até gostava dela. Eles riam de algo que Quill Kipps disse, como se esse idiota fosse engraçado.

— Nosso garoto mais uma vez olha apaixonado para a garota de artes - Flo Bones se junta a nós com sua bandeja. Ela se juntou ao George com suas implicâncias infantis, eu não estava apaixonado por ela, eu achava, que besteira. Eu nem a conhecia!

A primeira vez que eu a vi foi constrangedor, de certa forma para ambos. Ela era claramente uma aluna nova e não era de Londres, tinha sotaque do norte e eu sabia disso porque tinha jeito em detectar alguns sotaques e até imitá-los, embora alguns achassem que eu estava caçoando deles e isso me trouxesse alguns problemas.

Enfim, estava apresentando meu seminário para o professor, diversos alunos e professores ao fundo atentos para escutar o garoto prodígio, filho de dois pesquisadores renomados mortos e que possivelmente seria o próximo sucesso da família, o único da família que sobrou na verdade. Ela entra esbaforida com a mochila pendurada nos ombros e todos se viraram para ela imediatamente surpresos, eu incluso. Lucy abre a boca olhando para mim ao constatar que interrompia algo importante e logo desvia o olhar e percebe a plateia em volta que a encarava.

— Aqui não parece ser a aula de história da arte - ela comenta com um sorriso pequeno tentando não parecer tão envergonhada embora seu rosto esteja adoravelmente corado.

— Não é? - respondo com uma brincadeira, tentando também não deixá-la mais envergonhada abrindo um dos meus maiores sorrisos, logo depois ela começa a gaguejar vermelha pedindo desculpas fecha a porta rapidamente fazendo um baque enorme na sala quieta. Alguém solta um pigarro alto e eu percebo que estava olhando como um idiota para a porta.

— Acho que você assustou ela com esse seu sorriso, Lockwood - alguém que eu não me importei em saber comenta enquanto eu continuava tentando voltar ao raciocínio do meu trabalho e esquecer a garota.

Obviamente que Flo e George estavam lá, já que também faziam parte da mesma turma e curso e viram tudo e desde então começaram com suas piadas sobre nós, talvez porque parecia que eu sempre ficava procurando alguém pelo campus e os ignorava as vezes, sendo que nunca mais tivemos a chance de conversar ou de pelo menos nos cruzarmos pelo campus para meu descontentamento.

Volto ao presente e vejo que eles ainda me encaravam com sorrisos debochados e eu percebo que estava a encarando do outro lado da mesa. Parecia um stalker ou coisa pior.

London boyOnde histórias criam vida. Descubra agora