Capítulo Único

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A melodia leve e doce soava por entre as conversas animadas e risadas, certamente falsas, dos nobres presentes naquele salão de baile, um ambiente chique e recheado de adereços que indicava o quão rica era a senhora Magistrada, dona da mansão onde a festividade era realizada, e anfitriã desse mesmo evento.

Próximo a uma das paredes que deixava o salão isolado do resto da casa, um jovem loiro tentava simular uma risada verdadeira, enquanto conversava com duas senhoritas que usavam belos e extravagantes vestidos.

— Então ele disse que queria beber vinho tinto, enquanto comíamos salmão — comentou uma das mulheres, com seu cabelo castanho escuro, bem preso em um penteado adornado de enfeites, balançando enquanto gesticulava. Carina Leone era facilmente uma das mais ricas do baile.

— Que ultraje! — disse o loiro, dando mais uma risada falsa.

Nobres definitivamente tinham conversas extremamente irrelevantes, e isso ele podia afirmar com convicção, até porque era com esse tipo de pessoa que ele estava conversando a mais de meia hora.

O loiro segurava uma máscara na mão direita, apesar que o correto fosse estar utilizando ela. O galego se sentia mil vezes melhor com o seu rosto descoberto, ainda mais em meio a tantas pessoas bonitas, que podiam o querer e deixá-lo rico dessa noite para o dia seguinte.

— Nathaniel! — o galego, em meio a tanto barulho naquela sala lotada, ouviu o grito de um colega seu, Daniel Hartmann.

O membro ruivo da segurança tentava achar caminho dentre as saias rodadas presentes em sua frente, para chegar até Nathaniel.

Assim que saiu de um sufoco momentâneo, se curvou delicada e nervosamente para as duas nobres senhoritas.

— Daniel, meu amigo, respire, por favor — guiou Nathaniel, consideravelmente feliz pela aparição do homem à sua frente.

Talvez o dever lhe chamasse e, "infelizmente", tivesse que largar as jovens moças com quem conversava no salão.

— Tá, tá. Não temos tempo para isso, senhor bonitão — reclamou o mais baixo, fazendo Nathaniel sorrir pelo apelido designado a si. — Precisamos conversar… a sós — O ruivo lançou um olhar rápido para as moças, que claramente não ficaram felizes em ter que largá-lo de mão.

Com suas covinhas aparecendo em decorrência de seu sorriso de satisfação, Nathaniel se virou para ficar totalmente de frente com as mulheres.

— Eu agradeço imensamente pela companhia de vocês nessa bela noite, senhoritas, mas infelizmente terei de ir — em um manejo rápido, o galego curvou seu corpo graciosamente, em uma reverência, colocando sua mão direita em seu coração.

Ele definitivamente sabia como encantar as moças bem afortunadas.

— Mas e nossa dança, senhor LeBlanc? — perguntou a outra de cabelos loiros. Pelo pouco que conversou com ela, Nathaniel sentiu que Letícia Dean não era a pessoa mais fácil de lidar.

O loiro, indo a fundo em sua atuação, fez-se de aborrecido.

— Infelizmente não será possível, senhorita Dean. A não ser que estejas aqui quando resolver minhas pendências no trabalho.

— Bom, talvez eu possa esperar até que o senhor volte, mas eu não prometo nada — respondeu-o, levando o seu olhar desinteressado e arrogante para o lado.

Nathaniel sorriu preguiçoso. O desinteresse fajuto era perceptível, ele já estava fingindo variadas reações a tanto tempo naquele baile que nenhuma performance daquelas o convenceria tão facilmente.

— Tentarei voltar o mais rápido o possível — mais uma graciosa reverência veio da parte do loiro.

Retribuindo a cortesia do loiro, as moças deram um leve flexionamento de joelhos, ainda que a contragosto, e se afastaram em direção ao centro do salão.

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