Capítulo 10

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POV: Catarina

  Passar novamente pelo portão da fazenda me deixou emocionada. De todos os pensamentos que tive ao longo dessas semanas em que estivemos separados — o que prevalecia era a certeza de que eu nunca mais voltaria. Não por uma escolha minha, bom, não inteiramente minha.

  Estava escuro e pouco se via, o verde se tornou preto e tudo à minha volta se tornou intenso, os sons, os desejos, os medos... Duque caminhava de um jeito tranquilo, eu sentia a brisa do vento, sereno, intenso, verdadeiro.

  Petruchio parou a carroça próxima a entrada da casa, a fachada como sempre desgastada, as cores que eu mal identificava, tudo num misto de amor e saudade. O cheiro de terra molhada, o cheiro de casa, meu verdadeiro lar. Não precisei olhar para baixo para saber a intensidade da grama que eu iria encontrar. Nunca desejei deixar esse lugar.

  Pode parecer estranho, mas nunca cheguei a imaginar que um lugar tão distante fosse me fazer sorrir e festejar, que a companhia de alguém tão diferente me faria sentir muito mais do que eu mesma estava disposta a explicar. Que tudo à minha volta fosse realmente desmoronar e a pessoa que eu um dia fui, fosse se renovar, buscar palavras para descrever o que é amar.

  Amor — palavra essa que eu prometi nunca usar.

  Não notei a presença das lágrimas até Petruchio tocá-las e secá-las, seus olhos brilhavam quase tanto quanto a lua e agradeci por sua intensidade, por transbordar tanta verdade. Não dissemos nada, pois é um dos momentos em que palavras não são necessárias. Seriam apenas arbitrárias, escadas para uma linda causa, no caso, uma casa, a nossa casa.

  — Preparada pra voltar? Pra voltar pra casa?

  Sua voz, seu toque, a sensação de estar ali, pertencer e ser o que eu posso ser aqui, tudo isso me fez sorrir, chorar, rir e concordar. Não há outro lugar em que eu queira estar.

  — Ocê tá bem?

  — Eu pensei que nunca mais iria voltar. Eu pensei que... — mas ele não me deixou completar. Nossos lábios se encontraram e silenciaram toda dor que esses pensamentos poderiam nos causar. A forma doce que ele insistia em me tocar, me fez suspirar, prolongar, literalmente o agarrar.

  Sentados na carraça, o abracei da forma que dava, mesmo sentada, mesmo que ainda estivesse muito longe do que eu mesma planejava. Deixei que explorasse todos os cantos aos quais sentia saudade, permiti reconhecer e corresponder ao beijo mais intenso que chegamos a ter.

  Nada do que eu diga será capaz de descrever o quanto o seu beijo acalma e revigora o meu ser. O quanto meu corpo pulsa por lhe pertencer. O quanto faz sentido viver e respirar quando estou perto desse irritante ser.

  — Eu amo ocê — suspirou e eu precisei responder.

  Não com palavras — tão pequenas para a grandiosidade do ser, do que um toque é capaz de transcender — mas com um beijo, que expressou muito mais do que eu chegaria perto de dizer.

  — Vamos descer? — Sua voz rouca me deixou sem saber o que responder.

...

POV: Petruchio

  Por mais que eu não quisesse nos separar, pulei da carroça e me prontifiquei a lhe ajudar. Suas mãos delicadas se apoiaram em meu ombro enquanto minhas mãos se ocuparam e seguraram sua cintura. Em poucos segundos, seu corpo estava em frente meu lado, mesmo que ela fosse consideravelmente mais baixa, meus olhos ainda encaravam os seus.

  Eu sorri, porque nunca cheguei a sentir tanto alívio por tê-la aqui. Não me lembro de uma vinda tão feliz.

  Nossas mãos se encontraram e nossos dedos se enlaçaram. Eu senti falta, não só do toque dos seus lábios, mas dos seus dedos gelados, da sua mão delicada, do toque não hesitante... dos olhares, dos instantes. Caminhamos juntos até a porta da casa, silenciosa, quase solitária.

Além da Verdade e da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora