O Motivo

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12/03/2003. A data em que uma das piores coisas da minha vida aconteceu.
Minha mãe, infelizmente faleceu enquanto estava tendo meu parto. Me culpo muito por isso.

23/06/2015. Foi quando perdi tudo. Insisti tanto para que meu pai e minha tia levassem eu e minha irmã num parque de diversões que ele levou. Porém, na volta, o carro onde estávamos se chocou contra um caminhão. Isso fez com que minha culpa aumentasse.

Minha vida passou a mudar a partir dali. Vim morar com meu tio, que eu jurava de pé junto ser legal.

Na verdade ele é um covarde. Me espanca, me estupra, me abusa fisicamente e mentalmente. Porém, se não for ele, eu não teria sustento e ninguém iria querer alguém como eu.

Atualmente fui diagnosticada com depressão e ansiedade. Meu tio jura que é frescura e que logo passará.

Agora 05:50 da manhã, acordo com o despertador. Tento me levantar, mas a dor em minha no meio das minhas pernas atrapalha e muito.

Me esforcei bastante mas consegui chegar ao espelho. Decidi não ir para a faculdade, por conta da minha dor e por conta das marcas vermelhas e roxas em meu pescoço, braço, perna, rosto, mãos, pés, costas e barriga.

Pelo silêncio na casa, meu tio já deve ter ido trabalhar.

Me esforcei mais um pouco, só até chegar só banheiro e ligar a banheira. Só queria um banho quente para esquecer o que ele me fez na noite passada.

Após o banho, tomei um remédio para dor e fui tomar meu café. Decidi ir à faculdade. Prefiro passar 6 horas lá, do que ter que aturar meu tio chegar bêbado e querer me bater ou estuprar outra vez.

O remédio realmente tirou toda a minha dor. Consegui caminhar até a faculdade sem dor alguma

Chequei o relógio. 06:58. Demorei tanto assim me arrumando?

Agora estamos na segunda aula, a aula é geografia, não gosto dela. Ela as vezes sai falando sem pensar ou muito menos conhecer.

- Então alunos como eu disse na aula passada... - Tudo o que eu mais queria era sair da aula dela. O jeito como ela gritava com os alunos me assustava

Comecei a suar frio, minhas mãos trêmulas, respiração desregulada. Crise de ansiedade. Estou tendo uma crise de ansiedade na escola e na aula da pior professora de toda a faculdade

Levantei minha mão para pedi-la para ir ao banheiro

- Diga Heloà - A professora disse olhando fixamente para mim

- Posso ir ao banheiro - Fiz o máximo possível para que ninguém notasse minha voz trêmula

- Vá - Ela permitiu e voltou a explicar a matéria

Agora me vejo perdida em meio às lágrimas e à imensa vontade de pegar qualquer objeto pontiagudo que eu veja pela frente e me mutilar.

Já devo estar aqui à uns dez minutos

- HELOÀ SE ESTIVER AQUI QUERO QUE SAIA IMEDIATAMENTE - Ouvi um grito. Era a professora de geografia.

Sai da cabine em que estava, e devagar fui até a pia lavar meu rosto, fazendo o minino de barulho possível

- Vê se tomar vergonha menina, matando aula no banheiro - Ela comentou e minha vontade de me mutilar só aumentou

- Desculpa - Pedi, enquanto sentia uma imensa vontade de entrar naquele banheiro e soltar todas às lágrimas que eu estava segurando

- Da próxima vez mando chamar seu responsável. Já é a quinta vez só essa semana - Ela disse enquanto eu me sentava em minha cadeira

Já se passaram exatamente seis horas lá dentro, e fomos liberados. Não queria ir embora. Eu sabia que se eu fosse veria meu tio. Ele obviamente iria querer me bater, me estuprar ou sabe lá Deus o que for.

Mas de qualquer forma teria que ir. Ele já me esperava no portão da escola.

- Oi tio - Disse desanimada. Ele não falou nada comigo, apenas fomos para o carro

Assim que eu fechei a porta do carro ele começou a alisar minha coxa ainda coberta pela calça.

- Deveria vir de saia e sem calcinha. - Meu tio disse e colocou a mão dentro da minha calça enquanto seguia para fora da faculdade.

Naquela hora, queria chorar, gritar, espernear. Só queria que ele parasse com aquilo

- Você continua se cortando? - Ele perguntou assim que tirou minha blusa, me deixando apenas de sutiã. - Já falei que assim não vai chegar a canto nenhum.

- Uhum - Eu só consegui dizer aquilo. Estava tentando controlar a crise de ansiedade

Entre Mil Motivos Para Morrer, Meu Único Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora