Hoje me debrucei na janela. Senti o ar acertando meu rosto. Ar frio. Ar cortante. A visão do viaduto era panorâmica. Carros e pessoas transitavam incessantemente. Será que eu poderia voar até lá? Me inserir em meio aos carros e adentrar na multidão...
Coloquei as mãos no beiral da janela. Estavam ásperos. Segurei firme do alto dos 22 andares do edifício. Tão alto que o escuro me olhava lá do fundo. Suspirei. Coloquei os joelhos na janela, o próximo passo seriam os pés, depois a parte de trás das coxas. Em um leve empurrão estaria voando rumo à Santa Tereza.
Mas parei. A dor no fundo não parava, só aumentava com a aventura na janela larga do quarto de dormir. Sorri. Genuinamente sorri. Não era a hora. Mas é fácil. Certamente um dia poderei me aventurar pelo fio da janela.